Pensar os conflitos de terra que, atualmente, envolvem povos e comunidades tradicionais no Brasil é uma forma de dar visibilidade à resistência dessas populações e, também, ao seu modo de vida. Olhar para essas questões ressalta a forma como o Estado-nação se impõe a essas comunidades, apagando e reprimindo suas práticas culturais e de sobrevivência.
Um exemplo disso é o que ocorre na comunidade de remanescentes de quilombolas da Ilha da Marambaia, em Mangaratiba, no estado do Rio de Janeiro, que enfrenta, historicamente, a usurpação de seu território pelas Forças Armadas, o que resulta no apagamento de suas raízes e ancestralidade.
Para os geógrafos Marcos Aurélio Saquet e Eliseu Savério Sposito, no livro Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos, “deve-se reconhecer que a parcela da sociedade envolvida com o território possui mais do que a posse de uma área. Possui também, laços com aquele espaço, o meio e a paisagem”.
Esses conflitos territoriais – que acompanham uma ideia de modernidade responsável por distanciar, cada vez mais, os humanos do meio natural – evidenciam o poder do Estado e remetem à colonização europeia e às grandes navegações (entre os séculos 15 e 17), que conquistaram novos territórios, na busca por riquezas e poder. Uma herança dessa colonização europeia permanece influenciando leis que fazem parte, até os dias atuais, da gestão territorial no Brasil.