Selecionada em edital de pós-doutorado para desenvolver sua pesquisa em arqueobotânica, pesquisadora descendente de indígenas e quilombolas conta como superou obstáculos para avançar nos estudos
Selecionada em edital de pós-doutorado para desenvolver sua pesquisa em arqueobotânica, pesquisadora descendente de indígenas e quilombolas conta como superou obstáculos para avançar nos estudos
CRÉDITO: FOTO CEDIDA PELA AUTORA
Antes de escrever este texto, li todos os perfis da seção Mulheres na Ciência, publicados no site da revista Ciência Hoje. São trajetórias incríveis, mas, infelizmente, não me vi em nenhuma delas. Lembrei-me de quando fui escrever os agradecimentos da tese de doutorado – acreditem, uma das etapas mais difíceis da tese é escrever os agradecimentos. Eu lia uma tese atrás da outra para me inspirar e nada me servia, era tudo parecido, nada serviria de modelo para mim. Ali, percebi o quanto a ciência brasileira é feita por pessoas que tiveram trajetórias de vida quase iguais. Assim como todos os agradecimentos que eu li, os textos desta seção também, em sua maioria, retratam mulheres que destacam os pais e a família por todo esforço para que elas se tornassem as cientistas brilhantes que são.
Eu estou na estatística dos milhões que não têm nome do pai no registro, que não foram criados pela família biológica, que mal sabem quem são seus pais. Eu adoraria poder dizer que sou fruto do esforço coletivo, ou de uma mulher guerreira que lutou para eu estudar, mas a verdade é que sou fruto do abandono coletivo, do Estado, da sociedade, e da ideia medíocre de que somente a quem pariu cabe a tarefa de cuidar.
Eu adoraria poder dizer que sou fruto do esforço coletivo, ou de uma mulher guerreira que lutou para eu estudar, mas a verdade é que sou fruto do abandono coletivo, do Estado, da sociedade, e da ideia medíocre de que somente a quem pariu cabe a tarefa de cuidar
Aprendi a ler sozinha antes mesmo de ir à escola. Lembro-me de cada um dos poemas que aprendi. Nunca, em toda a minha vida, me lembro de alguém ter me ensinado um dever de casa. Os livros eram meu refúgio. A escola era o melhor lugar que eu frequentava, eu odiava férias. Passei a vida morando de favor de casa em casa, e a escola era um lugar estável. Sempre gostei de fazer pesquisa. Adorava quando as professoras passavam trabalhos, nunca deixei de entregar um trabalho do pré-escolar ao doutorado. Os livros salvaram minha vida. Eu não me tornei leitora com o incentivo dos pais ou qualquer outro estímulo intelectual. Foi a única forma que eu tive de não enlouquecer. Os livros ainda são meu porto seguro, preciso ler para (r)existir.
Minha mãe era moradora de rua e morreu quando eu era criança. Foi enterrada como indigente. Ao completar cerca de 13 anos, resolvi morar sozinha, num cortiço onde eu pagava aluguel. Trabalhava como freelancer de babá e acompanhante de festas infantis. Nos dias em que trabalhava, estudava à noite. Nos demais, eu estudava na biblioteca do Centro Cultural de Montes Claros (MG), onde nasci. Costumava ficar na porta quando chegavam para abrir; e ser convidada para ir embora, quando era hora de fechar. Foi lá que mexi em um computador pela primeira vez para tentar decifrar o edital do vestibular, entender toda a burocracia para tentar as cotas, uma adolescente sozinha aos 16 anos. Não por acaso, passei em primeiro lugar pelas cotas raciais.
A universidade, inicialmente, me decepcionou. Esforcei-me tanto e, ao chegar lá, descobri que os universitários não eram tão cultos quanto eu esperava. Muitos só estavam ali pela ordem natural do destino. Era natural para eles, era esplêndido para mim. A pesquisa então me salvou. Todos os que gostavam de ler, escrever, debater, refletir, problematizar, estavam envolvidos com pesquisa e, assim, logo fui parar na porta de um laboratório.
A universidade, inicialmente, me decepcionou. Esforcei-me tanto e, ao chegar lá, descobri que os universitários não eram tão cultos quanto eu esperava. Muitos só estavam ali pela ordem natural do destino. Era natural para eles, era esplêndido para mim
Sou geógrafa, mas a geografia humana me desafiava pouco, afinal pobreza, racismo e desigualdade eram temas com os quais eu tinha muita intimidade. A geografia física me desafiou mais, talvez por ser “hard sciences”, mistura de matemática com biologia, química e história. Foi assim que eu escolhi a ecologia. Saí dos corredores do prédio de Ciências Humanas, da Universidade Estadual de Montes Claros, onde fiz graduação, e fui bater na porta do Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal. Fui aceita e bem recebida. Saí de lá melhor botânica que muito biólogo.
