Da pesquisa à divulgação, por uma IA responsável

Jornalista, especial para a Ciência Hoje

Pioneira em aprendizado de máquina no Brasil e uma das cientistas mais influentes do mundo na área, Teresa Ludermir investe em agenda que esclarece e desfaz mitos sobre a inteligência artificial

CRÉDITO: MARCOS ANDRÉ PINTO / DIVULGAÇÃO ABC

Muito antes de a inteligência artificial virar a febre mundial atual, a professora Teresa Ludermir, pesquisadora do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), já mergulhava no universo e nos desafios dessa tecnologia. Com estudos dedicados ao tema há 40 anos, ela é pioneira na área de aprendizado de máquina no Brasil. Recentemente, somou à pesquisa uma agenda intensa de divulgação científica. A popularização da inteligência artificial, brinca, acabou adiando seus planos de aposentadoria. Mas a sociedade ganhou uma aliada de peso para ajudar a esclarecer o que está por trás da IA e a desfazer os mitos associados a ela. 

Em setembro deste ano, Teresa e outros três pesquisadores do Centro de Informática da UFPE apareceram na lista dos cientistas mais influentes do mundo. Elaborada pela editora Elsevier em parceria com a Universidade de Stanford, o reconhecimento se baseia no impacto global de pesquisadores por meio de citações recebidas ao longo do ano anterior. 

“Brinco que o volume de trabalho atual atrapalhou minha aposentadoria, mas é interessante ver que colegas de longa data finalmente entendem o que me fez trabalhar tanto durante anos”, diz a pesquisadora, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “Antes desse grande sucesso da IA, chamávamos essa área de inteligência computacional ou de redes neurais. Muita gente não entendia. Ainda há muito desconhecimento, mas é gratificante ver que barreiras antes existentes, como falta de recursos computacionais e de dados, vão sendo parcialmente sanadas”.

As redes neurais são métodos de inteligência artificial que permitem que computadores aprendam a processar dados com base na estrutura e no funcionamento do cérebro humano. Ao longo de anos de pesquisa, Teresa desenvolveu uma série de modelos de redes neurais que seguem relevantes para entender a nova era da tecnologia. A pesquisadora destaca aplicações importantes da IA hoje, como auxiliar no avanço da ciência, em áreas para além da computação. Mas lamenta o uso maldoso por vezes também feito dela, razão para decidir não sair da cena acadêmica agora. 

“A inteligência artificial ajuda a resolver muita coisa, mas precisa ser usada com responsabilidade e sabedoria. Da área de dados à medicina, a resposta da IA não pode ser tomada como verdade absoluta. Uma curadoria humana é necessária”, diz a pesquisadora, que conversou com a CH depois de um dos vários eventos de que têm participado nos últimos anos, desta vez sobre a agenda nacional para formação na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) sobre o uso de inteligência artificial na área de dados. 

Algumas semanas antes, em Brasília, o assunto foi o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), cuja versão final foi publicada em junho deste ano. A iniciativa, coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), fornece orientações para o desenvolvimento da IA no país, com previsão de investimentos de até R$ 23 bilhões em quatro anos. 

“A cada debate, congresso, painel ou mesa-redonda, é um tópico diferente da IA. E não me nego a participar, pois esse esclarecimento é imprescindível. Poderia trabalhar em projetos com empresas e ganhar muito dinheiro, como alguns colegas muito bons em IA têm feito, mas escolhi outro caminho. Há quase três anos, o que mais faço é essa ‘política científica’”, conta. 

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