O centenário Castelo Mourisco, prédio emblemático não só da Fiocruz, no Rio de Janeiro, mas simbólico para a ciência nacional, é o local desta entrevista. E o entrevistado, o economista e professor Carlos Grabois Gadelha aproveita o cenário para alertar: “O cientista precisa se desencastelar, ir para as ruas, conversar com as pessoas”. Para o coordenador das Ações de Prospecção da Presidência da fundação, uma boa oportunidade para tal vem aí, a 16ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), de 21 a 27 de outubro, que trata de um tema urgente no atual contexto político e econômico brasileiro: Bioeconomia: diversidade e riqueza para o desenvolvimento sustentável. “Mais do que o caráter técnico da SNCT, destaco o projeto ético-político de conversar com a sociedade sobre um padrão de desenvolvimento em que a ciência, a equidade e o ambiente são importantes”, enfatiza. A bioeconomia, para Gadelha, é uma grande oportunidade de desenvolvimento para o Brasil. “Precisamos mudar o paradigma de que só se desenvolve destruindo, é possível desenvolver criando, gerando conhecimento, respeitando a equidade, o ser humano e a natureza”, opina ele, que foi Secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, além de secretário Nacional do Ministério de Integração Nacional e do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior. “Se a gente não mudar o nosso olhar do desenvolvimento, vamos seguir crescendo de 1 a 2% ao ano e chorando porque continuamos pobres e desiguais”.
Ciência Hoje: Como definir a bioeconomia?
Carlos Gadelha: A bioeconomia representa uma visão de que não se pode separar a economia da natureza. A atividade produtiva, do início até o final, envolve a economia, a natureza e a biologia. No início, são mobilizadas as capacidades humanas e utilizados os recursos naturais. E, ao final do ciclo – daí também ser associada à economia circular – não podemos ter apenas rejeitos jogados na natureza, o descarte tem que acontecer de forma sustentável. Por isso, a bioeconomia envolve os processos de produção, distribuição e descarte dos produtos que são utilizados. É um processo sistêmico e circular – essas palavras são absolutamente importantes – e trata da relação da economia com a natureza, não de forma dual, como se houvesse de um lado a economia e, do outro, a natureza. Na perspectiva que trabalho academicamente, os sistemas econômico, social e ambiental são interdependentes. Social também porque não há bioeconomia com desigualdade. É uma radicalização da visão ecológica do ponto de vista da economia. Se não tivermos essa visão abrangente, corremos o risco de destruir a base natural em que a própria economia se dá..
Valquíria Daher
Instituto Ciência Hoje
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