No terceiro período, já sabia que queria fazer mestrado, estudando vegetação, e doutorado em solos. E fiz, na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Só não sabia ainda que a academia é corporativista, e isso me impediria de tentar muitos concursos, pois a interdisciplinaridade que se prega, não é repassada ao que pedem nos editais para docência universitária.
Tive uma filha durante o mestrado e fiquei conhecida na universidade inteira por ser a primeira pós-graduanda a circular com uma criança, frequentemente, pelo campus até concluir o doutorado. Quantas vezes as faxineiras, a moça do xerox ou o motorista do ônibus cuidaram da minha filha, enquanto eu desenvolvia minhas análises. Era a esse povo que eu precisava agradecer na tese.
E aqui estou, já doutora, ainda lutando por um lugar, esperançosa por ter sido selecionada pelo Instituto Serrapilheira e pela Faperj em edital de pós-doutorado que me considerou destacável dentre centenas de pesquisadores negros e indígenas. Participarei do Laboratório de Arqueologia da Paisagem do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em uma pesquisa sobre arqueobotânica na reconstituição da paisagem da região da Cordilheira do Espinhaço. Quero saber o que supostos fragmentos de microcarvão podem dizer sobre o passado de solos de turfeiras e ilhas de florestas nebulares. Quem sabe a presença humana na região seja anterior a que até então conhecemos. Ousar lutar, ousar vencer, saudações a quem tem coragem!
E aqui estou, já doutora, ainda lutando por um lugar, esperançosa por ter sido selecionada pelo Instituto Serrapilheira e pela Faperj em edital de pós-doutorado que me considerou destacável dentre centenas de pesquisadores negros e indígenas
Diretora da Anistia Internacional Brasil (AIB), Jurema Werneck destaca que preservar as vidas e a dignidade de todas as pessoas ainda é um grande desafio, apesar dos avanços obtidos com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948
Você já deve ter visto uma abelha carregando pólen ou um beija-flor sugando néctar de uma flor. Mas grande parte dessas interações no reino vegetal é invisível: elas se dão por meio de associações com bactérias e fungos do solo.
Este tem sido o ano mais quente da história. O Brasil foi assolado, até agora, por oito ondas de calor insuportável. Mas isso tem a ver com o aquecimento global? A resposta dos cientistas: sim, há nisso um peso significativo das mudanças climáticas.
Espécies que ocorrem fora de sua área de distribuição natural e que crescem de modo agressivo – muitas vezes introduzidas num local pela atividade humana – causam graves danos ambientais, econômicos e à saúde humana, e merecem a atenção criteriosa dos gestores
Com uma injeção de nanopartículas lipídicas, obtidas a partir da técnica CRISPR-Cas9, já é possível tratar a hipercolesterolemia familiar – alteração genética transmitida por pai ou mãe que dificulta a eliminação do ‘mau colesterol’, cujo acúmulo no organismo causa doenças cardiovasculares.
Pesquisadores chineses e brasileiros descreveram o mais completo réptil alado de um grupo raro denominado Chaoyangopteridae, que foi encontrado em rochas de cerca de 125 milhões de anos e celebra duas décadas de colaboração entre os dois países na paleontologia
Ter vencido um câncer na juventude levou a bioquímica Mariana Boroni a se dedicar à pesquisa oncológica, passando pelo estudo de proteínas e pelo uso de ferramentas da informática e da biologia molecular para tentar responder perguntas cruciais da oncologia.
Apaixonada pela matemática desde pequena, Carla Negri Lintzmayer, vencedora do prêmio ‘Para Mulheres na Ciência 2023’, escolheu a ciência da computação para investigar questões estruturais de casos reais ou teóricos e resolver problemas de forma eficiente.
Apesar do pouco contato com o tema no ensino básico, Sabine Righetti conta como descobriu o jornalismo científico e criou uma agência para divulgar a pesquisa nacional, o que a levou a conquistar o Prêmio José Reis, o mais importante da sua área
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maria silva
O primeiro artigo que eu leio completo no ciência hoje, e chorei em cada parágrafo com essa mulher que é sinônimo de coragem, sabedoria e uma força de vontade absurda, é bom saber que ela venceu e continua vencendo, busco toda dia essa coragem e o foco que mal tenho, pra poder melhorar um pouco a minha vida e a da minha família, é difícil porque são tantas coisas pra te derrubar, te fazer desistir, e as vezes a vontade é permanecer na cama até esse momento ruim passar, e lendo o artigo da thamyres me ajudou a tentar vencer mais um dia, porque vale a pena o que me espera, vale a pena a conquista.