A judoca Natasha Ferreira, que disputará os Jogos Olímpicos de Paris, mostra como sua rotina é influenciada por diferentes áreas do conhecimento
A judoca Natasha Ferreira, que disputará os Jogos Olímpicos de Paris, mostra como sua rotina é influenciada por diferentes áreas do conhecimento
Natasha Ferreira: rotina sob controle para disputar a Olimpíada de Paris
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO / THE FIGHTERS OFFICE (TFO)
Uma vida em que cada movimento é calculado, cada refeição é planejada e cada noite de sono é um ritual de recuperação. Essa é a rotina dos atletas de alto rendimento como os mais de 10 mil que estão competindo nos Jogos Olímpicos de Paris, entre julho e agosto deste ano.
Na Olimpíada de 2024, 48 modalidades estão em disputa e, lógico, há muitas diferenças entre a preparação de quem compete na ginástica artística e no levantamento de peso, por exemplo. Mas todos os atletas, independentemente do esporte, têm algo em comum: o planejamento e a disciplina tomam cada uma das 24 horas dos seus dias.
Para mostrar esse lado nem tão conhecido da vida esportiva, acompanhamos a judoca Natasha Ferreira, uma das representantes do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris:
“Acordo, tomo café, faço preparação física, almoço no clube e faço fisioterapia. Depois, descanso e vou para o segundo treino do dia, que é técnico. À noite, treino luta, que é mais intenso. Entre os treinos, faço refeições e suplementação. É basicamente isso: treinar, descansar e treinar de novo”, conta a judoca que compete na categoria até 48kg.
Esse relato pode parecer uma lista simples, mas o “básico” da vida de Natasha envolve muitos detalhes e uma integração meticulosa de ciência e prática. O sucesso não é apenas uma questão de aptidão ou de esforço físico. A aplicação da ciência está consolidada no dia a dia desses profissionais e é crucial para otimizar a performance. Entender as respostas fisiológicas e biomecânicas ao exercício é crucial para evitar lesões e maximizar o rendimento.
Especialista em ciência do desporto e professor da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Guilherme Tucher conta em detalhes como diversas áreas de conhecimento influenciam no desempenho esportivo.
“A ciência pode auxiliar de diversas maneiras, mas vou destacar alguns pontos. O exercício proposto como tarefa de melhorar o desempenho causa diversas alterações biomecânicas e fisiológicas agudas e crônicas. Conhecê-las é uma importante estratégia para a melhor oferta dos exercícios de treinamento, controle da recuperação e adaptação ao treinamento. Cargas de treinamento muito fracas não levam a adaptações positivas. Cargas demasiadamente intensas podem levar ao excesso de treinamento. Todo esse controle pode ser feito por meio de ferramentas subjetivas, como questionários e percepção ao esforço ou recuperação, e objetivas, como análise sanguínea,” explicou
Por trás do relato de Natasha sobre sua rotina, há, portanto, um planejamento minucioso que é obrigatório para o sucesso de qualquer atleta de alto rendimento. Compreender alterações no corpo do atleta é essencial para personalizar a preparação e garantir que os esportistas estejam com a saúde protegida e tenham o melhor desempenho possível.
“Eu durmo entre 8 e 9 horas por dia e faço de quatro a cinco refeições. Conto com uma equipe de profissionais que inclui preparador físico, nutricionista, técnico, fisioterapeuta e médico”, detalha a judoca.
A alimentação de um atleta merece atenção especial. Principalmente às vésperas de competições, os gramas de carboidrato, proteínas e outros nutrientes (fora o cuidado com as gorduras) são pesados com precisão. Há outro detalhe: além de quanto e o que comer, também é muito importante saber quando comer. A hidratação também desempenha um papel crucial. Em atividades físicas intensas, é recomendado repor a perda de peso com 1,5 litro de água por quilo perdido.
