Muitos elementos e símbolos dessa prática mística milenar que deu origem a equipamentos, técnicas e materiais da ciência moderna são representados nos livros e filmes da saga do jovem bruxo
Muitos elementos e símbolos dessa prática mística milenar que deu origem a equipamentos, técnicas e materiais da ciência moderna são representados nos livros e filmes da saga do jovem bruxo
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO
A história de Harry Potter e a pedra filosofal gira em torno da tentativa de Lord Voldemort de encontrar a pedra filosofal para restaurar seu corpo e seus poderes e obter a imortalidade
Você já ouviu falar na pedra filosofal? Dotada de poderes fantásticos, essa ‘substância’ lendária seria capaz de transformar qualquer metal em ouro puro e de produzir o elixir da longa vida, que torna quem o bebe imortal.
Se você é fã da saga Harry Potter, essa descrição certamente lhe soa familiar. Mas você sabia que essa ideia não surgiu no mundo da ficção? Durante séculos, alquimistas de todo o mundo buscaram a pedra filosofal, unindo experimentos em laboratório, manipulação de materiais e muita filosofia, misticismo e esoterismo.
O primeiro livro e filme da saga – Harry Potter e a pedra filosofal – fazem uma menção tão direta à alquimia que podemos imaginar que ela seja um elemento importantíssimo para a história do jovem bruxo. E as referências à alquimia na saga vão muito além disso.
Neste texto, vamos explorar como a alquimia influenciou tanto o universo de Harry Potter quanto a ciência moderna.
Não é possível dizer onde, quando e como a alquimia surgiu. Há registros de estudos alquímicos em diversas civilizações antigas. Na China, por exemplo, a alquimia estava ligada à medicina e à busca pela imortalidade. Já na Grécia, tinha uma forte conexão com a filosofia e a busca pela perfeição espiritual.
No Egito, a cidade de Alexandria foi um grande centro de estudos alquímicos entre os séculos 2 e 3. Zózimo de Panópolis, considerado o primeiro alquimista egípcio, via a alquimia como uma técnica sagrada e compilou uma enciclopédia sobre o assunto com 28 volumes.
A alquimia egípcia tinha foco na transmutação de metais comuns em ouro, já que este era visto como material divino e imortal. Tinha também ligação com as práticas funerárias, como a criação de amuletos e substâncias mágicas associadas à vida após a morte e às técnicas de mumificação.
A queda do Império Romano, o crescimento do mundo islâmico e as Cruzadas foram eventos históricos que contribuíram para o espalhamento da alquimia pelo mundo e a tradução de obras sobre o tema para outras línguas.
O principal objetivo dessa crescente tradição era a produção da pedra filosofal, que permitiria a transformação de metais comuns em ouro e a produção do elixir da longa vida (ou da imortalidade). Para isso, os alquimistas se utilizavam de várias técnicas experimentais, como destilação, sublimação, calcinação e dissolução.
Mas essa tradição era mais do que um conjunto de práticas laboratoriais, era uma doutrina filosófica e esotérica, que buscava a purificação da alma e o conhecimento absoluto sobre a natureza.
No Renascimento, nos séculos 15 e 16, o humanismo e a valorização do estudo científico estavam no auge, o que levou muitos pensadores renascentistas a tratarem a alquimia de forma mais experimental, buscando compreender os princípios naturais que regiam os processos químicos e rejeitando seus aspectos místicos e ocultistas.
O médico suíço Paracelso, considerado pai da toxicologia moderna e pioneiro da bioquímica, desenvolveu uma abordagem mais empírica da alquimia, focando na medicina e na transformação química dos compostos.
Assim, a partir da ruptura com o aspecto filosófico e místico da alquimia, nasce a química, uma ciência experimental fortemente baseada em materiais, procedimentos e ferramentas desenvolvidos pelos alquimistas.
Harry Potter tinha apenas 1 ano de idade quando o poderoso vilão Lord Voldemort tentou matá-lo. Movido pela crença de que o garoto seria o único capaz de derrotá-lo (graças a uma profecia feita por uma vidente), o bruxo das trevas invadiu a casa da família Potter, matou os pais de Harry e disparou um feitiço de morte contra ele. O que Voldemort não contava é que uma proteção mágica fez com que o feitiço se voltasse contra ele próprio, o que destruiu seu corpo e o deixou completamente enfraquecido.
