O uso de produtos audiovisuais e das redes sociais para lançar luz sobre as expressões religiosas e culturais de matriz africana é um importante caminho para incentivar debates e enfrentar o racismo
O uso de produtos audiovisuais e das redes sociais para lançar luz sobre as expressões religiosas e culturais de matriz africana é um importante caminho para incentivar debates e enfrentar o racismo
CRÉDITO: IMAGENS DIVULGAÇÃO
O clipe de ‘Aceita’, música do novo álbum da cantora Anitta, ‘Funk Generation’, traz cenas
do candomblé, religião negro-africana que a artista segue há muitos anos
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Já faz parte da cultura pop, por meio de músicas, filmes, séries etc., a presença frequente de questões sociais relevantes, como igualdade de gênero, diversidade racial e direitos LGBTQIA+. Muitas ideias, perspectivas e debates importantes têm sido levantados por artistas, alcançando um público amplo e promovendo uma conexão entre diferentes pessoas, gerações e culturas.
Isso mostra que a cultura pop tem refletido as mudanças de valores e comportamentos que estão em andamento na sociedade. Em maio deste ano, por exemplo, a cantora brasileira Anitta, um dos maiores e mais lucrativos nomes da indústria musical nacional, lançou o clipe de sua música ‘Aceita’. Diferentemente de outros produtos audiovisuais da artista, este se tornou alvo de uma onda de ataques nas redes sociais. E o motivo é simples: o clipe mostra cenas do candomblé, religião negro-africana à qual Anitta pertence.
Diante da escalada de agressões virtuais, comentários racistas e xingamentos, a cantora decidiu se pronunciar em suas redes sociais destacando a importância da liberdade religiosa e repudiando qualquer forma de preconceito e discriminação:
“O Brasil é um país com várias identidades. Aceitar isso é ser tolerante, respeitoso e amável. O álbum ‘Funk Generation’ é muito sobre essa identidade brasileira que me inspirou a ser artista. E a nossa diversidade religiosa faz parte disso. Mesmo assim, o preconceito religioso também é muito presente no país, principalmente em relação às tradições de matriz africana. Espero que esse vídeo inspire mais empatia e conhecimento nas pessoas.”
Os cultos religiosos de matriz africana têm sido associados, ao longo do tempo, a uma
origem demoníaca, impura e involuída, um preconceito que muitas vezes resulta em
ataques violentos contra os praticantes dessas religiões e suas tradições culturais
Talvez você não saiba, mas as religiões de matriz africana, como são popularmente conhecidas, são as que mais sofrem ataques, preconceito e perseguição no Brasil. Um relatório do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), aponta que houve um aumento de 270% no número de casos desse tipo registrados no nosso país entre 2020 e 2021, passando de 86 para 244.
Dados da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras mostram que 78% das lideranças de 255 comunidades tradicionais de terreiros no Brasil disseram já ter sofrido algum tipo de violência, física ou verbal.
A violência sofrida pelo povo de terreiro é inquestionável. Mas qual será a sua causa? Esses são casos de intolerância religiosa ou o problema vai além? O que o clipe da cantora Anitta e sua repercussão têm a nos ensinar sobre o fenômeno denominado racismo religioso e suas consequências para as comunidades tradicionais de terreiro?
Segundo o professor e babalorixá Sidney Nogueira, o termo ‘intolerância religiosa’ não é suficiente para caracterizar ou abarcar as violências dirigidas aos terreiros e à cultura negra religiosa. Isso porque não é exclusivamente o caráter religioso que é recusado, mas sim a origem, a existência, a relação entre uma tradição cultural negra e uma religiosidade preta.
Na prática, isso significa que racismo não incide somente sobre as pessoas pretas praticantes dessas religiões, mas sobre as origens dessas tradições, as práticas, as crenças e rituais, as expressões de fé, a oralidade, os saberes e a vestimenta.
As violências incluem invasões, incêndios às casas de santo, ameaças de morte, interdição de rituais em espaços públicos e até assassinatos. Um triste exemplo é o caso da Mãe Bernadete , ialorixá e líder quilombola na Bahia assassinada em seu território em 17 de agosto de 2023.
