O gigantesco e promissor mundo do muito pequeno

Em 2001, pesquisadores da empresa norte-americana IBM conseguiram posicionar átomos de cobalto (azul) em uma superfície de cobre (vermelha), formando uma espécie de ‘curral quântico’ elíptico, com cerca de 20 nm de largura. Essa ‘cerca’ atua como refletor dos elétrons superficiais do cobre, confinando as ondas eletrônicas, que passam a emergir apenas nos focos da elipse. A tecnologia atual ainda é incipiente para explorar esse fenômeno para fins práticos. Foto: D. Eigler Etal / IBM (2001).

Nunca o tão pequeno se tornou tão grande. De fato, conforme vislumbrado, quase meio século atrás, pelo físico norte-americano Richard Feynman (1918-1988), em sua palestra de título inusitado – ‘Há muito mais espaço lá embaixo’ –, o impacto da nanociência e da nanotecnologia nos setores acadêmico, empresarial e na própria sociedade já é bastante marcante – para alguns, ele será maior que o causado por outras revoluções tecnológicas, como a agricultura, a indústria e a microeletrônica.
 
Neste artigo, são apresentadas algumas das perspectivas que estão se abrindo com essa grande onda inovadora e como elas se juntam ao reconhecimento dos importantes avanços científicos que estão tendo destaque neste Ano Mundial da Física.
 
Nano – que significa ‘anão’, em grego – é o prefixo usado na notação científica para expressar um bilionésimo (10 -9 ).  Um nanômetro (nm), por exemplo, equivale a 10 -9 m, ou seja, um bilionésimo de metro. Nessa escala de tamanho, um minúsculo vírus, invisível a olho nu, se apresenta como uma incrível entidade com cerca de 200 nm. Apesar da dimensão ínfima, ele camufla, na realidade, uma complexa máquina molecular aparelhada com todos os dispositivos para invadir as células de organismos superiores e utilizá-las em sua reprodução, proporcionando um exemplo típico de tecnologia nanométrica colocada em prática pela natureza.
 
É justamente para essa escala que estão convergindo atualmente os processos de miniaturização na eletrônica, conferindo crescente funcionalidade, desempenho e portabilidade aos aparelhos modernos. Em 1965, o norte-americano Gordon Moore, co-fundador da empresa norte-americana de microprocessadores Intel, previu que a capacidade de integração na eletrônica – ou seja, colocar vários componentes eletrônicos em uma determinada área – duplicaria a cada ano. Os atuais processadores já incorporam dezenas de milhões de dispositivos integrados, de dimensões submicrométricas.
 
Estamos, portanto, na era nano ou da nanotecnologia. Entretanto, paradoxalmente, mantido o atual ritmo de evolução, o processo de miniaturização na eletrônica à base de silício (elemento químico mais usado na fabricação de microprocessadores e chips) poderá chegar ao seu limite em menos de uma década, barrado por problemas que surgem quando se trabalha com a matéria sólida em dimensões atômicas e moleculares.
 
A lei de Moore, como ficou conhecida essa relação empírica sobre a capacidade de integração na eletrônica, perderá, então, seu sentido, mas a evolução não será interrompida. Com o crescimento da nanotecnologia molecular – na direção contrária à da miniaturização –, os nanossistemas e os dispositivos passarão a ser montados a partir de átomos e moléculas. […] Por sinal, vale dizer que, até o início do século passado, em uma época em que a quantização e a natureza da matéria ainda eram assuntos controversos, as idéias contidas em dois artigos de 1905 do físico alemão Albert Einstein (1879-1955) e que seriam confirmadas experimentalmente anos depois eliminariam as dúvidas sobre o comportamento dos elétrons nos átomos e nas moléculas sob ação da luz (efeito fotoelétrico) e a existência dessas espécies como partículas livres, responsáveis pelo movimento browniano.
 

 Assim, extrapolando a prospecção sobre nanotecnologia feita, ainda em 1994, nesta revista (ver ‘Dispositivos eletrônicos em escala atômica’ em Ciência Hoje n o 106), veremos, nas próximas décadas, o surgimento de uma nova eletrônica e das máquinas moleculares. Poderá ser, portanto, a era da nanotecnologia molecular, na qual o homem estará projetando e construindo nanomáquinas tendo como exemplo a própria natureza, dona de tecnologias nanométricas aperfeiçoadas ao longo de bilhões de anos.

Henrique E. Toma e Koiti Araki
Laboratório de Química Supramolecular e Nanotecnologia,
Instituto de Química,
Universidade de São Paulo.

 

Outros conteúdos desta edição

Outros conteúdos nesta categoria

614_256 att-22975
614_256 att-22985
614_256 att-22993
614_256 att-22995
614_256 att-22987
614_256 att-22991
614_256 att-22989
614_256 att-22999
614_256 att-22983
614_256 att-22997
614_256 att-22963
614_256 att-22937
614_256 att-22931
614_256 att-22965
614_256 att-23039