Correção da literatura científica: dever de cientistas

Instituto Nacional de Câncer
Laboratório de Ética em Pesquisa, Comunicação Científica e Sociedade
Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Corrigir erros em artigos científicos é dever inegável dos pesquisadores. Em geral, essa prática ainda é vista como estigma para a carreira. Mas, aos poucos, essa visão está mudando: há cada vez mais abertura para a retratação dos chamados erros honestos na atividade de pesquisa. E essas correções, quando feitas de modo voluntário e transparente, estão sendo valorizadas, por serem essenciais não só para fortalecer a confiabilidade pública da ciência, mas também para evitar a disseminação de desinformação científica.

CRÉDITO: ADOBE STOCK

A correção da literatura científica por meio de retratações é um mecanismo editorial rigoroso e necessário para a invalidação de uma publicação científica. Trata-se de exposição pública, voltada tanto para a comunidade científica quanto para o público em geral, que deve ter acesso livre às descrições que acompanham as retratações, as quais, comumente, qualificamos como ‘nota de retratação’.

Essas descrições devem esclarecer se a retratação foi motivada, por exemplo, por um erro honesto, suficientemente grave para comprometer a confiabilidade do trabalho como um todo, ou por algum tipo de má conduta, que pode envolver falsificação deliberada de dados.

O Comitê de Ética em Publicações (COPE), organização internacional que tem papel central na regulação ética das políticas editoriais, orienta sobre quando essas correções severas devem ser feitas. Recentemente, o COPE detalhou essas políticas, estendendo seu escopo. Como descrevem, retratações podem se justificar caso haja “evidências claras de erros graves, irregularidades nos dados ou imagens ou qualquer forma de deturpação (por exemplo, fraude, roubo de identidade ou autoria fictícia) que comprometam a confiabilidade dos resultados”. O COPE esclarece que as notas de retratação “devem conter um link para o artigo retratado, identificar claramente o título e os autores, ser publicadas prontamente e estar livremente acessíveis aos leitores”.

Principalmente na última década, as retratações vêm ganhando espaço crescente no sistema de publicações e nos debates acadêmicos sobre a integridade e confiabilidade da literatura científica. Desde então, a comunidade científica busca elucidar o que essas retratações refletem, especialmente, diante de seu aumento, que supera o das próprias taxas de publicação. Em 2011, o periódico Science mencionava informações de matéria do diário norte-americano Wall Street Journal: “Desde 2001, enquanto o número de artigos publicados aumentou 44%, o número de retratações cresceu mais de 15 vezes – de 22, em 2001, para 339, em 2010.”

Em um ambiente de franca mudança no contexto de políticas editoriais, um dos comentários mais ilustrativos naquele texto da Science dizia: “Lembro-me de estar em um seminário universitário há 15 anos, onde um pesquisador falou sobre um artigo que havia publicado, mas cujos resultados ele sabia que agora estavam errados. Disse ele, com pesar: ‘Infelizmente, não se pode ‘despublicar’ um artigo’. Adivinha? Descobrimos que sim, [agora] se pode”.

Em 2023, análise no periódico Nature, usando, entre outras fontes, o banco de dados do Retraction Watch Database, indicou que mais de 10 mil artigos foram retratados naquele ano. A análise identificou que a taxa de retratações na última década tinha mais que triplicado, ultrapassando 0,2% naquele ano. 

Principalmente na última década, as retratações vêm ganhando espaço crescente no sistema de publicações e nos debates acadêmicos sobre a integridade e confiabilidade da literatura científica

Retratação e integridade

Essas correções severas no sistema de publicações foram sendo incorporadas como dimensão essencial da integridade científica, ganhando maior atenção na academia, incluindo não só pesquisadores, mas também financiadores. 

Gradativamente, investigações mais detalhadas sobre os motivos das retratações, nem sempre claros, foram revelando proporção crescente de casos envolvendo má conduta científica. 

Em um dos estudos mais amplos que conduzimos, foram analisadas 1.623 retratações registradas entre 2013 e 2015, discutidas no Retraction Watch, o maior observatório mundial sobre retratações na literatura científica.

