Quando se fala na ligação entre esporte e academia, a maioria das pessoas deve pensar em esteiras, pesos e aparelhos de musculação. Para muitos torcedores que frequentam estádios e ginásios pode ser difícil imaginar, mas cientistas também marcam presença em campos de competição e treinamento. Mais que isso: o trabalho desses pesquisadores pode influir na dieta, nos programas de preparação e, consequentemente, na melhora da performance de atletas de alto desempenho.
É assim que funciona a esportômica, abordagem desenvolvida no Laboratório de Bioquímica de Proteínas (LBP) da Unirio, que trabalha com atletas de nível internacional e realizou ações nos Jogos Olímpicos de Londres e do Rio, entre outros eventos. Diferentemente dos estudos realizados dentro de laboratórios, em condições extremamente controladas, as análises esportômicas são feitas a partir de amostras de sangue, urina, suor e saliva de atletas coletadas in loco, reproduzindo os desafios reais e as condições enfrentadas durante as performances esportivas.
Mas não é apenas a excelência esportiva a meta desses estudos. Por meio da esportômica, é possível investigar o funcionamento químico do corpo em momentos de saúde, doença e estresse metabólico (a resposta do metabolismo ao esforço), já que as situações vividas durante o esforço físico fornecem informações essenciais sobre o controle e sinalização do metabolismo no nível celular e do organismo como um todo.
Para entender melhor o conceito de esportômica, é interessante pensar no sufixo ‘-ômica’, que significa ter uma visão global, ou seja, que todos os componentes são considerados coletivamente. Assim como a genômica é o estudo de todos os genes e a metabolômica é o estudo dos processos metabólicos, a esportômica é o uso das ciências ‘ômicas’ em conjunto com as análises clínicas laboratoriais clássicas – como determinação enzimática, o teste Elisa, entre outros – para entender as modificações induzidas pelo esporte.
O estudo é holístico e top-down, ou seja, as informações são fragmentadas e analisadas para a compreensão do todo. Assim, uma grande quantidade de dados é gerada, o que exige um enorme esforço analítico computacional. A esportômica se baseia em um tipo de análise de fluidos biológicos coletados de indivíduos em diferentes tempos durante o exercício.
A espectrometria de massas – que representou uma evolução nos diagnósticos na medicina, pois é capaz de identificar as mais variadas substâncias conhecidas e fazer análises de metabolismo – é usada, nesta abordagem, em prol da ciência do exercício. A meta é que o estudo esportômico contribua para a excelência na prática do esporte de alto rendimento, assim como para a capacitação das comissões técnicas.
Nos últimos cinco anos, o LBP analisou mais de 500 atletas de nível internacional, de 35 modalidades. Essa pesquisa criou um grande conjunto de dados de atletas obtidos por meio da coleta de diferentes matrizes biológicas, realizadas em variadas situações de treinamento ou competição. Esse acervo fornece a cientistas e treinadores uma perspectiva real da evolução do treino e do desempenho. Assim, a esportômica tem permitido a introdução de alterações na dieta, de estratégias de recuperação do esforço e programas de treinamento. Tudo isso resulta em uma evolução na performance dos atletas estudados.
Coleta de sangue durante a atividade / Análise instantânea dos dados
Melhorar o desempenho esportivo do atleta através de suporte científico esportômico
Metodologia de preparação
Identificar os pontos metabólicos chave no desempenho esportivo por meio de desenhos experimentais específicos
A maioria dos artigos sobre ciência do esporte é focada em atletas comuns e amadores ou em pessoas apenas ativas fisicamente. Há pouquíssimos dados e literatura disponível sobre atletas de elite porque esse material, normalmente, é protegido por cláusulas de confidencialidade, a fim de resguardar quaisquer associações com suas performances. Por isso, é de extrema importância oferecer à comunidade científica acesso às raras informações metabólicas desses esportistas de alto rendimento, para melhor entender o metabolismo.
Esses dados ajudam na compreensão das respostas individuais a diferentes formas de estresse. Isso é de extrema importância, uma vez que um dos desafios atuais enfrentados pela medicina é desenvolver terapias adaptadas ao exato estado biológico do indivíduo.
Os resultados de intervenções terapêuticas ligados a padrões globais de apresentação de doenças têm sido questionados por considerarem apenas a visão sistêmica e não a variabilidade de parâmetros biológicos de cada indivíduo. As evidências sobre esse tema, apresentadas em diversas revisões nos últimos anos, têm levado mais e mais pesquisadores a defender a tese dos ensaios clínicos de ‘n=1’, isto é, estudos realizados com um único indivíduo. Os resultados desses estudos, assim como os da esportômica, talvez não se apliquem a outros sujeitos e é preciso cautela para serem extrapolados.
Assim, atletas de alto rendimento apresentam performances próximas de situações-limite em treinamentos e competições, o que, claramente, não pode ser aplicado continuamente a sujeitos voluntários ou atletas amadores. Por isso, a ciência pode utilizar o exercício para encontrar vias sinalizadoras que contribuam para a compreensão de doenças como a falência hepática ou renal e, ainda, estados hipermetabólicos, como o câncer e queimaduras extensas.
Alexandre Magno-França
Adriana Bassini
L. C. Cameron
Laboratório de Bioquímica de Proteínas
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
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