(foto: DPDx/CDC)
Durante anos, muitos pesquisadores acusaram o homem branco de transmitir diversas doenças aos índios. Mas um estudo realizado pelo Laboratório de Toxoplasmose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fiocruz, mostra que algumas tribos indígenas ainda isoladas apresentam mais indícios do que os brancos de toxoplasmose, doença que se caracteriza por aumento dos gânglios linfáticos (ínguas), dores musculares e febre baixa – podendo ser confundida com a gripe –, e, na maioria dos casos, provoca sintomas leves, que desaparecem sem tratamento.
A pesquisa analisou amostras sangüíneas de índios pertencentes a três tribos com diferentes níveis de contato com populações não-indígenas. A primeira, a Tiriyó, localizada no Pará, apresenta maior infra-estrutura, semelhante a uma cidade do interior. A Waiãpi, no Amapá, tem contato freqüente com outras populações. Por último, a Enawenê-nawê, no Mato Grosso, é considerada a mais isolada da cultura não indígena.
“Para nossa surpresa, a tribo Enawenê-nawê apresentou maior porcentagem de índios com anticorpos contra o protozoário Toxoplasma gondii , causador da doença”, diz a parasitologista Maria Regina Reis Amendoeira, chefe do Laboratório de Toxoplasmose do IOC. Nas tribos Tiriyó e Waiãpi, o número de indivíduos infectados é de 55,6% e 59,6%, respectivamente, ocorrência semelhante à da cidade do Rio de Janeiro. Já entre os Enawenê-nawê, a infecção atinge 80,4%.
Segundo Amendoeira, esse índice pode ser justificado pelo costume da tribo de consumir cogumelos (fungos) retirados de lugares úmidos, onde é grande a freqüência de felinos silvestres, que eliminam uma forma resistente do parasita através das fezes, contaminando o ambiente. Além disso, o consumo de água e alimentos contaminados pelo T. gondii , que também pode ser carregado nas patas de insetos, contribui para a infecção dos Enawenê-nawê.
“O estudo sugere que esses costumes indígenas facilitam a alta contaminação, principalmente entre os homens, que realizam a coleta de fungos”, afirma a pesquisadora. “Entretanto, apenas 10% dos infectados desenvolvem a doença, o que não representa uma situação grave”, completa.
Redação