Embora funcione, o mecanismo de ação dos repelentes para nos fazer passar despercebidos a esses insetos é ainda pouco conhecido.
Embora funcione, o mecanismo de ação dos repelentes para nos fazer passar despercebidos a esses insetos é ainda pouco conhecido.
CRÉDITO: IMAGEM ADOBE STOCK
No início de 2024, a disparada do número de casos de dengue culminou em uma epidemia que trouxe grande preocupação não apenas para o Brasil, mas também para outros países da América do Sul. Além das medidas fundamentais para impedirmos a proliferação do mosquito Aedes aegypti, o uso de repelentes tornou-se parte importante do nosso cotidiano. Como esperado, muitas perguntas surgiram sobre qual repelente usar, se o sintético é melhor do que o natural, e sobre como essas substâncias agem. Verdade seja dita, o mecanismo de ação dos repelentes ainda é pouco conhecido. Porém, estudos científicos recentes trazem alguma luz sobre essas questões.
Para início de conversa, é interessante entendermos como os mosquitos nos detectam. E, cabe destacar, são as fêmeas dos mosquitos que precisam do nosso sangue para a produção dos seus ovos. Elas são atraídas pelo gás carbônico que eliminamos na expiração e por moléculas que exalamos através da nossa pele, responsáveis pelo nosso odor. Essas substâncias se ligam a receptores de seu sistema olfativo, bastante especializado e complexo, que se distribui por três partes do seu corpo: as antenas, os palpos maxilares e a probóscide. Esses receptores são proteínas, e, quando o gás carbônico ou as moléculas de odor se ligam a elas, uma cascata de sinalização é iniciada, convertendo o sinal químico em um sinal elétrico no sistema nervoso da fêmea do mosquito.
Com base nisso, em 2022, cientistas da Universidade Industrial de Santander, na Colômbia, fizeram um estudo interessante com fêmeas do mosquito Aedes aegypti, publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature. Eles introduziram pequenos eletrodos no olho e na base da antena dos mosquitos e mediram como o sinal elétrico produzido por uma molécula capaz de atrair o inseto variava na presença ou na ausência de diferentes repelentes.
No caso, utilizaram como modelo a amônia, uma substância volátil emitida pelo nosso corpo, bastante conhecida por atrair mosquitos. Já os repelentes usados foram o N,N-dietil-meta-toluamida (DEET), um repelente sintético encontrado em uma vasta gama de produtos comerciais, e os compostos acetato de geranila, α-bisabolol e nerolidol, componentes naturais encontrados em óleos essenciais cuja ação repelente havia sido comprovada em estudos anteriores.
Quando os cientistas emitiam apenas amônia, verificavam um sinal elétrico, porque a amônia se liga no receptor proteico do sistema olfativo do mosquito e o sinal químico é convertido em um sinal elétrico – o que já se esperava. Mas, quando a amônia era enviada após o mosquito ser exposto aos repelentes, o sinal elétrico era suprimido. Com isso, concluíram que os repelentes inibem o sistema olfativo do mosquito, fazendo com que as fêmeas deixem de perceber suas presas. Seria algo semelhante a vestirmos uma capa de invisibilidade para passarmos despercebidos por esses bebedores de sangue.
Essa inibição acontece, porque as moléculas dos repelentes se ligam aos receptores do sistema olfativo do mosquito, impedindo que o sinal químico enviado pelo nosso corpo seja convertido em sinal elétrico.
Com exceção do acetato de geranila, todas as substâncias foram capazes de inibir o sinal elétrico produzido pela amônia. Além disso, os compostos naturais α-bisabolol e nerolidol levaram a maior supressão desse sinal. Porém, apesar desse resultado sugerir maior eficácia das substâncias naturais, em estudos anteriores, realizados com humanos, foi observado que o tempo de ação do N,N-dietil-meta-toluamida é maior – dura cerca de oito horas, enquanto que os produtos naturais permaneceram ativos por cerca de três horas. Isso pode estar relacionado ao fato de os produtos naturais degradarem mais rapidamente e da presença de outros mecanismos de ação, além da inibição do sistema olfativo do mosquito.
Então, seja o repelente ser natural ou sintético, o importante é se prevenir contra a dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos, fazendo uso de substâncias com eficácia comprovada por estudos científicos.
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