Os avanços tecnológicos, aliados ao compromisso com a sustentabilidade e a equidade, podem fazer da medicina laboratorial uma importante base para a construção de um sistema de saúde mais inteligente, eficiente e justo socialmente
Os avanços tecnológicos, aliados ao compromisso com a sustentabilidade e a equidade, podem fazer da medicina laboratorial uma importante base para a construção de um sistema de saúde mais inteligente, eficiente e justo socialmente
CRÉDITO: IMAGEM ADOBESTOCK

Imagine um agente de saúde que visita uma comunidade ribeirinha no Amazonas com uma bolsa. Ele coleta uma pequena quantidade de sangue de um indivíduo, encaixa essa amostra em um cartucho do tamanho de um celular e, poucos minutos depois, recebe o resultado do exame. O resultado é enviado simultaneamente a um especialista em Manaus para confirmar o laudo, e a conduta de tratamento é ajustada na hora. Essa cena – exames rápidos, portáteis e conectados – tende a se tornar comum no Brasil em um futuro não longínquo.
A medicina laboratorial, que hoje muitos enxergam como ‘os exames do laboratório’, vai ganhar outro papel: o de sistema nervoso da saúde. Com dados integrados e apoio de inteligência artificial, os laboratórios ajudarão médicos a tomar decisões mais rapidamente e com maior precisão, e gestores a enxergar tendências de adoecimento. Em vez de um laudo levar dias, muitos exames serão realizados quase em tempo real – sem perder a qualidade, a segurança e a participação humana.
Essa virada tecnológica fará mais sentido ainda se for acompanhada por mais equidade. O Brasil é um país grande e desigual: há hospitais em grandes cidades, com equipamentos de última geração; enquanto muitas regiões e municípios ainda lutam para manter uma rotina básica de exames. Uma alternativa é organizar redes regionais de diagnóstico, com laboratórios centrais bem equipados que gerenciem remotamente pontos descentralizados de testagem (em Unidades Básicas de Saúde, farmácias, ambulâncias, agentes de saúde e até domicílios). Os dados gerados nas unidades descentralizadas seriam transmitidos pela internet aos laboratórios centrais, para que os resultados sejam validados e a decisão clínica chegue a quem precisa – da periferia urbana ao interior da floresta.
Mais do que ‘confirmar doenças’, os laboratórios também terão o papel de sensores da saúde coletiva. A mudança climática aumenta a circulação de vetores, altera padrões de surtos e pressiona a infraestrutura de saúde. Ter capacidade de vigiar em tempo real, detectar sinais precoces, prever tendências, surtos e epidemias e ainda responder rápido vira condição de segurança sanitária – inclusive com unidades móveis e protocolos para operar em situações extremas. Nesse cenário, laboratórios deixam de ser coadjuvantes e passam a integrar a infraestrutura crítica do país.
É preciso considerar também que a saúde está ligada ao compromisso com o planeta: se, por um lado, o desequilíbrio ambiental gera novas epidemias e problemas de saúde, por outro, todo o ecossistema relacionado à saúde precisa ser coerente e adotar um comportamento sustentável. O setor laboratorial consome energia, água e gera resíduos. A boa notícia é que a própria inovação oferece caminhos para reduzir esses impactos – uso de equipamentos mais eficientes, microvolumes de amostras e reagentes, materiais recicláveis e processos de economia circular. Medir impacto (como consumo energético por exame e resíduos por amostra) e melhorar continuamente precisa deixar de ser ‘diferencial’ e virar parte do padrão de qualidade.
Outra lição recente é a necessidade da soberania diagnóstica. A dependência externa de insumos, reagentes e softwares críticos fragiliza o sistema de saúde em tempos de crise. Fortalecer o Complexo Econômico‑Industrial da Saúde, inovar e produzir no Brasil parte do que usamos e desenvolver testes e algoritmos ajustados ao nosso perfil epidemiológico aumentam a resiliência do país. Isso caminha junto com proteção de dados, cibersegurança e transparência nos sistemas baseados em IA.
E os profissionais? Longe de ‘substituir pessoas’, o uso de automação e de inteligência artificial muda o tipo de trabalho. Existe uma crescente demanda por profissionais que dominem bioinformática, ciência de dados, engenharia biomédica, segurança da informação e automação de processos – trabalhando lado a lado com médicos, biomédicos e farmacêuticos. A formação contínua já migra para plataformas digitais, simulações e mentoria, acelerando a atualização do país inteiro e reduzindo barreiras regionais de acesso ao conhecimento.
No fim, a pergunta importante não é ‘Qual tecnologia teremos em 2050?’, mas ‘Quais escolhas faremos agora?’. Se priorizarmos ciência, produção nacional, integração de dados com privacidade, sustentabilidade ambiental e equidade entre regiões, essas escolhas podem transformar os laboratórios em pilares de um sistema de saúde mais inteligente – e mais justo socialmente. Exames que chegam aonde as pessoas estão, decisões clínicas mais rápidas e políticas públicas orientadas por evidências: é assim que o diagnóstico e a tecnologia deixam de ser gargalos e viram motores do cuidado.
Se priorizarmos ciência, produção nacional, integração de dados com privacidade, sustentabilidade ambiental e equidade entre regiões, essas escolhas podem transformar os laboratórios em pilares de um sistema de saúde mais inteligente – e mais justo socialmente
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