Memória muscular realmente existe? Nosso músculo se lembra do treinamento e se adapta mais rapidamente após um período “parado”?

Laboratório de Fisiologia do Exercício
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Setor de Fisiologia Esportiva
Centro de Treinamento Esportivo
Laboratório de Fisiologia do Exercício
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

CRÉDITO: IMAGEM ADOBE STOCK

Você se lembra do seu último programa de treinamento na academia, no clube ou na escola há muitos anos? Talvez você não se lembre, mas sabia que os nossos músculos esqueléticos sim? Esse tipo de músculo está ligado ao esqueleto, e é responsável pelo movimento do corpo, dentre várias outras funções. 

Você já deve ter percebido em seu corpo ou deve ter ouvido falar que o condicionamento físico (força muscular ou resistência à fadiga) melhora muito mais rápido quando você retorna ao treinamento (retreinamento) após um período afastado (destreinamento) comparado à condição em que você começa a treinar pela primeira vez, sem ter praticado aquele tipo de exercício antes – exemplo: musculação ou corrida. Sim, isso é verdade! 

Estudos têm sugerido que esse efeito pode ser explicado por adaptações neurais, tanto no cérebro como nos nervos periféricos, mas principalmente por adaptações “exclusivamente” musculares relacionadas a duas teorias: i) “Memória” muscular celular e ii) “Memória” muscular molecular (ou epigenética). Mas o que seria a “memória” celular? Essa memória se refere às adaptações que ocorrem na estrutura e organização de compartimentos das células musculares, por exemplo, o aumento da quantidade de novos núcleos. Esse tipo de adaptação é importante para o aumento do DNA, uma molécula que contém todas as informações genéticas do organismo. E a “memória” molecular? Ela se refere a modificações no DNA do músculo, como a metilação, mas sem alterações na sequência ou quantidade do DNA. 

Ambos os tipos de memórias poderiam levar a mudanças na expressão de genes relacionados ao crescimento (hipertrofia), força ou resistência à fadiga da musculatura e essas alterações seriam retidas no destreinamento, acelerando a adaptação muscular no retreinamento.

A compreensão da “memória muscular” pode ajudar não somente no desenvolvimento de intervenções mais eficazes para o condicionamento físico após um período de inatividade física, mas também na compreensão dos mecanismos de “reconfiguração molecular” estimulados pelo exercício físico em músculos de indivíduos idosos ou doentes.

Sharples AP, Turner DC. Skeletal muscle memory. American Journal of Physiology  / Cell Physiol. Junho de 2023. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37154489/

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