Há exemplos clássicos na história mundial que mostram que a saúde é determinada socialmente. Os estudos na área de saúde pública já são suficientes para influenciar decisões políticas e ações concretas. Qual seria, então, o papel dos grupos de pesquisa que trabalham com o tema das desigualdades em saúde? Este artigo busca refletir sobre essa, entre outras questões, apontando um caminho para que a sociedade possa se organizar de modo a assegurar um padrão de vida adequado e de bem-estar para todos os seus indivíduos.
O reconhecimento de que uma vida longa, feliz e com saúde depende de como as populações nas diferentes sociedades se organizam para distribuir recursos, poder e privilégios é chamado de ‘determinação social da saúde’. Essa ideia não é nova, e dados que a comprovam vêm sendo observados ao longo da história da humanidade.
No início do capitalismo, há exemplos dramáticos. Na França, o epidemiologista Louis-René Villermé (1782-1863) demonstrou, por exemplo, que enquanto a metade dos filhos de patrões chegava aos 21 anos de idade, metade dos filhos de operários sequer alcançava os 2 anos. O pensador alemão Friedrich Engels (1820-1895) publicou resultados semelhantes em seu livro A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, em 1844. Na Alemanha, o médico e político Rudolf Virchow (1821-1902) e colegas lançaram em 1848 o Manifesto da Medicina Social, denunciando que as epidemias são o reflexo da desigualdade social gerada pela concentração de poder.