O colapso mental de uma geração ansiosa

Jornalista, especial para o ICH

Livro expõe como superproteção no mundo real e subproteção no mundo virtual elevaram taxas de depressão e ansiedade em jovens e defende infância com mais livre brincar

 A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais

Jonathan Haidt

Companhia das Letras, 2024, 440 p.

Você deixaria seus filhos serem enviados para uma colônia humana em Marte, sem saber se poderão retornar à Terra no futuro? A empresa à frente da empreitada não parece muito preocupada com a segurança das crianças. Sequer exigiu comprovação de autorização dos pais para levá-las. As crianças só clicaram numa caixinha dizendo que seus responsáveis estão de acordo e já podiam embarcar. Algum pai ou mãe permitiria algo assim? Já conhecemos essa história. Mas muitas vezes ignoramos seu desfecho. Substitua Marte pelo vasto universo da internet e das redes sociais e qualquer semelhança não será mera coincidência. 

É com essa imagem aparentemente fantasiosa e insana que se lança o alerta por trás do livro “A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais” (Companhia das Letras). Escrito pelo psicólogo social Jonathan Haidt, professor da Universidade de Nova York (NYU), a publicação se debruça sobre as causas, os efeitos e os perigos da transição de uma “infância baseada no brincar” para a “infância baseada no celular” que vivemos nos últimos anos. 

Haidt chama o fenômeno de “a grande reconfiguração da infância”. É essa nova maneira de crescer que coincide com a ascensão de novas tecnologias no final dos anos 1980, mas em especial a partir de 2010, em um universo alternativo, empolgante e viciante que roubou lugar do aspecto físico na socialização. O resultado: um colapso da saúde mental de crianças e adolescentes, com aumento acentuado nos índices de ansiedade, depressão e automutilação.

“Discutimos esse livro recentemente em um projeto de clube do livro que desenvolvo na universidade. Os pais com filhos da geração Z não tiveram um documento como esse para entender o que poderia ‘sair do controle’. Agora esses estudantes têm. Foi interessante ver como o livro mexeu com eles, porque nem essa geração se dá conta de como se tornou dependente dos dispositivos eletrônicos, das mídias e da validação do outro”, diz Priscilla Oliveira Silva Bomfim, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa, Ensino, Divulgação e Extensão em Neurociências (NuPEDEN) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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