Essas retratações, representando, naquele período, fração significativa do total registrado delas na base de artigos PubMed, foram categorizadas por motivo, área do conhecimento e país do autor correspondente. 

Os dados indicaram que 15 países classificados entre os de maior produção científica no Scimago Journal & Country Rank, portal público de dados de produção científica em diferentes áreas e países, foram responsáveis por 85% dos casos registrados.

Embora em menor número, as retratações por erro honesto são especialmente significativas do ponto de vista da integridade científica. Elas revelam proatividade da comunidade de pesquisa para corrigir, de forma voluntária e transparente, erros que comprometam os resultados publicados.

Nesse sentido, destaca-se a proatividade de uma das ganhadoras do Nobel de Química em 2018: a norte-americana Frances Arnold, pesquisadora da área de engenharia química, bioengenharia e bioquímica, no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos. 

Em 2 de janeiro de 2020, menos de um ano após publicar artigo no periódico Science sobre evolução dirigida de enzimas, tema associado à sua pesquisa que lhe rendeu o Nobel, Arnold fez postagem incomum no Twitter (hoje, X). 

Ela comunicava a solicitação de retratação daquele artigo à editoria da Science. Essa exposição pública se deu em um momento de grande atenção mundial às redes sociais, quando se iniciavam as preocupações com os casos de covid-19. 

Na postagem, Arnold expressou frustração por não ter cumprido, com o devido rigor, seu papel de cientista responsável pelo trabalho, atribuindo o problema a excesso de atividades à época da publicação: “É doloroso admitir, mas é importante fazê-lo. Peço desculpas a todos. Eu estava um pouco ocupada quando o trabalho foi enviado e não fiz meu trabalho direito” […] “Neste meu primeiro tuíte, relacionado ao trabalho de 2020, estou muito chateada em anunciar que solicitamos a retratação de um artigo do ano passado sobre a síntese enzimática de beta-lactamas. O trabalho não foi reproduzido.”

No dia seguinte à postagem de Arnold, foi publicado texto, na própria Science, com o título ‘Uma retratação muito pública. Ótimo’. Nela, o autor, Derek Lowe, comentou: “Para ser honesto, fico feliz em ver admissão tão direta e gostaria que mais pessoas seguissem o exemplo. Chefes de laboratório que estão dispostos a vir a público assim deveriam ser aplaudidos. Ver isso acontecer no grupo de pesquisa de uma ganhadora do Nobel deveria ser mais um exemplo do porquê de a Royal Society estar certa em ter como lema Nullius in verba (em latim, ‘Nas palavras de ninguém’)” – a expressão pode ser entendida como alerta para não se aceitarem afirmações sem verificação experimental.

A retratação do artigo solicitada por Arnold foi publicada na Science poucos dias depois de seu compartilhamento público sobre o problema detectado. A nota de retratação associada ao artigo informava que “[o]s esforços empregados para reproduzir o trabalho demonstraram que as enzimas não catalisam as reações com as atividades e seletividades reivindicadas. A análise do caderno de laboratório da primeira autora revelou ausência de registros e dados brutos essenciais”.

A atitude de Arnold não comprometeu sua credibilidade e foi amplamente elogiada nas redes sociais e em mídias jornalísticas de vários países. O jornal britânico The Guardian comentou ao fim de sua matéria: “Infelizmente, não existem prêmios Nobel para bons pedidos de desculpas. Mas a resposta de Frances deveria servir de exemplo para todos nós em 2020: quando estiver errado, admita seu erro, peça desculpas e prometa melhorar”.

Entre as centenas de manifestações sobre a retratação, destacamos a do então doutorando Anmol Kulkarni, colaborador de Arnold: “Ver um laureado com o Nobel tuitar sobre a retratação de um artigo ensina como é importante para os cientistas serem honestos com seus dados. Para alguém como eu, que está começando agora na pesquisa, essa atitude transmite uma lição fundamental”. 

Figura 1. Distribuição das retratações associadas a publicações científicas de 22 ganhadores do Nobel, em diferentes áreas da ciência

CRÉDITO: ELABORADO PELAS AUTORAS/ BASEADO EM DADOS DE HTTPS:// RETRACTIONWATCH.COM

A neurocientista ucraniana Vira Iefremova também destacou seu reconhecimento: Sinto muito pelos problemas de reprodutibilidade! Mas quero agradecer por esse grande exemplo de como a ciência deve ser conduzida! E lembrar que resolver problemas extremamente difíceis nunca é algo simples!”  

