Por que a Terra pode girar mais rapidamente, e quais os impactos disso?

Instituto de Astronomia
Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo

CRÉDITO: ADOBE STOCK

Em julho e agosto de 2025, a Terra girou ligeiramente mais rápido, encurtando a duração do dia em até 1,5 ms (milissegundos). Para se ter uma ideia, um piscar de olhos leva em média 250 ms. Esse fenômeno se deve a uma combinação de diversos fatores geofísicos, como os causados por variações na posição da Lua, que afetam a distribuição das marés e, consequentemente, o momento de inércia do planeta — uma medida de como a massa da Terra está distribuída em relação ao seu eixo de rotação. Quando essa distribuição da massa muda, com deslocamentos de água, ar ou massas sólidas, a rotação pode acelerar ou desacelerar, como uma patinadora que gira mais rápido ao recolher os braços e deixá-los mais próximos ao corpo.

A rotação da Terra também pode variar por outros fatores naturais e humanos. Fenômenos atmosféricos como El Niño podem alterar o dia em até 0,5 ms. Movimentos internos no núcleo e manto também influenciam a rotação, apesar de pouco compreendidos. O nível dos oceanos, afetado pelo derretimento de geleiras, modifica a distribuição de massa terrestre, bem como a extração intensa de água subterrânea, que desacelera a Terra. Já eventos extremos, como o terremoto de 2011 no Japão, por exemplo, aceleraram a rotação, encurtando o dia em 1,8 microssegundos (0,0018 ms).

Embora essas variações sejam pequenas, podem afetar tecnologias que exigem extrema precisão na medição do tempo. Um exemplo é o GPS, em que um erro de 1,5 milissegundo pode causar um desvio no posicionamento de até 450 metros, comprometendo aplicações como veículos autônomos. Sistemas militares, como radares e mísseis, e operações científicas, como experimentos de física de partículas, radioastronomia e detecção de terremotos, também dependem dessa precisão.

Até mesmo o mercado financeiro é sensível a variações mínimas de tempo: em redes de alta velocidade, milissegundos podem representar vantagens econômicas significativas. Por isso, bolsas de valores como a de Nova Iorque padronizam o tempo de resposta dos computadores e da rede de transmissão, e até o comprimento de cabos de fibra óptica entre seus clientes.

Essas tecnologias geralmente compensam variações pontuais na velocidade de rotação da Terra, mas falhas na sincronização podem gerar impactos relevantes. Por isso, a medição precisa do tempo e o aprimoramento constante das técnicas de correção a essas minúsculas mas impactantes variações de velocidade de rotação da Terra continuam sendo um pilar essencial de tecnologias modernas.

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