Logo de início, o filme nos conta que o nome Bacurau vem de um pássaro agressivo e de hábitos noturnos, o que já diz muito sobre a história. Aliás, é possível aprender muitas coisas com o filme, e mesmo depois de assisti-lo, dada a riqueza da simbologia apresentada. Para muitos – aqui me incluo –, a maioria desses símbolos persistirá nas lembranças, em uma releitura constante na busca de significados.
Mas, afinal, do que fala Bacurau, o filme?
Bacurau é uma pequena vila esquecida no Oeste pernambucano, forjada na resistência. O aviso para o forasteiro que chega é claro ao dizer: venha na paz. E parece bem dado!
Conta-se que Bacurau já esteve no mapa, mas agora parece que está fora, literalmente! Também está fora da atenção do estado, representado por políticos corruptos, e só persiste no lugar pela dureza de seus habitantes, que historicamente aprenderam a desconfiar e a se defender. E com muita coragem!
Estranhamente, o filme inicia-se com um marco temporal que informa estar em um futuro não muito distante, embora a paisagem e a realidade pareçam apontar para o passado. Aliás, a sensação é a de que estamos sempre presos ao passado e à tradição.
O filme traz ainda uma riqueza e diversidade incríveis de personagens, em uma composição que representa um mosaico do Brasil. O Brasil de ontem, o Brasil de hoje e, provavelmente, o Brasil de amanhã.
Bacurau também lida com a triste realidade do confronto que envolve o tema do racismo em uma amplitude e profundidade que beiram o absurdo. Mostra um racismo cru, que toca em questões que vão da supremacia branca à injustiça ambiental.
Além disso, o tempo todo o expectador é convidado a refletir sobre o passado do Nordeste, repleto de histórias de resistências, lutas e muita violência. A história brinca com esse esquecimento, insistindo constantemente nessa relembrança. A memória é, na verdade, colocada como um patrimônio que não pode – e não deve – ser esquecido.
Acima de tudo, é preciso reconhecer que Bacurau é duro. Carrega a violência do abandono e da exploração, tanto que a sensação de desprezo é constante e, no decorrer do filme, só aumenta. E como isso machuca! Recomendo aqui que não deixem de prestar atenção aos detalhes, que não são poucos, e tentem ligar os pontos dessa rede intrincada.
A fotografia imprime o ritmo da história, alimentando a ansiedade dos expectadores, que sabem, mesmo sem saber direito, a dureza do que está por vir.
Um dos aspectos mais marcantes do filme é a descrição do lugar, cercado por uma serra verde, o que, em uma primeira impressão, induz uma paisagem bucólica. Mas esta mesma descrição avança mais detalhadamente sobre alguns tipos de vegetação encontrados no lugar e que traiçoeiramente podem ser muito nocivos. Cada uma dessas informações vai compondo um paralelo com o que se pode esperar de Bacurau.
Vale comentar também sobre os caixões que acompanham o espectador durante todo o filme. E não são poucos! Assim como todo o resto, eles estão repletos de significados.
Enfim, Bacurau é uma obra rica. E melhor ainda: é uma obra nacional, merecidamente premiada. Em dias duros como os atuais, o filme nos traz uma estranheza confusa de que, de alguma forma, somos fortes, mesmo quando não parecemos ser.
Carla Madureira Cruz
Departamento de Geografia,
Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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