O veneno de um filhote de serpente peçonhenta é mais tóxico aos humanos do que o de uma serpente adulta?

Laboratório de Ecologia e Evolução
Instituto Butantan

Figura 1. Adulto de jararaca (Bothrops jararaca) comendo um rato, seu principal alimento

CRÉDITO: IVAN SAZIMA

Filhotes e adultos de serpentes podem explorar ambientes diferentes e, consequentemente, comerem presas distintas. Além disso, com frequência, o elevado tamanho de certas presas usadas pelas serpentes adultas, representa um obstáculo ou impedimento para sua ingestão por parte dos filhotes. Por tais motivos, muitas serpentes mudam de alimentação ao longo de suas vidas. 

Entre as serpentes peçonhentas que ocorrem no Brasil, essa mudança na dieta é verificada entre a maioria das espécies de jararacas, pertencentes ao gênero Bothrops. Os adultos alimentam-se predominantemente de pequenos mamíferos, que são presas volumosas e que fornecem bastante energia. Por outro lado, os filhotes, que costumam ter pouco mais de 20 cm de comprimento, capturam, sobretudo, anfíbios anuros e pequenos lagartos.

Figura 2. Filhote de jararaca (Bothrops jararaca) ingerindo um anfíbio anuro, a principal presa nessa fase de vida

CRÉDITO: IVAN SAZIMA

Vários estudos que avaliaram o perfil do veneno de adultos e filhotes de jararacas encontraram diferenças marcantes em seus componentes e em sua ação biológica. Em alguns desses estudos, os pesquisadores extraíram o veneno de adultos de jararacas e o injetaram em ratos e em rãs, e repetiram o procedimento utilizando o veneno dos filhotes. Os resultados mostraram que o veneno dos adultos é mais efetivo para subjugar os roedores, ao passo que o dos filhotes apresenta maior eficiência em matar as rãs. 

No caso de picadas de jararacas em seres humanos, o que se verifica é uma marcada diferença nos sintomas apresentados pelos pacientes. O veneno de jararacas adultas apresenta ação inflamatória mais intensa, com inchaço, dor e formação de bolhas, e o dos filhotes interfere mais intensamente no sistema de coagulação sanguínea, ocasionando hemorragias. 

Assim, no caso das jararacas, não podemos dizer que o veneno dos filhotes seja mais tóxico, mas sim que age de forma diferenciada da dos adultos.

ANDRADE, D. V. & ABE, A. S. (1999). Relationship of venom ontogeny and diet in Bothrops. Herpetologica, 200-204.

MARQUES, O. A. V. &  MEDEIROS, C. R. (2024). Nossas incríveis serpentes: caracterização, biologia, acidentes e conservação. 2. ed. Editora Ponto A.

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