Em uma lua pacata e tecnológica chamada Titã, nasce Thanos, irmão de Eros e filho de Mentor, governador do satélite. Devido a uma crise de falta de alimentos, Thanos viu sua terra natal quase entrar em colapso. Quando ficou mais velho, obstinado em evitar o mesmo destino para outros astros, iniciou uma jornada a inúmeros planetas com o objetivo de aniquilar metade da população do universo e, assim, restabelecer o equilíbrio cósmico entre população e recursos. Apesar de uma ação obviamente reprovável, a intenção do supervilão de Vingadores: ultimato era acabar com a fome, as guerras e todo tipo de desigualdade, melhorando a qualidade de vida da população sobrevivente.
No final do século 18, um pastor anglicano e economista britânico chamado Thomas Malthus teve uma leitura de mundo similar à do personagem da Marvel. Para ele, a população estava crescendo em uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32…), enquanto a produção de alimentos só conseguia crescer em uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6…). Assim, era questão de tempo até a quantidade de gente no mundo superar a quantidade de comida. Quando isso acontecesse, haveria fome, doenças e guerra, que matariam várias pessoas, restabelecendo um equilíbrio na natureza.
Polêmico, Malthus defendia que os culpados pela possível crise de recursos eram as pessoas pobres, porque tendiam a ter mais filhos, sem condição de criá-los. Diferentemente de Thanos, a solução de Malthus para superar o problema não era matar, mas sim a abstinência sexual voluntária e o casamento tardio, principalmente nas classes mais baixas.
Embora Malthus não tenha matado ninguém diretamente, suas ideias inspiraram uma série de desastres. Alguns exemplos são: a Leis dos Grãos, em 1815, que levou a um período de fome, doenças e emigração em massa na Irlanda; a Lei dos Pobres, em 1834, que resultou na criação das ‘casas de trabalho’ na Inglaterra, espécies de campos de concentração para indigentes; a recusa do vice-rei da Índia, Lord Lytton, em enviar ajuda humanitária depois da morte de 10 milhões de indianos vítimas de fome entre 1876 e 1878; o Darwinismo Social, que defendeu a existência de humanos superiores a outros; o Holocausto; a esterilização forçada que mulheres de vários países sofreram; e a política do filho-único na China.
Apesar de Thanos ter matado um sem-número de pessoas, sua visão de mundo não carregava preconceito e elitismo, como se vê em Malthus e seus seguidores. Sua proposta era matar metade da população aleatoriamente, sem escolher entre pobres ou ricos. Assim, Thanos atuaria quase como uma força cega – e inevitável – da natureza, o que não minimiza o problema de sua decisão.
O grande erro de Malthus foi não prever que a tecnologia avançaria a tal ponto que alimentos seriam produzidos em escalas industriais, crescendo muito mais do que em uma progressão aritmética. Outra importante crítica que se faz à teoria malthusiana é baseada no conceito de transição demográfica, proposto já no século 20 pelo demógrafo norte-americano Warren Thompson (1887-1973).
Segundo ele, os países passam por quatro principais fases de transição demográfica: a primeira, com baixo desenvolvimento e pouco crescimento populacional; a segunda, em que a sociedade evolui e há explosão demográfica; a terceira, marcada pela industrialização e modernização do país, com queda no aumento da população; e a quarta, onde está a maioria dos países desenvolvidos, com taxas de natalidade e mortalidade baixas e crescimento populacional próximo a zero.
É curioso que um ser de inteligência sobre-humana possa defender uma teoria econômica tão ultrapassada como a de Malthus. Podemos compreender seu erro de leitura olhando para os neomalthusianos. Segundo esse grupo, mesmo com toda a tecnologia do mundo, a fome e a pobreza resistiriam. Para eles, o excesso populacional ainda é causa não só da fome e da pobreza, como também de gastos excessivos do governo com educação e saúde, afetando negativamente a economia. Até hoje existem correntes derivadas do malthusianismo.
Os ecomalthusianos, por exemplo, colocam a culpa do esgotamento dos recursos naturais da Terra no excesso de pessoas. Há não muito tempo, ouvimos políticos brasileiros propondo o controle de natalidade da população pobre, por meio de cirurgias de laqueadura e vasectomia, como solução para a economia, a miséria e a violência. E há aqueles que reúnem o pior de Thanos e Malthus: a crença de que a causa da fome e da pobreza é o excesso de pessoas e de que a pena de morte para aqueles de comportamento desviante é solução que garantirá maior qualidade de vida para os cidadãos de bem. Seriam esses os MalthusiThanos?
O erro dessas pessoas está em desconsiderar informações cruciais da teoria de Thompson. Como fica claro no conceito de transição demográfica, é justamente a educação, a saúde e o desenvolvimento da ciência e tecnologia que ajudam na regulação do crescimento da população. Da mesma forma, a causa do possível esgotamento de recursos energéticos e das mudanças climáticas globais não é o crescimento populacional, mas o uso de combustíveis fósseis, o desperdício e a poluição dos recursos hídricos e da atmosfera com gases do efeito estufa etc.
O fato é que há comida e dinheiro para que todos vivam com dignidade. Há recursos renováveis na natureza (como etanol, biomassa, biodiesel) e fontes energéticas que não poluem tanto o meio ambiente. Portanto, culpar quaisquer outras coisas por esses problemas é uma forma de criar justificativas para a manutenção da desigualdade no planeta, onde 1% da população concentra 87% de toda a riqueza global (segundo estudo de 2017 da ONG britânica Oxfam).
Portanto, se Thanos tivesse investido em melhorar saúde, educação e redução da desigualdade, teria usado uma estratégia mais eficiente para salvar o planeta e não precisaria encarar os Vingadores.
Lucas Miranda
Editor do blog Ciência Nerd
Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo
Universidade Estadual de Campinas
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