Fundação Oswaldo Cruz
A saída de pesquisadores do Brasil em busca de melhores condições de trabalho é um fator crítico para o desenvolvimento tecnológico e científico do país, principalmente para a pesquisa translacional de alto nível
CRÉDITO: IMAGEM ADOBESTOCK
A fuga de cérebros (brain drain) tem se tornado uma questão alarmante no Brasil, reflexo da insatisfação de muitos cientistas com a ausência de oportunidades adequadas de trabalho no país. O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, estima que cerca de 6,7 mil cientistas deixaram o país nos últimos anos e optaram por continuar suas pesquisas no exterior. A falta de investimentos, bolsas de pesquisa congeladas por muitos anos e cortes de verbas para manutenção de equipamentos são fatores que contribuem para essa diáspora acadêmica. Dados recentes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) apontam que mais de 2.500 cientistas brasileiros, espalhados por 56 países, têm o desejo de retornar ou colaborar com o Brasil. Essa realidade evidencia não apenas a busca por melhores condições de trabalho, mas também um significativo potencial de retorno que o país poderia aproveitar. Estudos indicam que a falta de uma carreira estruturada e a carência de oportunidades de desenvolvimento profissional são fatores que impulsionam esse êxodo.
Esses dados alarmantes mostram que a diáspora científica representa não apenas uma perda irreparável de talentos, mas também um fator crítico que impacta diretamente o desenvolvimento tecnológico e científico do país, especialmente no que se refere à pesquisa translacional de alto nível. Quando cientistas altamente qualificados abandonam o Brasil, o país não apenas perde o conhecimento que poderia aplicar em pesquisas relevantes, mas também a força de trabalho necessária para impulsionar iniciativas que poderiam beneficiar a sociedade. Essa situação resulta em uma redução da capacidade do Brasil de competir em um cenário internacional nas áreas-chave da ciência e tecnologia. O impacto negativo se estende às instituições acadêmicas e de pesquisa, que enfrentam a dificuldade de manter projetos com profissionais capacitados, prejudicando a inovação e a produção de conhecimento no país.
Os mecanismos de retenção de cientistas recém-formados, geralmente por meio de bolsas de pesquisa, mostram-se inadequados e insuficientes. Essas bolsas constituem instrumentos precários, com prazo determinado e sem garantias de continuidade, o que gera um ambiente de instabilidade para os pesquisadores e para os projetos de pesquisa. Além disso, a falta de proteção em termos de seguridade social e contribuições previdenciárias deixa esses profissionais à mercê de incertezas, criando legiões de cientistas desassistidos que permanecem em situações precárias por longos períodos. Não é raro depararmo-nos com alguns cientistas perto de alcançarem os 40 anos sem jamais terem experimentado um vínculo formal de trabalho, o que acarreta uma realidade de desassistência e desestímulo, provocando a sensação de ausência de oportunidades de desenvolvimento e crescimento profissional.
Diante desse panorama, é urgente a formulação e implementação de políticas públicas que priorizem a retenção de cientistas, focando na construção de vínculos formais de trabalho. É essencial que esses vínculos proporcionem, ao menos, certa proteção social e previdenciária, e isso deveria incluir o momento de formação desses cientistas no doutorado. Os estudantes de doutorado que recebem bolsas de pesquisa deveriam ser incluídos no sistema de seguridade social e ter seu tempo de permanência no doutorado contabilizado para fins previdenciários. Ao criar um ambiente mais estável e promissor, é possível não apenas reter os talentos existentes, mas também atrair novos pesquisadores para o Brasil. Essas medidas não apenas valorizariam o trabalho científico, mas também teriam um papel fundamental na revitalização do desenvolvimento tecnológico nacional.
A questão da fuga de cérebros do Brasil não pode ser ignorada; é um desafio que requer a atenção e a ação coordenada das autoridades e instituições. Investir na formação de uma carreira sólida e estruturada para os cientistas brasileiros é um passo essencial para reverter esse quadro e garantir que o país não apenas retenha seus talentos, mas também os utilize plenamente para o avanço científico e tecnológico. Com uma abordagem mais consciente e estratégica, o Brasil pode reverter sua diáspora científica e criar um motor de desenvolvimento e inovação, garantindo um futuro mais promissor para suas pesquisas.
Investir na formação de uma carreira sólida e estruturada para os cientistas brasileiros é um passo essencial para reverter esse quadro e garantir que o país não apenas retenha seus talentos, mas também os utilize plenamente para o avanço científico e tecnológico
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