Nesse contexto, Arnold interrompeu um ciclo de disseminação de dados que continham erros importantes e comprometiam seriamente a reprodutibilidade da pesquisa. Como ela reconheceu, a retratação evitaria desperdício de recursos em projetos subsequentes. 

Em sua reflexão publicada no Nature Index, Arnold pontuou essa questão, demonstrando que a preocupação que tinha ia além de sua reputação individual. Havia também compromisso com a construção de um patrimônio de conhecimento, que é coletivo. 

Essa atitude está em consonância com o conceito de integridade científica apresentado pelo filósofo brasileiro Luiz Henrique Lopes dos Santos (1949-2025), associado aos “valores éticos especificamente científicos […] que se impõem ao cientista em virtude de seu compromisso com a finalidade própria de sua profissão – a construção da ciência como um patrimônio coletivo”.

Embora em menor número, as retratações por erro honesto são especialmente significativas do ponto de vista da integridade científica

Parte da autorregulação

A maior abertura da atividade científica para a sociedade e a honestidade dos pesquisadores ao reconhecerem erros honestos por meio de retratações são parte tanto de um processo fundamental no âmbito da integridade científica quanto essencial no aprimoramento da autorregulação da ciência.

Arnold não está sozinha. Segundo edição deste ano da revista American Scientist, ao menos, 22 ganhadores do Nobel já retrataram 41 artigos (figura 1).

Esses números demonstram que nem mesmo o prestígio máximo na carreira acadêmica isenta um cientista da necessidade de corrigir a literatura (ver, neste artigo, ‘Perguntando à Inteligência Artificial Generativa’).

Seja qual for a origem do erro, vinculada ou não a condutas impróprias, é fundamental que, em colaborações científicas formalizadas em artigos, cada coautor tenha suas responsabilidades claramente definidas. 

Essa transparência deve ocorrer independentemente da experiência ou prestígio dos pesquisadores envolvidos: todos os autores que assinam o trabalho devem colaborar para que quaisquer incidentes sejam esclarecidos publicamente no caso de uma nota de retratação.

Ainda assim, as retratações (mesmo as por erro honesto) ainda são frequentemente carregadas de estigma. Em estudo envolvendo 120 pesquisadores que tiveram artigos retratados, o pesquisador húngaro Marton Kovacs e colaboradores apresentam as retratações como “os desastres aéreos da ciência”: como na aviação, devem ser estudadas com rigor para prevenir novas falhas.

Esse tipo de investigação é fundamental, mas devemos lembrar que continuam sendo fenômeno raro: não chegam a 1% do total de publicações científicas. Em tempo: vale ressaltar que há diferentes estimativas para o ‘tamanho’ da literatura científica disponível nas principais bases de dados das editoras científicas; por exemplo, em 2022, foram registrados 3,3 milhões de publicações nas áreas de ciências e engenharias na base Scopus, uma das maiores plataformas de indexação da produção científica mundial, abrangendo diversas áreas de pesquisa e países.

Ainda assim, as retratações (mesmo as por erro honesto) ainda são frequentemente carregadas de estigma

Desinformação: desafios e progressos

Embora considerado baixo, o percentual de retratações é influenciado por atitude proativa de pesquisadores e editores para corrigir a literatura científica e fortalecer a credibilidade das publicações. Por outro lado, retratações também evidenciam outra questão relevante: a propagação de desinformação científica. 

Estudos demonstram que artigos retratados continuam a ser citados como válidos: em oncologia radiológica, por exemplo, estudo publicado em 2019 no International Journal of Radiation Oncology, Biology, Physics identificou que 92% das citações a um conjunto de artigos retratados não mencionavam a retratação.

A persistência em citar artigos retratados é um desafio importante no âmbito da literatura científica. Esse problema pode decorrer, em alguma medida, da falta de conhecimento sobre o status do artigo, ou seja, se ele foi ou não retratado. 

