Mar de consequências

Departamento de História (Historisches Seminar)
Universidade de Zurique

O tráfico transatlântico de africanos escravizados, um dos capítulos mais condenáveis da história da humanidade, teve consequências devastadoras não apenas para as vítimas humanas, mas também para os ecossistemas marinhos. Um breve mergulho nas águas turvas do passado permite compreender como as cruéis travessias realizadas pelos navios escravagistas alteraram o comportamento dos tubarões, animais temidos pelos capturados.

CRÉDITO: IMAGEM ADOBESTOCK

Um dos fenômenos menos conhecidos e mais intrigantes relacionados ao tráfico transatlântico de africanos escravizados é o impacto que teve sobre o comportamento dos tubarões. E pensar em tubarão logo traz à mente a hipnotizante melodia de um dos maiores clássicos do cinema norte-americano. Na sequência, é como se a própria imagem aterradora da mandíbula do predador dos oceanos se materializasse, evocando seu poder de destruição. No entanto, há uma visão menos sombria a considerar. 

Embora sejam conhecidas mais de 400 espécies de tubarão, apenas 33 delas registraram ataques a seres humanos. Talvez por isso o cineasta norte-americano Steven Spielberg tenha expressado remorso pelo impacto que seu filme causou na reputação desses animais. Desde 1975, a caça ao tubarão-branco aumentou consideravelmente. Enquanto muitos associam o tubarão ao famoso filme, poucos o relacionam ao horrendo comércio de seres humanos.

Um breve mergulho nas águas turvas do passado permite compreender como o tráfico de escravizados alterou o comportamento dos tubarões. Por meio de alguns relatos, tanto de capitães como de escravizados, buscaremos ilustrar esse fenômeno perturbador.

Através das descrições dos que testemunharam esses horrores, podemos compreender a terrível realidade enfrentada por aqueles que eram capturados, transportados e vendidos como mercadorias. Esses relatos não apenas nos conectam intensamente com o passado, mas também nos lembram da necessidade urgente de reconhecer e confrontar as profundezas da injustiça e da crueldade humanas.

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