Melhorar a oferta de educação aos alunos com deficiência no Brasil é, hoje, uma busca constante. Mas essa meta só passou a ser perseguida com mais recursos a partir da Constituição de 1988, que estabelece que a educação é um direito de todos (art. n.º 205) e que o ensino será ministrado com base no princípio da igualdade de condições para acesso e permanência na escola (art. n.º 206). Todas as modalidades e áreas da educação têm o dever e a obrigação de seguir a lei suprema do país. E como os professores de biologia podem cumprir esse objetivo?
A biologia dispõe de inúmeros instrumentos, recursos e ambientes estratégicos para o processo de ensino de alunos com deficiência. Um exemplo são as coleções de zoologia, que podem ser complementares ao aprendizado teórico sobre evolução das formas e das estruturas dos animais. As amostras biológicas da fauna podem ser usadas em aulas práticas. No entanto, características de certos grupos de animais, como dimensões e hábitos de vida, podem representar obstáculos no ensino aos estudantes com deficiência visual ou auditiva.
Para superar essas barreiras e oferecer uma educação plena a todos os estudantes, pesquisadores e educadores do Instituto Federal do Pará, em parceria com a Universidade Federal do Pará, por meio do programa de pós-graduação em Ensino de Biologia (Profbio), foram provocados a desenvolver métodos de aprendizado da zoologia para as pessoas com deficiência visual ou auditiva.
Desafio aceito, os pesquisadores usaram estratégias da grande área de tecnologia assistiva (TA), que engloba um conjunto de recursos e serviços que tanto podem promover acessibilidade em atividades funcionais quanto podem ser parte do processo educativo e de reabilitação.
Mas como divulgar essas tecnologias pedagógicas para um grupo maior de pessoas? Foi elaborado um livro com descrições do padrão básico mais representativo de grupos animais que compõem o acervo de duas coleções didáticas de zoologia no Pará.
No começo do trabalho, os acervos foram inventariados quanto ao total de filos, classes e ordens, e, em seguida, quanto às características fundamentais que compõem o padrão básico desses agrupamentos. Com essas informações, foram selecionados filos e classes representantes do acervo para a elaboração de textos descritivos, que, posteriormente, foram traduzidos utilizando os seguintes recursos: Braille, Libras, impressão das imagens em relevo e audiodescrição.
No livro, podem ser observadas imagens de animais com linhas e traços em alto relevo e texturas diferenciadas. A finalidade é facilitar a percepção das partes mais características de cada grupo durante a exploração tátil, principalmente, para usuários com mais alto nível de deficiência visual, ou seja, a cegueira total. Ao lado, estão disponibilizados os textos em Braille com as principais informações de cada filo.
Para as pessoas surdas que dominam a linguagem dos sinais, os textos foram traduzidos em Libras e disponibilizados em vídeos depositados em um canal no YouTube. O acesso aos vídeos ocorre por meio da captura, com o celular, de um QR Code, posicionado ao lado de cada imagem em relevo e que direciona o usuário para o canal.
A audiodescrição das amostras de zoologia, gravada em um CD que acompanha o livro, foi realizada com base em imagens estáticas. Seus roteiros foram previamente escritos e depois narrados, na tentativa de traduzir imagens em palavras, utilizando para isso um tom de voz neutro, discreto e agradável.
O livro impresso apresenta 20 desenhos e, portanto, 20 descrições ao longo de 42 páginas. Os filos Molusca, Artrhopoda e Chordata foram os únicos que tiveram mais de três classes destacadas, por terem o maior número de espécimes e espécies depositados nas coleções.
Antes da formatação final, o livro foi testado com alunos deficientes auditivos ou visuais de escolas públicas de ensino médio. Depois, foi aplicado um formulário com questões sobre o nível de entendimento da informação e sobre a praticidade do produto. Os resultados mostraram que o acesso aos vídeos por meio de QR Code foi muito bem aceito pelos alunos. Por outro lado, verificou-se que alguns fatores importantes devem ser considerados ao se fazer a tradução para Libras em áreas específicas da ciência, entre eles: a linguagem relacionada ao assunto abordado, que pode não ser de domínio do tradutor; a eventual necessidade de criação de novos sinais para atender à tradução; o nível de alfabetização do aluno em Libras; e a velocidade da tradução.
A finalidade do livro é servir como modelo metodológico para inclusão no ensino de biologia e ciências. Mas o recurso gerado pode também ser adaptado por outros conteúdos e disciplinas.
Natanael Charles da Silva
Mestrado Profissional em Ensino de Biologia (Profbio),
Universidade Federal do Pará
Fernanda Atanaena Gonçalves de Andrade
João Elias Vidueira Ferreira
Instituto Federal do Pará – Campus Tucuruí
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