Embora a citação de artigos retratados possa decorrer da desatenção dos pesquisadores, devemos levar em conta que o processo de comunicação científica é dinâmico. Por exemplo, ao propor ações para reduzir o risco de revisões científicas incluírem dados de artigos retratados, a pesquisadora norte-americana Jodi Schneider, da Escola de Ciência da Informação da Universidade de Illinois (EUA), chama atenção para o seguinte: “identificar publicações retratadas é importante, mas, logisticamente, desafiador […] publicações podem ser retratadas enquanto uma revisão está em preparação ou [o artigo] no prelo, e problemas com uma publicação também podem ser descobertos após a publicação da síntese de evidências”.

Os esforços de pesquisadores e editores para mitigar esse problema são essenciais para combater desinformação sobre a ciência por meio de citações de artigos retratados. Trabalho publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences indica que artigos que continuam sendo amplamente citados como se fossem publicações válidas, frequentemente, estão publicados em periódicos de grande visibilidade internacional. 

Mas deve-se considerar que há nesse cenário esforços coordenados das principais editoras científicas de informar leitores sobre quaisquer atualizações (como correções), incluindo retratações, associadas a uma publicação. 

Como explica a iniciativa CrossMark, desenvolvida pela Crossref, organização internacional fundada em 2000 por editoras e sociedades científicas, “[a] pesquisa não para: mesmo após a publicação, os artigos podem ser atualizados com dados complementares ou correções. É importante saber se o conteúdo citado foi atualizado, corrigido ou retratado. O Crossmark torna essa informação mais visível para os leitores. Com um clique, você pode ver se o conteúdo foi alterado e acessar metadados adicionais valiosos fornecidos pelo membro, como datas importantes de publicação (submissão, revisão, aceitação), status da verificação de plágio e informações sobre licenças, editores responsáveis e revisão por pares”. 

A editora Springer Nature orienta seus leitores: “[u]m clique no logotipo do CrossMark em um documento informará seu status atual e poderá fornecer informações adicionais sobre o registro de publicação”.

Outro desafio no sistema de publicações é criar estratégias para promover notas de retratação mais detalhadas para que sejam evitadas as chamadas ‘retratações ocultas’, nas quais a razão real para a invalidação de um artigo não é devidamente documentada. 

Essas falhas de informação no fluxo de comunicação sobre as retratações envolvem fatores complexos sobre a dinâmica social da ciência, os quais também vêm recebendo atenção redobrada da própria comunidade acadêmica. 

Nesse contexto, questões que vêm sendo investigadas incluem: a retratação espontânea por um erro honesto afeta a credibilidade e a carreira de cientistas no início de sua vida profissional? Se a resposta for afirmativa, esses danos variam segundo gênero, país ou área de pesquisa? O prestígio do periódico científico exerce influência na decisão de retratar um artigo? 

As evidências mostram que a correção da literatura nas biociências contribui consideravelmente para responder a essas questões. Elas indicam, por exemplo, que as autorretratações, as que são feitas espontaneamente pelos autores, em virtude, normalmente, de erro honesto, têm um lado positivo: são reconhecidas pela comunidade da área como mecanismos de transparência e fomentam mudanças culturais no campo científico. 

Esse reconhecimento contribui para reduzir o estigma associado à correção e promove a naturalização desses procedimentos. Exemplo ilustrativo dessa dinâmica é o caso de Arnold.

Perguntando à Inteligência Artificial Generativa

Em um contexto em que a pesquisa científica e a produção de conhecimento, de forma geral, vêm experimentando influência da Inteligência Artificial Generativa (IA Gen), fizemos uma pergunta a três modelos de IA Gen: i) Deep Research, desenvolvido pela Open AI; ii) Gemini, desenvolvido pelo Google; iii) Claude, desenvolvido pela Anthropic.

A questão apresentada a essas três IA Gen: ‘Considerando que, pelo menos, 22 ganhadores do Nobel já tiveram artigos retratados, o que isso indica sobre suas responsabilidades e seus papéis como autores científicos?’