A história de Harry Potter e a pedra filosofal gira em torno da tentativa de Voldemort de encontrar a pedra filosofal para restaurar seu corpo e seus poderes e obter a imortalidade. Enquanto isso, Harry Potter (já com 11 anos) e seus amigos, Ronald Weasley e Hermione Granger, fazem de tudo para impedi-lo.
Tentando desvendar o mistério desse artefato, o trio de amigos encontra na biblioteca da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts um livro fictício chamado O livro da Alquimia. Nele, Hermione descobre que o criador da pedra filosofal é o famoso alquimista Nicolau Flamel, que nasceu em 1327, mas ainda estava vivo, graças ao poder da imortalidade concedido pelo objeto mágico.
Fora do universo de Harry Potter, Nicolas Flamel (1330-1418) foi um escrivão e livreiro francês que, segundo a lenda, teria decifrado um misterioso livro alquímico, desvendado o segredo da pedra filosofal e adquirido a imortalidade e a capacidade de transmutar metais em ouro. Apesar de alguns manuscritos o associarem a essa busca alquímica pela perfeição espiritual e material, são poucos os registros históricos confirmando sua atuação como alquimista. Mesmo assim, seu nome se tornou um dos mais famosos da tradição alquímica e continua a inspirar mitos e obras de ficção até hoje.
A pedra filosofal, por sua vez, é apresentada na história de Harry Potter como um objeto mágico e lendário com duas propriedades principais: o poder de criar o elixir da longa vida e a capacidade de transformar qualquer metal em ouro puro. Ela tem um papel central no enredo, indo muito além de uma mera referência. E as menções à alquimia na saga não param por aí.
K. Rowling, autora dos livros da saga Harry Potter, já afirmou em entrevista que nunca quis ser uma bruxa, mas sim uma alquimista. Para criar o mundo mágico de Harry Potter, ela estudou muito sobre alquimia, bem mais do que pôde colocar na história. Por isso, é possível identificar várias referências em suas obras.
Ainda no primeiro livro, Harry e seus amigos estão no trem para Hogwarts quando Ron Weasley apresenta os famosos sapos de chocolate, que vinham com figurinhas colecionáveis de personalidades conhecidas. Ele conta que, em sua coleção, faltavam apenas as figurinhas de Ptolomeu (o matemático e astrônomo grego) e Agripa, se referindo ao estudioso e polímata alemão Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim (1486-1535), que também se dedicou ao estudo da alquimia.
Em um dos sapos de chocolate, Harry encontra a figurinha de Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts, onde se lê: “Dumbledore é particularmente famoso por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das Trevas, em 1945, por ter descoberto os doze usos do sangue de dragão e por desenvolver um trabalho em alquimia em parceria com Nicolau Flamel”.
Além dessas, também são citadas as figurinhas de Paracelso e Hengisto de Woodcroft (que parece ser uma referência a Hermes Trismegisto, que conheceremos melhor adiante).
Outra referência importante, mencionada por algumas pesquisas científicas, são as três etapas do processo de transformação de metais (e das pessoas), conforme descrevem os livros de alquimia.
A primeira etapa, chamada de nigredo e associada à cor preta, representa a dissolução e morte do corpo, um retorno à matéria-prima, à sua forma original. Em Harry Potter, um dos primeiros símbolos do nigredo a aparecer, no início de sua jornada, é o sapo, que na alquimia representa essa etapa de nascimento, de matéria-prima. Outras marcas do nigredo incluem um ovo de dragão negro e os testrálios (raça fictícia de cavalos alados de corpo esquelético e rosto de réptil).
A segunda etapa de transformação, chamada de albedo e associada à cor branca, representa a purificação da matéria. O primeiro símbolo dessa fase é, certamente, o diretor de Hogwarts e principal mentor de Harry, Alvo Dumbledore. Um animal fictício que marca essa etapa é o unicórnio, também presente na saga.
A terceira e última etapa, de nome rubedo e associada às cores vermelho e ouro, ocorre quando a matéria se une ao espírito e a transformação de fato ocorre. Sem dúvidas, a fênix é a maior representante desse estágio. Frequentemente citado nos textos alquímicos, esse animal fictício simboliza a própria pedra filosofal e o objetivo final dos alquimistas, já que ela se incendeia em sua morte e, em seguida, renasce das suas próprias cinzas.
