Diante de questões globais críticas, que devem primar pela solução dos problemas concretos do meio ambiente por meio da participação de cada indivíduo e de toda a sociedade, a educação ambiental tem se tornado cada vez mais importante para o mundo. No Brasil, educar para cuidar do meio onde se vive parece ter se tornado exclusividade da escola. Carregando o peso dessa responsabilidade, é necessário aos docentes fazer uma reflexão sobre como encaminhar uma educação ambiental que reflita efetivamente na formação cidadã dos alunos.
A primeira definição formal de Educação Ambiental (EA) foi adotada, em 1971, pela da União Internacional pela Conservação Natureza. A partir de então, os conceitos foram ampliados na Conferência de Estocolmo, em 1972, que foi a primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, e depois pela Conferência de Tbilisi, em1977, na Geórgia (na antiga União Soviética). Na sequência, vários encontros entre diversos países passaram a tratar da EA com a preocupação de planejar políticas públicas, incluindo políticas educacionais. Entretanto, apenas nos anos 1980 e 1990 que, com o consumismo exacerbado e o mundo em crise nas questões ambientais, a EA ganhou o ápice de sua repercussão. E para amarrar as discussões aconteceu a ECO 92, no Rio de Janeiro, onde se definiu a Agenda 21, que expôs o dilema da relação homem-natureza, com a presença de 170 países.
A Agenda 21 apresentou a necessidade e a importância de tornar a população consciente e preocupada com a conservação do meio ambiente, tanto para evitar o surgimento de novos problemas, quanto para a resolução dos que já estavam instalados no meio.
No Brasil, a formalização da conduta ambiental se deu na inserção de um capítulo específico sobre meio ambiente na Constituição Federal. O meio ambiente passou a ser legalmente considerado um bem comum a todos. Isso significa que há tempos se fala em políticas educacionais para a EA, que, apesar do destaque na lei máxima do país, foi e deixou de ser disciplina nas escolas. Em 1997, porém, o Ministério da Educação, com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), definiu meio ambiente como tema transversal para o ensino fundamental, passando a fazer parte de todas as disciplinas – ou ao menos era para ser assim. Apenas em 1999, com a Lei nº 9795/99, foi que a EA passou a ser mais clara, tornando explícitos seus princípios.
Na conjuntura atual do planeta, tende a aumentar a necessidade de trabalhar a temática ambiental. Mas como estruturar uma EA que reflita positivamente e/ou efetivamente na vida das pessoas e por consequência no meio ambiente? Os primeiros passos talvez sejam refletir sobre como está sendo ensinada a EA nas escolas, qual a imagem que os estudantes têm de meio ambiente e como os conhecimentos da área podem integrar a prática cotidiana.
Acredita-se que um bom começo para trazer a EA para o cotidiano dos estudantes seria desconstruir, ou reconstruir, a imagem que têm de meio ambiente. Em geral, imaginam que EA é para ser aplicada à paisagem natural, em uma floresta, por exemplo. Esse entendimento faz com que, quase sempre, o ambiente em que se vive seja ignorado. Portanto, compreender conceitos básicos do que vem a ser meio ambiente seria o primeiro passo para uma EA de sucesso.
Há um discurso comum entre os professores de que sensibilizar os alunos para a real necessidade de zelar e preservar o que está ao seu redor é algo cada vez mais difícil. A prática tem demonstrado que a própria escola não é percebida pelos estudantes como parte do meio ambiente. Logo, não se tem espírito de coletividade estruturado, não há uma visão de ‘nosso’ quando se fala em meio ambiente. Corrobora para isso o fato de que os próprios livros didáticos trabalham a EA de forma a deixar uma imagem de que se deve cuidar das florestas, rios, lagos, dentre outras paisagens naturais, sem apresentar a escola, a rua, as casas dos alunos, como parte importante desse processo. E o que fazer para ir além dessa construção de meio ambiente tão limitada?
Como é de se esperar, os professores têm papel fundamental no processo de ‘educar para preservar’. Mas será que os professores se sentem seguros e preparados para assumir tamanha responsabilidade quando deixam a universidade e exercem suas funções na escola? E será que a universidade está atenta para o papel do professor como agente formador de pessoas como uma visão ecológica ampla? Será que ela amadurece essa temática com seus licenciandos? Sendo a EA um tema transversal, ele é apresentado às diferentes áreas das licenciaturas nas universidades?
A resposta para todas essas questões, muito provavelmente, é não. E, como consequência, percebe-se que o tema gira em torno dos professores de ciências, exclusivamente. Esse é um imbróglio que necessita solução urgente, porque, uma vez que o é tema transversal, precisa ser socializado por todas as áreas de ensino. Daí a importância de uma revisão na matriz curricular do ensino superior, voltada para a implementação de temas associados às metodologias de ensino para EA.
Para o engajamento cidadão nas questões ambientais, é essencial que o estudante se senta parte integrante e possa compreender de fato os conceitos de meio ambiente. Mas desconstruir um método de ensino tradicional, que usa como metodologia principal a leitura do livro didático que reduz EA a conteúdo da disciplina de ciências, não é um processo fácil, tampouco imediato. Novas estratégias precisam ser desenvolvidas. Embora reconheçamos a forma precária com que essa temática possa ter sido abordada na universidade, isso não pode ser usado como desculpa para não buscarmos meios de transformar essa realidade. Estamos diante de uma emergência sobre o futuro da Terra, há responsabilidades a serem cobradas em todos os níveis, mas cada um precisa assumir a sua.
Glaudia Martins Balbino da Silva
Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (ProfBio)
*Artigo resultante de entrevista com o médico infectologista e pesquisador Ricardo Vasconcelos, da Universidade de São Paulo
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