Esses versos nos remetem à nossa ancestralidade africana. No entanto, para nós, afrodescendentes brasileiros, essa ancestralidade não foi interrompida ou fragmentada. O processo de escravização apagou os laços com nossos antepassados africanos. Assim, muitos de nós, negros, africanos em diáspora, crescemos sem a possibilidade de conhecer esse bisavô, muito menos o tataravô, e, mesmo se tivéssemos esse contato com nossos mais velhos, eles não teriam como responder a essas perguntas.
No Brasil, último país das Américas a abolir a escravidão, com uma população negra de 56,1% do total, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, são tímidos os esforços para reparações da desconexão de afrodescendentes com sua ancestralidade africana.
Na educação, as reivindicações do Movimento Negro Brasileiro, ao longo do século 20, resultaram na Lei n° 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), determinando que o ensino da história e cultura afro-brasileiras é obrigatório no ensino fundamental e médio – público e privado –, e esses conteúdos devem ser incluídos em todo o currículo escolar. Em 2023, passados 20 anos do sancionamento da lei, sua implementação em todas as redes está longe de acontecer.