Ao longo de toda a história, Voldemort permanece sempre associado à cor preta, a símbolos do nigredo, representando sua incapacidade de sair do primeiro estágio de transformação alquímica, de evoluir espiritualmente. A caveira (que é um símbolo importante usado por Voldemort) representa na alquimia um resíduo inútil, a sobra de um processo alquímico.
Alvo Dumbledore, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e principal mentor de Harry Potter, é conhecido por seu trabalho como alquimista
Os alquimistas são especialmente conhecidos pela linguagem enigmática e simbólica que desenvolveram. Seus trabalhos eram tão secretos que até hoje cientistas encontram novas pistas sobre o que se passava nos laboratórios de alquimia, como a recente descoberta de que o astrônomo e alquimista Tycho Brahe (1546-1601) conseguiu obter um composto de tungstênio antes mesmo desse elemento químico ter sido identificado (o que ocorreu só em 1781).
Um dos motivos pelo qual os alquimistas eram tão misteriosos era a influência do hermetismo. O hermetismo é uma tradição filosófica, espiritual e esotérica baseada nos ensinamentos atribuídos a Hermes Trismegisto, uma figura mitológica que combina elementos do deus egípcio Thoth e do deus grego Hermes. Essa corrente de pensamento entendia que o conhecimento verdadeiro não deveria ser acessível a todos, apenas aos iniciados. Assim, a simbologia alquímica, as alegorias e as metáforas usadas serviam para ocultar esse conhecimento daqueles que não estavam preparados para recebê-lo.
Outro motivo era a proteção contra a Igreja e as autoridades, já que a alquimia foi muitas vezes associada à heresia e à falsificação de ouro durante a Idade Média.
Em Harry Potter, também vemos muitos simbolismos e até ‘truques’ que os alquimistas usavam em seus textos. Nas obras, vemos alguns anagramas, que são palavras ou frases escritas com as mesmas letras, mas em ordem diferente. Por exemplo, o verdadeiro nome do buxo das trevas, Tom Marvolo Riddle, utiliza as mesmas letras da frase ‘I am Lord Voldemort’ (eu sou Lord Voldemort).
Outro truque são os trocadilhos, frases que, quando lidas em voz alta, revelam significados diferentes daquilo que está escrito, como acontece com o nome Grimmauld place (a casa ancestral da família Black e sede da Ordem da Fênix, organização secreta criada para se opor a Lord Voldemort), que, quando lido em voz alta, soa como a expressão em inglês ‘grim old place’ (que significa ‘lugar antigo e sombrio’, em tradução livre).
Por fim, os próprios enigmas e desafios que os protagonistas passam ao longo da história remetem à busca alquímica pela evolução e pelo conhecimento.
A fênix, animal de estimação de Alvo Dumbledore, é um pássaro fictício que se incendeia em sua morte e renasce das próprias cinzas, simbolizando o objetivo final dos alquimistas: a imortalidade
Embora a alquimia tenha ficado no passado, principalmente devido ao seu aspecto místico e espiritual, ela teve um papel muito importante na história da ciência. Muitos equipamentos, técnicas e materiais usados hoje nos laboratórios mais modernos vieram da alquimia. O famoso banho-maria, por exemplo, é uma técnica de aquecimento desenvolvida pela filósofa e alquimista grega conhecida como ‘Maria, a Judia’, que viveu no Egito no século 3 a.C.
Fica evidente também que o legado da alquimia permanece vivo não só na ciência, mas na cultura pop. Harry Potter é uma história de magia e aventura, mas também pode ser entendida como uma jornada alquímica de autodescoberta e crescimento. A saga como um todo representa um processo de transmutação, no qual os personagens enfrentam desafios, lidam com perdas e amadurecem, tal como os processos de purificação e evolução que os alquimistas buscavam.
Assim, a alquimia não é apenas um tema histórico ou um artifício literário, mas uma poderosa metáfora para a jornada humana. Seja na ciência, seja na filosofia ou na ficção, a alquimia pode nos inspirar e incentivar sempre a buscar, independentemente de qualquer crença, nossa evolução pessoal e o aprendizado constante.
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