Grupo de Biofísica e Biologia Estrutural
Instituto de Física de São Carlos - Área II
Universidade de São Paulo

Valorizar a colaboração entre as várias áreas do conhecimento durante a formação de pesquisadores e promover a interação entre grupos de pesquisa, governo e indústria é essencial para que a atividade científica se converta em benefícios para a população

CRÉDITO: LAURA FLEURY VIA IA (CHATGPT/OPENAI)

A prática da atividade científica como a conhecemos é dividida tradicionalmente em áreas de conhecimento bem definidas, como ciências biomédicas, exatas e sociais. Essa divisão se aprofunda ainda mais, e os profissionais se especializam em áreas como imunologia, cardiologia e parasitologia, para ilustrar algumas.

Técnicas novas e complexas nos mais diversos campos de atuação têm sido desenvolvidas e implementadas a uma velocidade assustadora. O volume de conhecimento gerado, retratado pelos milhares de artigos científicos publicados anualmente, exige dos pesquisadores uma grande dedicação para se manterem informados em suas áreas específicas.

Entretanto, os fenômenos naturais não possuem fronteiras definidas, sendo, na realidade, translacionais e interdisciplinares em sua essência. A natureza translacional da ciência é ainda mais importante ao se traduzir o conhecimento científico para o benefício da população, o que envolve a transferência de conhecimento para o setor industrial ou para políticas públicas.

Como exemplo, podemos analisar os avanços no combate à pandemia de Covid-19, que nos trouxe lições importantes para enfrentarmos as futuras pandemias que certamente virão.

Em tempo muito curto, pesquisadores de diversos países, inclusive do Brasil, decifraram o código genético do vírus SARS-CoV-2 e de suas variantes. Esse esforço foi resultado da união de pesquisadores dedicados à virologia, genômica, biologia molecular, epidemiologia e saúde pública com os médicos nas frentes de atendimento à população. E a atuação translacional conjunta dessas áreas das ciências biomédicas e biológicas com áreas das ciências exatas, como a matemática, a física e a informática, resultou no rápido avanço do conhecimento e no surgimento de intervenções para combater a pandemia.

A aplicação e o desenvolvimento de metodologias de informática permitiram a elaboração de modelos matemáticos de propagação da doença e predição de sua transmissão. O conhecimento do genoma do vírus e de suas variantes foi empregado por técnicas físicas e biofísicas na resolução da estrutura atômica das proteínas do vírus e de como elas interagem com as proteínas do paciente. Áreas da química, como a química medicinal, usaram os conhecimentos gerados para avançar na busca por fármacos, ao mesmo tempo em que contribuíram para prever como diferentes proteínas interagem e identificar potenciais alvos para a produção de vacinas. Essa interação translacional resultou no rápido desenvolvimento de vacinas e programas de imunização, levando ao controle da pandemia, após a avassaladora perda de vidas e o sofrimento humano.

Mas como realizar pesquisa multidisciplinar e translacional se esta impõe o domínio de um vasto e avançado conhecimento? A resposta se assenta em duas vertentes.

A formação de mestres e doutores necessita ser vista sob a ótica da ciência translacional. Na impossibilidade de oferecer conhecimento e treinamento aprofundados em todas as áreas, os programas de pós-graduação podem apresentar uma visão sistemática, mesmo que superficial, de áreas adjacentes de pesquisa, enquanto aprofundam o conhecimento nas áreas específicas de cada programa. Dessa forma, os mestres e doutores, os futuros pesquisadores brasileiros, poderão interagir com colegas de diferentes áreas, desenvolvendo um diálogo e uma aliança produtiva e atuando em redes de colaboração para responderem questões relevantes.

Além disso, é preciso estabelecer políticas públicas que promovam a criação de pontes de contato entre grupos de pesquisa com órgãos governamentais ou a indústria, para permitir a identificação de demandas e definição de soluções. Essa atividade requer políticas de apoio e inovação em ciência que reconheçam e promovam a sinergia de grupos de pesquisa, além de incentivar diferentes órgãos da administração pública a identificarem e buscarem o contato com esses grupos de pesquisa.

Em síntese, a pesquisa translacional depende de uma visão ampla dos programas de pós-graduação e do suporte de instituições que tenham como objetivo o incentivo à formação de pontes entre diferentes setores da atividade humana. Se a pandemia de Covid-19 nos ensinou algo, certamente a importância da pesquisa translacional e multidisciplinar não pode ser ignorada.

A pesquisa translacional depende de uma visão ampla dos programas de pós-graduação e do suporte de instituições que tenham como objetivo o incentivo à formação de pontes entre diferentes setores da atividade humana

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