A seguir, destacamos os trechos principais das respostas: 

Deep Research: “Esse fato mostra que mesmo laureados com o Nobel – frequentemente, vistos como o auge da excelência científica – não estão isentos das obrigações e vulnerabilidades da autoria […] laureados precisam equilibrar seu papel de inovadores visionários com o dever contínuo de proteger a credibilidade do trabalho que assinam”; 

Gemini: “O fato de ganhadores do Prêmio Nobel terem artigos retratados é um lembrete importante de que a ciência é um processo humano e falível, mesmo no mais alto nível. Isso aponta para várias responsabilidades e papéis essenciais que os autores científicos, incluindo os laureados, devem assumir”; 

Claude: “Primeiro, isso demonstra que mesmo cientistas excepcionais estão sujeitos aos mesmos padrões de integridade científica que qualquer pesquisador. O Nobel reconhece descobertas transformadoras, mas não confere imunidade a erros metodológicos, problemas de reprodutibilidade ou questões éticas. Isso reforça que a ciência é um processo autocorretivo em que a qualidade do trabalho deve ser continuamente validada”. 

Como se observa, cada um desses modelos de IA Gen traz uma perspectiva própria, mas os três convergem para um ponto central: destacam a humanidade e a falibilidade também presente na ciência. Apontam que mesmo os cientistas mais brilhantes estão sujeitos a erros em suas pesquisas e que, além disso, ganhar o prêmio Nobel não confere imunidade ao laureado.

Os esforços de pesquisadores e editores para mitigar esse problema são essenciais para combater desinformação sobre a ciência por meio de citações de artigos retratados

Atitude proativa

Diante desse cenário, mais do que nunca, corrigir a literatura científica é estratégia essencial contra a desinformação e responsabilidade inegável dos cientistas. Como afirmou o físico norte-americano Richard Feynman (1918-1988) em 1968: “Ciência é a crença na ignorância dos especialistas”. 

Esse espírito de questionamento permanente, em um ambiente de maior abertura para a exposição do erro e disposição para corrigir a literatura científica, é essencial para fortalecer a confiabilidade da ciência. 

Nesse sentido, os cientistas deveriam ser reconhecidos quando corrigem a literatura, especialmente, por erros honestos, porque, ainda nas palavras de Feynman, “[a] credibilidade está cada vez mais vinculada à capacidade da ciência de se autocorrigir. Retratações por erros honestos não devem ser vistas como falhas, mas como ferramentas essenciais para garantir a integridade da literatura científica.”

Por essa razão, como escreveram, em 2022, as autoras deste artigo, em coautoria com Michael Kalichman, da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), para o periódico Nature Human Behaviour, “comitês de contratação e promoção de cientistas devem reconhecer as autorretratações como contribuições objetivas à ciência, pois mantêm o registro científico íntegro e evitam desperdício de recursos”.

Consideramos que, além da publicação, a correção também é responsabilidade dos cientistas. Embora esse processo de aprendizado ocorra de forma gradual, observa-se crescente integração desse princípio à cultura científica e à percepção pública da ciência. Por outro lado, há necessidade de avanços consideráveis, para os quais é essencial contar com espaços mais amplos de discussão do tema em universidades, institutos de pesquisa, sociedades científicas e academias de ciências mundo afora. 

Fortalecer uma cultura que incentive atitudes proativas para corrigir a literatura científica, bem como para prevenir erros, é ainda mais fundamental diante dos novos desafios para a atividade de pesquisa, que, aos poucos, vai sendo entremeada pela colaboração entre humanos e a IA Gen. 

Esse brave (new) world, em que se configura essa colaboração, cria desafios adicionais para a autoria e agência humana, para as quais o papel central da integridade científica é inegociável e fortemente atrelado ao processo de correção da literatura. 

Cultivar essa atitude proativa, como ilustrado na atitude de Arnold, é também essencial para impregnar, em longo prazo, o desenvolvimento e uso de modelos de IA Gen com uma cultura científica que conceba as retratações (em especial, as autorretratações por erro honesto) como parte integrante do processo de comunicação científica.

Consideramos que, além da publicação, a correção também é responsabilidade dos cientistas

COPE Council. COPE Guidelines: Retraction Guidelines. Agosto 2025. Disponível em:

https://doi.org/10.24318/cope.2019.1.4

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