O que significa “diversidade funcional” e “diversidade filogenética”, e como isso influencia na conservação da biodiversidade?

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução
Universidade Federal de Goiás

CRÉDITO: WIKIMEDIA COMMONS

Por muito tempo, as pesquisas sobre biodiversidade e as estratégias de conservação eram concentradas na contagem de espécies, ou seja, na chamada diversidade taxonômica. A ideia era que, quanto maior a quantidade de espécies em um determinado ambiente, mais rica e saudável essa área seria. No entanto, cientistas foram percebendo que a biodiversidade é muito mais complexa do que simplesmente contar espécies. Para estabelecer medidas eficazes de conservação, é fundamental considerar diferentes aspectos da biodiversidade, que muitas vezes são independentes entre si e refletem processos ecológicos e evolutivos diversos.

Dentre esses aspectos, dois conceitos têm ganhado destaque: diversidade funcional e diversidade filogenética.

A diversidade funcional refere-se à variedade de funções ecológicas que os organismos desempenham em um ecossistema. Por exemplo, diferentes espécies podem atuar de maneiras distintas, como polinizadoras, predadoras ou decompositoras. A diversidade funcional também leva em conta as diferenças anatômicas, como o tamanho corporal; diferenças fisiológicas, como a reprodução rápida ou lenta, e ecológicas, por exemplo, se o animal é arborícola, terrestre ou fossorial (adaptado a viver debaixo do solo). Também são consideradas as diferenças comportamentais, como a busca ativa ou passiva por presas, por exemplo. Essas distinções entre os organismos compõem uma comunidade e afetam o funcionamento dos ecossistemas. 

A presença de uma diversidade funcional rica pode garantir que um ecossistema seja mais resiliente a mudanças, como aquelas causadas por desmatamento ou incêndios, já que diferentes funções podem se sobrepor para manter o equilíbrio ambiental.

Já a diversidade filogenética diz respeito à diversidade de linhagens evolutivas presentes em uma comunidade. Essa métrica considera a história evolutiva das espécies, ou seja, a relação entre diferentes grupos de organismos ao longo do tempo. Quanto mais distantes entre si na árvore evolutiva são as espécies de um local, maior será a diversidade filogenética, e maior a chance de que essas espécies tenham uma gama de adaptações evolutivas e características únicas que podem ser vitais para sua sobrevivência a longo prazo, principalmente diante das rápidas mudanças globais observadas em tempos recentes.

Essas duas formas de diversidade são cruciais para a conservação da biodiversidade porque abordam aspectos diferentes da resiliência ecológica. Focar apenas na riqueza de espécies pode não ser suficiente para proteger a complexidade dos ecossistemas, visto que essa métrica parte do pressuposto de que todas as espécies e indivíduos são equivalentes em suas funções ecológicas. Portanto, uma área com maior número de espécies não necessariamente terá uma elevada riqueza funcional ou filogenética.

Comentário (1)

  1. Execelente reportagem.
    Muito obrigada pela rica contribuição de conceitos primordiais no campo da ecologia em fatores da biodiversidade.

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