A nutricionista Ludmila Andrade, com especialização em nutrição esportiva, explica o que é uma boa alimentação para um atleta:
“A principal diferença entre um atleta e um não atleta é a demanda energética aumentada. Atletas gastam mais energia com o exercício, o que exige uma ingestão calórica maior. Os macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) são essenciais para fornecer essa energia. Os carboidratos são a principal fonte de energia rápida, ajudando a formar reservas musculares. As proteínas são fundamentais para a construção e recuperação muscular, enquanto as gorduras são importantes para funções hormonais e exercícios de longa duração”, explica Ludmila.
Apesar dos muitos momentos de rigidez da dieta, Natasha conta que a rotina de atividades físicas intensas dá espaço para alguns agrados:
“Eu tenho um acompanhamento nutricional que não é tão restrito, pois minha intensidade de treino é alta. Preciso comer bastante carboidrato para evitar lesões e suportar os treinos. Apenas duas semanas antes da competição sigo uma dieta restritiva para perder peso, pesando a comida e mantendo uma alimentação nutritiva. Fora desse período, posso até comer uma pizza ocasionalmente (risos)”, brinca a judoca.
Um dia na vida de Natasha é a prova de que o sucesso na carreira esportiva vai muito além do talento inato ou predisposição genética. Esses fatores também entram na equação, mas não são mais importantes do que o conhecimento, o planejamento e a disciplina para desenvolver o corpo à máxima capacidade. O equilíbrio entre treino, alimentação e descanso é a chave para o sucesso no esporte de elite. Três pilares com papel fundamental da ciência.
Natasha com outros judocas e equipe técnica da seleção brasileira de judô, incluindo os medalhistas Larissa Pimenta e William Lima.
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO / CBJ
CIÊNCIA HOJE: A ciência e a tecnologia podem diminuir a distância entre os atletas que apresentam o chamado ‘talento inato’ e os demais?
GUILHERME TUCHER: A ideia do talento inato (entre os jovens) tem uma visão completamente diferente nos dias atuais. Graças à ciência, hoje se sabe que os atletas considerados como talentosos apresentam, na verdade, um desenvolvimento e uma maturação precoces. Essa diferença de desenvolvimento e de maturação faz com que o desempenho entre os chamados ‘precoces’ e ‘normais’ e ‘atrasados’ seja muito grande na infância e na juventude. Na idade adulta, as diferenças de maturação tendem a diminuir, e é comum vermos casos de atletas que nunca estiveram bem classificados surgirem ‘do nada’ e alcançarem resultados expressivos a nível mundial.
CH: É possível prever quais atletas vão apresentar essa maturação e esse desenvolvimento precoce?
GT: Existem equações de predição do nível de desenvolvimento que levam em consideração a estatura ou a estatura do atleta sentado, por exemplo. Essa é uma maneira fácil de o treinador classificar os seus atletas e oferecer estímulos de treinamento que sejam adequados para desenvolvê-los. A estatura da pessoa é uma das variáveis genéticas que mais influenciam no desempenho – e não genes secretos que algumas pessoas pensam existir.
CH: O que dizer aos atletas que não se destacam prematuramente?
GT: Para os atletas considerados ‘menos talentosos’, minhas considerações são que o desempenho esportivo é fruto do desenvolvimento de capacidades motoras e físicas específicas (não das inatas). Assim, a melhor maneira de alcançar a excelência é por meio de um treinamento de qualidade. Se o foco é no desempenho esportivo, procure uma modalidade que seja compatível com a sua estatura.
De qualquer maneira, pensando no desenvolvimento esportivo de jovens e na atividade física voltada para a saúde, procure uma atividade física que dê prazer. Esporte de participação é diferente de esporte de rendimento. O esporte na infância e na juventude deve ter finalidade de formação, não de rendimento.
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LUCAS GABRIEL PEREIRA MENDES
Excelente rotina da Judoca, desejo que ela pegue uma medalha para o Brasil??
Luydi
Gostei dessa matéria pois ela retrata como é uma rotina de um atleta profissional e como eles conseguem entrar nas competições em alto nível