Comunidades tradicionais da Amazônia recebem benefícios limitados quando negociam o uso de suas florestas com empresas madeireiras ou mesmo quando se engajam em projetos de manejo florestal comunitário desenvolvidos por organizações de apoio. As relações paternalistas com estes agentes externos inibem o surgimento de sistemas de manejo florestal desenvolvidos pelas próprias comunidades. Sistemas próprios de manejo poderão surgir quando as comunidades estabelecerem relações de autonomia com agentes externos.
A equação parece simples: as comunidades da Amazônia têm grandes áreas de floresta com madeira de alto valor; nas áreas de fronteira há um mercado madeireiro crescente; logo, é grande o potencial para o desenvolvimento local com base no aproveitamento comercial madeireiro das florestas pelas comunidades.
Hoje, para transformar esse potencial em realidade, existem dois cenários principais: o primeiro são as parcerias com empresas madeireiras, que ofereçam uma fonte de renda para as comunidades, além de serviços como melhorias das estradas, saúde e educação. O outro é o manejo florestal comunitário, com a ajuda de organizações de apoio como ONGs e agências de governo, para que as comunidades locais explorem a madeira de forma sustentável por conta própria.
Embora esses cenários sejam tacitamente assumidos como as principais alternativas para o desenvolvimento rural na Amazônia nas políticas atuais, pouco se conhece sobre os benefícios verdadeiros que oferecem às comunidades e sobre as implicações das práticas de manejo adotadas.
Para contribuir para um melhor entendimento sobre esses aspectos, este artigo apresenta os resultados de estudo, realizado no âmbito de um projeto internacional de pesquisa, o Projeto ForLive , sobre a viabilidade de diferentes opções de uso de florestas por comunidades da Amazônia.
O estudo envolveu comunidades nas fronteiras da Amazônia brasileira (nos estados do Pará e Acre), boliviana (no departamento de Beni) e peruana (no departamento de Ucayali). Todas são comunidades tradicionais indígenas ou caboclas (descendentes de indígenas e brancos) que vivem há décadas em áreas relativamente remotas e com grandes extensões de floresta. Em cada país foi escolhida uma área de estudo onde o mercado para madeira é crescente e foram selecionadas duas comunidades como estudo de caso: uma que negocia com madeireiros e outra apoiada por organizações de apoio para fazer manejo florestal comunitário.
Cada comunidade foi visitada três ou quatro vezes entre 2005 e 2007 e as famílias foram entrevistadas sobre as relações com madeireiros e organizações de apoio. As práticas de manejo florestal foram caracterizadas em visitas às áreas de floresta exploradas. Também foram ouvidos integrantes das empresas e organizações de apoio sobre as relações com as comunidades.
Gabriel Medina e
Benno Pokorny
Universidade de Freiburg (Alemanha)
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