Há especial interesse no estudo do aprendizado e da memória em insetos que são vetores de doenças em humanos. A razão principal é que, ao se conhecer melhor o comportamento desses animais, poderíamos, por exemplo, desviá-los não só para hospedeiros que não sejam bons reservatórios para os parasitos transmitidos por eles, mas também para locais menos perigosos para nós.
Mas por que estudar insetos aparentemente sem importância para humanos? Resposta: os dados obtidos a partir desses modelos poderiam ser úteis para compreender o sistema nervoso de outros animais – e, como bônus, a evolução da cognição.
Em seu livro 1984, o autor britânico George Orwell (1903-1950) escreve: “quem controla o passado controla o futuro”. A passagem pode ensinar lição útil ao estudo dos insetos: poderíamos ensiná-los a ter preferência por certos alimentos ou a fazer a postura dos ovos em locais mais interessantes (ou menos perigosos) para nós.
Vamos a exemplos. Mosquitos Culex da Tailândia voltavam a picar animais da mesma espécie (porcos ou bois) que já haviam picado, mas não transmitiam essa preferência para seus descendentes.
Isso é indicativo de que esse comportamento é fruto de aprendizado e memória – e não de processo baseado na seleção natural. Nesse caso, seria útil reforçar a preferência por bois, que não são bons hospedeiros para o vírus que transmite, para humanos, a encefalite japonesa (doença inflamatória do sistema nervoso central).
Fêmeas imaturas do mosquito tropical urbano (Culex quinquefasciatus) criadas em água com substância atraente (p-cresol) ou repelente (escatol) passaram, quando adultas, a fazer a postura em água com a mesma substância em que se desenvolveram.
Fêmeas dessa espécie, bem como as do mosquito Aedes aegypti (transmissor da dengue, chicungunha e zika), quando submetidas a doses subletais de cinco inseticidas, aprenderam a evitar o contato com esses compostos. Há muito, sabe-se que mosquitos evitam o contato com superfícies em que há inseticidas, comportamento que, provavelmente, envolve aprendizado.
Quando treinados em laboratório para atacar determinada espécie, predadores e parasitoides de pragas têm menor preferência por outros alvos. Mais uma vez, isso pode ser entendido como resultado de aprendizado.