Desde o primeiro momento em que pisei em uma sala de aula como professor, percebi que o meu trabalho não seria simples. Aos 26 anos, recém-aprovado num concurso público para professor de biologia no município de Paracambi, no estado do Rio de Janeiro, enfrentei os olhares curiosos e as risadinhas constrangedoras da minha primeira turma. Ficar em evidência deixava-me nervoso e, por isso, nos primeiros dias, busquei ficar na zona de conforto e ministrei minhas aulas da maneira tradicional: eu escrevia no quadro, os alunos copiavam e, depois, eu explicava o que havia escrito.
Com o passar do tempo, as risadinhas começaram a se transformar em altas gargalhadas, e a indisciplina – encarada como normal naquela escola – impedia que eu explicasse os conteúdos, prejudicando todo o processo de ensino-aprendizagem. Percebi que deveria mudar de estratégia, não apenas pelos alunos, mas por mim, que me sentia frustrado com a falta de atenção durante as aulas.
Foi nessa ocasião que decidi me divertir. Decidi que as minhas aulas deveriam ser um momento de prazer, principalmente para mim. Observei que os meus alunos sempre carregavam fones de ouvido e que as conversas, na maioria das vezes, giravam em torno de temas relacionados à música. A escola em que trabalhava localizava-se em um bairro pobre, e a maioria dos meus alunos, escutava, quase que exclusivamente, músicas do gênero funk. Sendo assim, resolvi utilizar o funk como ferramenta para o ensino de biologia.
Passei a pesquisar os funks mais tocados naquele lugar e percebi que alguns deles traziam mensagens e contavam histórias. Percebi que a cadência da música funk, sem grandes mudanças, sem muitas variações melódicas, facilitava a transmissão da mensagem que o cantor se propunha a passar e comecei a escrever algumas letras com temas relacionados à biologia. Naquela época, outros professores já utilizavam o recurso, mas não de forma sistemática e rotineira.
A reação dos alunos foi positiva em um primeiro momento, mas, após alguns versos, eles logo se dispersavam, e a indisciplina voltava a atrapalhar a aula. Percebi então que precisava melhorar as letras, para que os alunos ficassem em silêncio, a fim de ouvir os versos com atenção, até o final. Passei a misturar os versos de biologia com os acontecimentos que ocorriam na escola.
As músicas sobre respiração celular envolviam a preguiça de alguns alunos durante a educação física, as canções sobre bactérias falavam sobre o cheiro ruim na sala após o recreio e, dessa forma, aos poucos, conseguia fazê-los prestar atenção às letras e, de forma quase homeopática, aos conteúdos.
O tempo se passou e troquei o gênero funk pelo rap. O rap me permite confeccionar letras mais extensas e, atualmente, é bem aceito pelos meus alunos. Muitos grupos e cantores de rap estão na mídia: 1Kilo, Haikaiss, Emicida, Criolo, Ricon Sapiência, entre outros, tocando em alto volume nos fones de ouvido dos meus alunos e levando as mais variadas mensagens.
No segundo semestre de 2017, ingressei no Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (ProfBio), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, junto com minha orientadora e coordenadora do curso, Cassia Sakuragui, estou elaborando um roteiro para a confecção de raps com temas escolares, que poderá ser seguido e aplicado por outros professores.
Em nosso mestrado, primamos pelo ensino investigativo de biologia, e estamos elaborando um trabalho onde os próprios alunos também poderão, após a investigação de um tema proposto, elaborar os seus próprios raps e, assim, assimilar melhor os conteúdos escolares.
Esse roteiro, não auxiliará apenas na confecção dos versos, mas também na escolha da métrica, da melodia e da produção musical como um todo, oferecendo dicas sobre onde conseguir bases melódicas prontas e sobre quais programas de edição musical são de mais fácil utilização. Acreditamos que, dessa forma, estaremos contribuindo para a facilitação do diálogo entre professores e alunos, crucial para o trabalho docente e para o ensino investigativo das ciências biológicas.
Thiago Judice
Aluno do Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (ProfBio),
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Uma curiosidade aguda sobre os motivos de o mar Mediterrâneo ter um azul tão bonito fizeram com que um jovem físico indiano, na década de 1920, descobrisse um fenômeno que hoje é a base de uma técnica poderosa para analisar a matéria.
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