Documentários, animações, filmes, curtas, youtubers… Nesta década, ocorreu um aumento notável na produção de materiais audiovisuais relacionados a matemática e estatística. Os exemplos são muitos: vídeos da TV Escola, do Ministério da Educação; documentários dos canais públicos BBC e PBS; episódios da série Isto é matemática apresentada pelo português Rogério Martins; o canal Numberphile no YouTube com suporte do MSRI; vídeos educacionais TED-Ed; curtas das séries Dimensions e CHAOS idealizadas e produzidas pelo francês Étienne Ghyz e colaboradores; alguns episódios de Os Simpsons e Futurama. Mas, afinal, como usar todo esse conteúdo em sala de aula muito além da mera exibição?
Justamente com o objetivo de potencializar o escopo didático desses vídeos um grupo de professores, alunos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) tem catalogado o conteúdo disponível e elaborado material de apoio no formato de roteiros. Mais do que um texto definitivo, espera-se que esses roteiros sirvam como ponto de partida para que os professores façam adaptações de acordo com as necessidades e características de suas turmas. O material, em constante construção, pode ser acessado aqui.
Antes de apresentar como usar na prática vídeos nas aulas de matemática é preciso responder a uma questão anterior: por quais motivos um vídeo se constitui em um instrumento didático potencial para o ensino e a aprendizagem? Para vários pesquisadores, o vídeo é uma forma de narrativa poderosa e nosso cérebro está calibrado para aprender por meio de histórias. Como aponta o escritor americano Jonathan Gottschall em seu livro The storytelling animal: how stories make ushuman, narrativas são como gravidade, uma força poderosa e abrangente que permeia nossas vidas e que acabamos por não perceber por estarmos tão habituados com ela. De fato, vídeos, quadrinhos, contos, piadas, parábolas (incluindo as religiosas), novelas, músicas, teatro e videogames são todos formas de narrativa que nos cercam e nos ensinam.
Mais especificamente, em seu livro Sapiens: uma breve história da humanidade, o historiador israelense Yuval Noah Harari coloca o papel importante que a narrativa teve na evolução dos seres humanos. De acordo com o autor, foi o surgimento da ficção que permitiu a cooperação humana em grande escala: um grande número de estranhos só pode cooperar de maneira eficaz se acreditar nos mesmos mitos, ou seja, histórias que existem na imaginação coletiva das pessoas. No campo da neurociência, o americano Paul Zak descobriu que uma boa história faz nosso cérebro produzir oxitocina, uma substância que nos deixa mais bondosos, amorosos e receptivos. A oxitocina também é produzida durante o ato sexual, no parto e na amamentação.
Mas, afinal, como todo esse poder das histórias pode ser aproveitado em aulas de matemática? Os roteiros elaborados pelo Cineclube de Matemática e Estatística são divididos nas seguintes seções: ficha catalográfica; seis imagens selecionadas; sinopse; objetivos de uso do vídeo; sensibilização (para montar um cartaz de divulgação); sugestões de questões gerais e de questões específicas; observações para o professor.
As questões gerais são perguntas que podem ser tratadas com os alunos logo após a exibição do vídeo. Além de indagações de cunho matemático, que podem mudar de vídeo para vídeo, três questionamentos estão sempre incluídos: ‘Na sua opinião, o vídeo quer transmitir alguma mensagem? Qual?’, ‘Você aprendeu algo
novo com o vídeo? O quê?’, e ‘Se você fosse o diretor desse vídeo, você faria algo diferente? O quê?’. O objetivo é levar o aluno a fazer uma reflexão sobre o que aprendeu. As questões específicas, por sua vez, são aquelas que, para serem respondidas, se faz necessário que trechos específicos do vídeo sejam revisitados (os tempos dos trechos são indicados no roteiro).
As observações para o professor (parte substancial do roteiro) são orientações didáticas, desdobramentos, indicações de softwares, curiosidades, informações suplementares e materiais históricos relacionados ao vídeo. O objetivo é estabelecer conexões do material do vídeo com outros assuntos e, com isso, maximizar a experiência de aprendizagem para o aluno.
Por fim, uma observação: há professores que deixam de exibir um vídeo ao detectar algum erro no conteúdo. A sugestão dos roteiros é indicar o problema e sugerir que seja usado do ponto de vista didático. Afinal, os erros também ensinam muito!
As atividades propostas pelo projeto têm sido aplicadas em vários eventos de formação de professores, de divulgação científica ao público em geral e em escolas. No Festival da Matemática na Escola SESC em 2017, mais de 1.600 pessoas participaram do cineclube em sessões non-stop durante os quatro dias de evento.
A última escola a receber o projeto foi o Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC), em Niterói, em dezembro de 2018. Os alunos assistiram, entre outros vídeos, à esquete Romanos do grupo Porta dos Fundos, por meio da qual os alunos puderam perceber que, em matemática, um mesmo símbolo (no caso, o ‘x’) pode ter mais de um significado. Adquirir essa percepção de multiplicidade de significados em matemática pode evitar várias dificuldades na compreensão de certos conceitos.
Uma boa experiência é assistir ao vídeo (com duração de pouco mais de dois minutos) e responder: 1) Quais são os significados dados a ‘x’ no vídeo?; 2) Em notação moderna, qual é a equação que está sendo resolvida?; 3) Quais outros significados podem ser atribuídos a ‘x’, incluindo aqueles fora da matemática?
Além do nosso cineclube, indicamos duas outras páginas especializadas em filmes com alguma referência matemática: Mathematics in Movies, de Oliver Knill do Departamento de Matemática da Universidade de Harvard, nos EUA, e Matemáticas en El Cine y enLas Series de T.V., mantida pelo espanhol José María Sorando Muzás.
Agora é só apertar o play para aproximar ainda mais os alunos da matemática.
Humberto José Bortolossi
Universidade Federal Fluminense
Coletivos de estudantes universitários, formados principalmente por jovens mulheres, fortalecem as lutas antirracistas e investem em pautas como transformação do ensino superior, enfrentamento do patriarcado, da LGBTfobia, entre outros tipos de opressão.
Uma das autoras de pesquisa pioneira que revela os efeitos da molécula irisina no cérebro de pacientes com Alzheimer, Fernanda de Felice explica como exercícios físicos recuperaram a memória de camundongos em experimentos e o que falta para verificar a eficácia da descoberta em humanos.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |