Bactérias ‘superpoderosas’ na farmácia brasileira

Estagiária de jornalismo, Instituto Ciência Hoje*

Especialista na química de produtos naturais, Camila Crnkovic pesquisa como as cianobactérias podem dar origem a novos medicamentos, com foco na biodiversidade nacional

CRÉDITO: FOTO: ACERVO PESSOAL

Há 3,5 bilhões de anos, surgiram bactérias capazes de consumir gás carbônico e devolver oxigênio para a atmosfera, mudando completamente o planeta e possibilitando o surgimento de formas complexas de vida, como os seres humanos. Chamadas de cianobactérias, elas são encontradas na água salgada, na água doce, em geleiras e até em rochas. Além de serem cruciais para o ciclo do oxigênio na Terra, elas podem dar origem a medicamentos, por meio da produção de compostos químicos. É a esses microrganismos invisíveis a olho nu, mas tão importantes para nós e com aplicações na área da saúde, que Camila Crnkovic, professora da Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo (USP), dedica sua carreira. 

À frente do Lab Azul, a cientista busca novas formas de impactar a vida das pessoas, tanto com as possibilidades de novos fármacos quanto dentro do próprio laboratório, com outros pesquisadores e alunos. Para ela, a ciência de qualidade só acontece quando é desenvolvida por um grupo diverso de pessoas.

Criado em 2020 por Camila, o Lab Azul pesquisa novos metabólitos secundários – chamados de produtos naturais, no jargão químico – de cianobactérias que possam ter aplicações farmacêuticas. Metabólitos secundários são compostos orgânicos produzidos pelas cianobactérias (e também por plantas, organismos marinhos, fungos e outras bactérias) que não são essenciais para o crescimento ou a reprodução, mas contribuem para a sobrevivência, na defesa contra pragas, doenças etc. Segundo a pesquisadora, esses metabólitos são moléculas especiais que não são comuns a todos os seres vivos, ao contrário dos metabólitos primários, como a glicose, por exemplo. 

Muitos dos produtos naturais encontrados em plantas, organismos marinhos, bactérias e fungos têm ações medicinais, como é o caso da penicilina, que é utilizada como antibiótico. O ponto chave da pesquisa de Camila e sua equipe está em descobrir quais moléculas das cianobactérias brasileiras contam com esse “superpoder”.

No mercado farmacêutico já existem alguns poucos medicamentos feitos a partir de produtos naturais de cianobactérias, como é o caso do brentuximab vedotina que foi inspirado na dolastatina 10, molécula com ação anticâncer, como explica Camila. Mas este ainda é um estudo centralizado no cenário internacional: “Não temos nada originado no Brasil ainda. Então, meu interesse como pesquisadora brasileira também é valorizar a biodiversidade que temos aqui e que não é explorada suficientemente”.

“Considerando eventuais novas doenças e pandemias, precisamos ter novas armas químicas”

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