‘Império da dor’ sob o olhar da química

Instituto de Química
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Um passeio pela história do ópio aos opioides e uma comparação da estrutura de drogas como morfina e heroína mostram que a trajetória do analgésico OxyContin, retratada em livro e série homônimos, era tragédia anunciada

Após a morte do chefe de uma poderosa família, seus dois irmãos se reúnem com um sobrinho visionário para promover a venda em massa de um derivado da morfina. Subornando agentes do governo, manipulando pessoas e usando jovens belas e ambiciosas para promover seu produto, a família alcança êxito em sua jornada. O comércio gera lucros na ordem de bilhões de dólares, porém, a principal consequência é a morte de milhares de americanos.

O enredo poderia anunciar uma nostálgica continuação do clássico Scarface ou quem sabe um novo filme ligado à saga da família Corleone. No entanto, trata-se de Império da dor, minissérie da Netflix que esteve entre as mais assistidas no ano de 2023 e tem como pano de fundo a saga da família Sackler e do OxyContin, analgésico comercializado pela Purdue Pharma.

A série é fundamentada em uma história verídica, apresentada no livro homônimo escrito pelo jornalista investigativo Patrick Radden Keefe. No entanto, ela não segue o formato documental de outros títulos apresentados pela plataforma de streaming. Em uma sequência de seis episódios, misturando ficção e realidade, a série nos transporta para o universo onde a venda de um medicamento, impulsionada por uma estratégia agressiva de propaganda, leva ao consumo em massa de opiáceos, afetando as vidas não só de jovens que buscavam um novo barato, como também de pessoas comuns, que por algum motivo precisavam aliviar sua dor e confiaram em seus médicos.

Oxicodona, um opiáceo dentre muitos outros

Poderíamos dizer que a história por trás de Império da dor tem seu início nos primórdios da civilização, quando foram descobertas as sensações prazerosas advindas do consumo de uma bela flor: a papoula (Papaver somniferum L.). A partir dela, é produzido o ópio, um narcótico obtido pela secagem do látex extraído da cápsula da flor. A composição química do ópio é relativamente complexa, e nele encontramos carboidratos, proteínas e gorduras, além de substâncias chamadas de alcaloides, que são responsáveis pelos efeitos observados ao se consumir esse narcótico.

Poderíamos dizer que a história por trás de Império da dor tem seu início nos primórdios da civilização, quando foram descobertas as sensações prazerosas advindas do consumo de uma bela flor: a papoula

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