Os artigos publicados na edição da revista Scientific American de março discorrem sobre a mente humana, e a ideia de comentar sobre um deles, o artigo do psicólogo norte-americano Scott Barry Kaufman, da Universidade Columbia (EUA) – ‘Quando a inteligência atinge seu máximo?’ – seguramente foi motivada pelo desejo de saber como me posiciono em relação aos meus semelhantes mais jovens. Kaufman se inspirou num estudo realizado pelo psicólogo norte-americano Joshua Hartshorne, do Boston College, e pela neuropsiquiatra norte-americana Laura Germine, da Escola Médica Harvard (ambas as instituições nos EUA), que aplicaram o teste de QI (quociente de inteligência) padrão a 48.537 pessoas, abrangendo várias faixas etárias.
Apesar da minha objeção sobre o poder do teste de QI de aferir, de fato, a inteligência – esse teste foi idealizado para avaliar o desempenho escolar de crianças –, os resultados de Hartshorne e Germine revelaram dados interessantes, que, ao mesmo tempo, podem ser alentadores para os mais velhos. De maneira resumida, foi descrito o seguinte padrão: a velocidade de processamento e a memória de curto prazo chegam ao máximo, e logo decaem, por volta da adolescência tardia.
Isso está de acordo com a observação da notável – e um tanto irritante – agilidade exibida por crianças ao lidar com as mídias eletrônicas criadas recentemente. Depois, vem a visão espacial, o raciocínio abstrato e outras funções cognitivas que começam a cair aos 30 anos de idade. Em seguida, os autores descobriram que vocabulário e informação genérica somente atingem o pico aos 40 anos. Daí, talvez se origine a noção de que a sabedoria, isto é, o amálgama de todas as inteligências, é uma qualidade que depende essencialmente da vivência.
Os autores desse trabalho concluíram, assim, que, em relação à inteligência, há dois grandes grupos: inteligência fluida (raciocínio abstrato e detecção de padrões) e inteligência cristalizada (vocabulário e cultura geral). Tal conclusão poderia se aplicar a uma classe de profissionais, os intérpretes simultâneos. Sabe-se que os intérpretes mais velhos têm um desempenho melhor que os jovens, pois os primeiros reúnem os atributos de vocabulário e cultura geral e,
além da proficiência linguística, dependem dessas qualificações para fazer um bom trabalho.
Por outo lado, Hartshorne e Germine mostraram que a destreza em testes específicos envolvendo conhecimento sobre química, física e biologia são inversamente proporcionais à idade, sugerindo que o melhor trabalho dos cientistas é produzido durante a juventude.
Kaufman também menciona outro aspecto instigante – sobretudo, para os mais velhos. Ter um objetivo na vida parece ser essencial para a extensão e preservação de uma boa saúde mental. Ele menciona que essa atitude intelectual, esse sentido de missão têm efeito significativo na prevenção de problemas cardiovasculares, acidentes cerebrais vasculares e distúrbios do sono. Embora Kaufman não cite em seu artigo levantamentos populacionais, não causaria surpresa se fosse constatado que artistas, de maneira geral, representassem o grupo dos longevos mais hígidos.
Dessa maneira, supondo que a questão da distribuição etária dos diversos tipos de inteligência é real, torna-se imprescindível que os sistemas sociais de vários países se convençam disso e repensem a questão da aposentadoria. Para aqueles indivíduos ativos e produtivos sem um plano B, a aposentadoria precoce representaria uma sentença de morte, ou um peso extra para os sistemas de previdência social.
De todo modo, olhando o lado positivo do artigo de Kaufman, é reconfortante saber que não há somente um pico de inteligência ao longo da vida de uma pessoa, mas sim que a mente vai se aperfeiçoando por meio de habilidades específicas distribuídas para cada idade. Se tudo isso for verdade, quando os transplantes de cérebro se tornarem uma realidade médica, as idades do doador e do receptor serão parâmetros importantes a considerar.
Franklin Rumjanek
Instituto de Bioquímica Médica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
A primeira fotografia de um buraco negro a gente nunca esquece. Aquela imagem aparentemente ‘fora de foco’ representa muito para a ciência: é a evidência de uma nova forma de ver o cosmo e entender sua imensidão.
Das teses decisivas sobre a importância da infância ao surgimento de uma produção literária destinada aos pequenos leitores neste estágio da vida, as crianças pobres, leia-se mão de obra barata, sempre foram invisíveis.
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