Os insetos são excelentes químicos. Eles desenvolveram a capacidade de se comunicar por meio dos chamados feromônios, termo que indica uma única substância ou uma mistura delas.
Os feromônios são usados pelos insetos para se defenderem, encontrarem os parceiros ou acharem comida. Essa comunicação é feita sempre entre indivíduos da mesma espécie. Por exemplo, o feromônio liberado por uma mariposa fêmea para atrair seu parceiro para o acasalamento não atrai um inseto de outra espécie.
Há cerca de 50 anos, os químicos e os entomólogos estudam os sistemas de defesa e comunicação dos insetos e, hoje, usam esses conhecimentos para o controle de pragas da agricultura, porque estas estão cada vez mais resistentes aos inseticidas sintéticos. E ainda porque esses inseticidas, além dos danos causados ao meio ambiente, são prejudiciais aos mamíferos – em especial, aos humanos. Só no Brasil, insetos-praga são responsáveis pela perda, por ano, de mais de 20 milhões de toneladas de alimentos e pela intoxicação de muitos agricultores.
Bombicol, o primeiro deles
Para obter feromônios e determinar sua estrutura química, o primeiro passo é a coleta e o isolamento dos insetos. Por exemplo, de 500 mil fêmeas da mariposa produtora da seda (Bombyx mori), os químicos isolavam 1 miligrama de bombicol – mal se pode ver uma quantidade assim de uma substância, pois ela é menor do que um grão de sal grosso.
O bombicol foi o primeiro feromônio descrito na literatura. Foi isolado em 1959, do bicho-da-seda, ou seja, da lagarta da mariposa Bombyx mori. Hoje, com os avanços dos equipamentos e das técnicas de separação de compostos orgânicos, não é mais necessário coletar tantos insetos assim – bastam poucos para isolar e identificar os feromônios.
No caso de feromônios femininos de atração sexual, as substâncias isoladas são postas em armadilhas. Se os machos forem atraídos, os químicos iniciam o trabalho para determinar a composição química do feromônio.
O fato de os feromônios serem, em geral, misturas de compostos voláteis obriga os químicos a usar técnicas sofisticadas – no caso, cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas. Quase sempre – graças aos bancos de dados que acompanham tais equipamentos –, é possível saber quais são os compostos presentes na mistura.
Se essa técnica não for suficiente para determinar a estrutura química, os compostos são, então, separados por cromatografia, e suas estruturas são estabelecidas por técnicas mais sofisticadas, como ressonância magnética nuclear ou por difração de raios X.
Conhecidas as estruturas químicas dos compostos, os químicos passam, então, a fabricá-los (sintetizá-los) em laboratório. No caso dos feromônios usados pelos insetos para atração sexual, é feita uma formulação para que estes sejam liberados lentamente e por longos períodos, para evitar o acasalamento dos insetos-praga adultos, pois estes são atraídos para o interior de armadilhas contendo feromônios e lá permanecem presos, ou para auxiliar a tomada de decisão para a aplicação de inseticida.
No Brasil, há pequenas empresas – em sua maioria, oriundas de pesquisas universitárias – que comercializam feromônios sintéticos para o controle de pragas de frutos cítricos, maçã, manga, pêssego, batata, tomate, algodão, café etc.
Quanto mais os cientistas souberem sobre o comportamento dos insetos, mais fácil será controlá-los. Entretanto, só o tempo dirá se os feromônios serão os pesticidas do futuro. Em um exercício de imaginação, podemos visualizar formigas seguindo, uma atrás da outra, para um incinerador onde foi colocado o feromônio de trilha, usado por elas para marcar o caminho até o formigueiro.
Os feromônios não estão limitados aos insetos. São usados para comunicação em todo o reino animal. Mamíferos, por exemplo, os produzem, mas a evolução tirou dos humanos essa sensibilidade olfativa. Conhecer a fundo os feromônios é dever da ciência.
Angelo Cunha Pinto
Instituto de Química
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Texto originalmente publicado na CH 321 (dezembro de 2014). Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista.