O Brasil não é mais um país predominantemente de jovens. Nossa população está envelhecendo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já há hoje, em nosso país, mais pessoas idosas do que crianças e adolescentes com até 14 anos. Isso significa que, cada vez mais, teremos pessoas mais velhas vivendo entre nós (figura 1).
Com o envelhecimento da população, aumenta a chance de surgirem doenças como câncer, diabetes, problemas do coração e demências. Estas últimas, são, na verdade, vários tipos diferentes de condições. Por exemplo, há a demência de Parkinson, a vascular, a com corpos de Lewy, a frontotemporal, entre outras.
Você, talvez, esteja mais familiarizado com esses tipos de demência por causa das notícias de pessoas famosas vivendo com elas. O ator norte-americano Robin Williams (1951-2014) foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy após sua morte. Outro ator norte-americano, Bruce Willis, vive hoje com demência frontotemporal. O músico Ozzy Osbourne (1948-2025) lutou contra o Parkinson até sua morte recente.
No mundo, mais de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência. No Brasil, estima-se que esse número chegue a mais de 2,7 milhões.
Mas os casos mais comuns de demência – que representam cerca de 70% a 80% deles – são aqueles relacionados à doença de Alzheimer. Há tipos diferentes desse quadro: i) o genético (ou familiar) está relacionado a alterações em genes específicos e representa de 1% a 3% dos casos; ii) o chamado Alzheimer esporádico (o tipo mais frequente) responde por cerca de 97% a 99% dos casos.
No Alzheimer genético, os primeiros sintomas, como a perda de memória, aparecem por volta dos 45 anos de idade. No esporádico, eles surgem só depois dos 60 anos.
Especialistas dividem o Alzheimer esporádico em dois subtipos: o biológico e o clínico. Vamos entender. No cérebro, a doença começa principalmente pelo acúmulo de duas substâncias: o beta-amiloide, que forma placas entre os neurônios, e a tau, que se ‘embola’ dentro das células.
Fragmento de uma proteína maior, o beta-amiloide, em condições normais, é eliminado pelo organismo. Mas, quando ocorre um desequilíbrio em sua produção ou remoção, esses fragmentos se acumulam e se agregam, formando placas que interferem na comunicação entre os neurônios (células cerebrais).
Já a proteína tau tem a função de estabilizar os microtúbulos, estruturas fundamentais para o transporte de nutrientes e outras substâncias no cérebro. No Alzheimer, a tau sofre alterações químicas, como a adição de muitas moléculas de fosfato – processo denominado hiperfosforilação. Com isso, ela começa a se agrupar, formando emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios.
O acúmulo dessas duas moléculas tóxicas (beta-amiloide e tau) compromete progressivamente a comunicação entre os neurônios, provoca inflamação e problemas na ‘conexão’ (sinapse) entre os neurônios, causando a morte dessas células (figura 2). Como os neurônios são fundamentais para a memória, linguagem, o raciocínio e outras funções cognitivas, essas alterações levam, ao longo do tempo, aos sintomas clínicos da demência de Alzheimer.
Mas estudos mostram que essas substâncias podem começar a se acumular no cérebro já por volta dos 40 anos de idade. É essa etapa inicial que denominamos ‘Alzheimer biológico’. Ou seja, a doença pode começar cerca de 20 a 30 anos antes de os sintomas aparecerem, ainda na meia-idade, quando a maioria das pessoas está na fase mais produtiva de suas vidas e nem está pensando nisso.
Só mais tarde, quando idosas, é que surgem os sinais clínicos, como esquecimentos frequentes, dificuldade para planejar atividades e, numa fase mais avançada, mudanças de comportamento. Nessa fase, ocorre o chamado ‘Alzheimer clínico’, no qual são detectados os sintomas típicos do quadro.