Pergunta enviada por Patrícia Cintra, por correio eletrônico.
Essa é uma questão ainda em estudo e que depende muito do tipo da vacina, pois cada uma induz uma resposta imune específica. Para a vacina de febre amarela, por exemplo, a recomendação atual é que uma nova dose deve ser tomada a cada 10 anos para garantir a imunização. Mas ainda existem muitos estudos sendo feitos para avaliar esse limite; pode ser que 10 anos seja o limite, mas pode ser também que uma dose seja suficiente para a vida toda.
O conteúdo (quantidade de antígeno) e o número de doses, assim como a duração da imunidade de uma vacina são parâmetros estudados e definidos nas fases clínicas do processo de desenvolvimento tecnológico. Mas a avaliação de duração da imunidade de uma vacina normalmente só é definida após um longo tempo de uso.
O esquema de vacinação também tem a ver com a epidemiologia da doença. Algumas doenças incidem sobre uma faixa etária específica e faz mais sentido, em termos de saúde pública, aplicar a vacina somente para essa faixa, uma vez que a doença não tem tanto impacto fora desse grupo. Ainda assim, a questão é discutida.
O sarampo, por exemplo, é uma doença que acomete mais as crianças, mas existem trabalhos em andamento para verificar se a vacina tomada apenas na infância protege para sempre ou se depois de 18 anos ela perde a ação e o jovem fica suscetível.
Além disso, é importante ressaltar que, em alguns casos, a vacina protege contra a doença e não contra a infecção. Então pode acontecer de um vírus estar circulando entre uma população e uma pessoa que já foi vacinada ter contato com a infecção.
Seu sistema imune é estimulado e ela pode voltar a ter imunidade, como um reforço natural. Portanto, é difícil saber se a imunidade foi conseguida por ação da vacinação ou por uma resposta posterior do sistema imune.
A memória imunológica é um tema ainda em estudo para várias vacinas, tanto para as antigas, como a de febre amarela, quanto para as novas, como a de HPV. Com novas técnicas de avaliação de respostas imunológicas, os pesquisadores podem estimar a indução de memória do sistema imune que varia de acordo com a vacina.
Mas é importante salientar que nem todas as vacinas têm a mesma abordagem. Existem vacinas que provocam uma ação do sistema imune criando uma memória contra o invasor, de modo que, depois de vacinada, se a pessoa tiver contato novamente com a infecção, o sistema de defesa é ativado. Mas nem todas as vacinas são assim. Cada caso é individual e, por isso, mesmo mais de 200 anos depois da invenção da primeira vacina ainda temos que estudar a resposta imune das vacinas que estão aí.
Marcos Freire
Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos (vice-diretor)
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Texto originalmente publicado na CH 307 (setembro de 2013).