Sob o pretexto da liberdade religiosa, instituições governamentais e organizações cristãs e pentecostais (apoiadas por veículos de comunicação e mídia) estão há anos construindo e reforçando uma imagem de que os cultos religiosos negros, suas entidades, como Exu e Pombagira, e seus rituais (como a sacralização animal) teriam origem demoníaca, impura, depravada e involuída. E quando um estigma como esse é criado, quando passamos a enxergar uma pessoa ou uma cultura como vilã, como algo a ser temido, evitado e até extirpado da sociedade, qualquer ação se torna justificável, até as mais violentas e criminosas.
Em seu perfil no Instagram, Cida de Oxalá, matriarca do Terreiro de Candomblé Ilê Axé OpôAganjú, incentiva os seguidores a exercerem o respeito pelos orixás e pelas crenças negro-africanas
CRÉDITO: CIDA DE OXALÁ / WWW.INSTAGRAM.COM/CICIDEOXALA/]
E essas violências também afetam toda a matriz de saberes do povo preto de terreiro – seus conhecimentos sobre economia, arte, filosofia, psicologia, relação com a natureza e espiritualidade –, como conta o professor e líder quilombola Nêgo Bispo.
Daí a necessidade de um termo mais preciso, que está muito além de uma intolerância. Esse termo é ‘racismo religioso’, que revela e demarca que as várias agressões sofridas pelas casas de axé e seus filhos de santo partem de um sistema de dominação e inferiorização que tem a raça e o racismo como base.
Diante desse problema crônico que vivemos no Brasil, diante da intolerância, do racismo e do ódio, que destroem culturas, saberes e vidas, existe alguma solução para transformarmos o nosso olhar para as comunidades tradicionais de terreiro?
Certamente, quando falamos de problemas sociais, um caminho de enfrentamento potente é a educação, em suas variadas formas. Nesse sentido, a escuta e o aprendizado com pessoas de terreiro é um passo importante para transformar estigmas e preconceitos.
Atualmente, na internet, não faltam influenciadores e materiais para nos ajudar nesse processo. Do Instagram ao Spotify, são cada vez mais presentes na cultura digital conteúdos sobre os povos de axé e suas expressões culturais, por meio de perfis de pais e mães de santo. Vídeos, podcasts e textos apresentam produtos audiovisuais sobre histórias dos orixás, provérbios africanos e fundamentos de terreiros encontrados nas redes sociais, além de debates sobre o projeto do racismo religioso e divulgação de iniciativas culturais de educação afro espalhadas pelo país.
Em seu perfil no Instagram, Flávia Pinto , mãe de santo da Casa do Perdão, terreiro de umbanda em Seropédica (RJ), convoca sua comunidade digital para acompanhar seu podcast, onde conversa sobre os ensinamentos dos orixás, psicologia afrocentrada e branquitude de terreiro, por exemplo.
Já Cida de Oxalá, matriarca do Terreiro de Candomblé Ilê Axé OpôAganjú, traz um vídeo reflexivo sobre a data de 21 de março, Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Ela incentiva os seguidores a exercerem o respeito pelos orixás e pelas crenças negro-africanas. Em outro post, a matriarca conta a história de uma lenda sobre Oxalá e Nanã Buruquê, sob o olhar atento de algumas crianças e adultos, em sua casa de santo.
Essa presença on-line das mães e pais de santo tem o potencial de desenvolver pensamento crítico e novos olhares para a identidade negra religiosa, em uma expansão afirmativa, combativa e de resistência, para lutar coletivamente por mudanças estruturais.
Ou seja, já existem muitas vozes ancestrais contando histórias de dádiva, prosperidade, reinvenção, beleza e magia negras. E, certamente, o clipe de Anitta vem sendo visto como uma importante iniciativa para dar visibilidade à questão e para dar eco às mensagens das religiões de matriz africana.
Além de trazer para o debate a pauta do racismo religioso, a artista abre brechas para que outros assuntos relativos às casas de santo e à cultura do povo preto possam ser discutidos e pensados a partir de dúvidas, concordâncias e discordâncias.
O lançamento do clipe, somado a sua repercussão no Instagram e no X (antigo Twitter), incentivou a pesquisa no Google pelo termo ‘candomblé’, que se tornou o 15º assunto mais buscado no dia 14 de maio. A expressão ‘intolerância religiosa’ também sofreu um pico de buscas após a divulgação da música, segundo dados do Google Trends.
Por fim, é preciso destacar que, quando falamos das comunidades tradicionais de terreiro, falamos de coletividades, que possuem modos de existir, ser e pensar plurais e que se encontram, se distanciam e se tocam de novo em uma encruzilhada de possibilidades, onde o respeito à ancestralidade é o grande princípio.
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