Quais os avanços nos medicamentos contra o Alzheimer?

Laben (Laboratório de Biologia do Envelhecimento)
Departamento de Gerontologia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

CRÉDITO: ADOBE STOCK

Por muito tempo, os tratamentos disponíveis para a doença de Alzheimer tinham um papel limitado: apenas aliviar os sintomas. Medicamentos como a donepezila e a memantina ajudavam a melhorar, por um tempo, a memória e o comportamento, mas não impediam que a doença continuasse avançando. 

Nos últimos anos, porém, surgiram medicamentos que prometem algo mais: agir diretamente nas causas da doença, ou seja, interferir nos processos biológicos que provocam a perda progressiva de memória e de outras funções cognitivas. Esses novos medicamentos tentam mudar o curso do Alzheimer, em vez de apenas lidar com suas consequências. O principal alvo desses tratamentos é uma molécula chamada beta-amiloide, que se acumula no cérebro formando placas tóxicas para os neurônios. A presença dessas placas é uma das marcas registradas do Alzheimer.

Esses medicamentos, como o lecanemabe e o donanemabe, são anticorpos, ou seja, proteínas feitas em laboratório que se ligam ao beta-amiloide e ajudam o sistema imunológico a eliminá-lo do cérebro. Testes clínicos demonstraram que esses medicamentos podem reduzir o acúmulo de placas, especialmente se o tratamento for iniciado nos estágios iniciais da doença. Porém, apesar dos avanços, esses fármacos não curam o Alzheimer, apenas reduzem o ritmo do declínio cognitivo – ou seja, a memória e o raciocínio das pessoas tratadas pioraram mais lentamente do que entre aquelas que não receberam o remédio. 

Uma notícia importante para os brasileiros: em 22 abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o donanemabe (kisunla) para uso no Brasil. Já o lecanemabe foi aprovado pela União Europeia no dia 15 de abril. É a primeira vez que medicamentos que atacam os sintomas da doença são aprovados nessa região. Nos Estados Unidos, o medicamento já havia sido liberado em 2023.  

Para alguns especialistas, os resultados ainda representam um avanço modesto; para outros, trata-se de um marco na história da medicina: é a primeira vez que é possível interferir no curso da doença, em vez de apenas lidar com seus sintomas. Talvez seja um sinal de que o caminho está certo, mas ainda é bastante longo.

É importante lembrar que os novos medicamentos para o Alzheimer não são indicados para todos os casos. Eles funcionam melhor nas fases iniciais da doença e podem causar efeitos colaterais importantes, como inchaço ou pequenos sangramentos no cérebro. Outra crítica é o custo elevado desses tratamentos, o que impactam sistemas de saúde com recursos limitados.

Quais outras alternativas no combate à doença?

Para além dos fármacos que combatem a proteína beta-amiloide, a ciência segue buscando ampliar soluções para combater a doença de Alzheimer. A proteína tau, que também se acumula de forma anormal no cérebro, está sendo estudada como alvo de novos medicamentos. Os cientistas investigam ainda formas de reduzir a inflamação cerebral, proteger as conexões entre neurônios ou até estimular o crescimento de novas células cerebrais. 

Os avanços nos tratamentos também reforçam a importância do diagnóstico precoce e impulsionam o desenvolvimento de exames de sangue mais acessíveis, capazes de identificar sinais da doença antes que os sintomas apareçam. Por fim, é importante lembrar que mesmo com os novos medicamentos, os hábitos de vida continuam sendo grandes aliados da saúde cerebral. Estudos mostram que existem 14 fatores de risco para demência que, se combatidos, podem reduzir em quase a metade os casos no mundo. Dentre esses fatores de risco, alguns exigem ações individuais, enquanto outros só podem ser efetivamente enfrentados com o apoio de políticas públicas robustas. Garantir o acesso à educação de qualidade ao longo da vida, combater a poluição e assegurar o acesso equitativo aos serviços de saúde são medidas fundamentais para proteger a saúde cerebral da população. 

Em nível individual, desde cedo, é possível cuidar do cérebro com hábitos como ler, estudar, manter uma alimentação equilibrada, controlar a pressão arterial, o colesterol e o diabetes, não fumar, evitar álcool em excesso, proteger-se de traumatismos cranianos, utilizar aparelhos auditivos quando necessário, tratar sintomas depressivos, praticar atividades físicas e cultivar relações sociais saudáveis. Essas são atitudes simples, mas poderosas, que podem contribuir para a prevenção das demências e para um envelhecimento com mais qualidade de vida.

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