O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é uma ferramenta essencial para diagnosticar a qualidade do ensino na educação básica no Brasil, com o aprendizado em matemática ocupando posição central nos debates sobre o tema.
Nestas três décadas desde sua implantação, os resultados mostram que grande parte dos estudantes brasileiros conclui o ensino fundamental e médio sem atingir níveis adequados de proficiência em matemática.
As deficiências tornam-se ainda mais evidentes quando analisadas por meio de recortes regionais, socioeconômicos e de infraestrutura educacional, por exemplo, revelando profundas desigualdades históricas. Só cerca de 5% dos estudantes de escolas públicas concluem o ensino médio com aprendizado adequado em matemática – ao fim do ensino fundamental, esse percentual é aproximadamente 15%.
Mesmo antes da pandemia de covid-19, os resultados já eram desanimadores. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) revelou que a média brasileira em matemática é 105,7 pontos inferior à dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Isso equivale a cerca de três anos de atraso na aprendizagem.
Análises feitas com base no Pisa de 2022 mostram que só 3,1% dos alunos brasileiros entre 15 e 16 anos e de baixo nível socioeconômico (NSE) alcançam aprendizado adequado em matemática. Entre estudantes de alto NSE, apenas um em cada três tem proficiência adequada.
Essas lacunas comprometem não só o progresso acadêmico, mas também a capacidade de construir conhecimentos mais complexos, com impactos até mesmo entre os que optam por uma licenciatura em matemática.
Portanto, é urgente reformular práticas pedagógicas e currículos para a formação de professores de matemática, para superarmos o desafio histórico de baixo desempenho dos estudantes brasileiros nessa disciplina.
O Censo da Educação Superior de 2023 indica taxa de desistência de 70% nos cursos de matemática – a média nacional é de 59% para os cursos de graduação. Outros dados alarmantes: um estudo (veja seção ‘Leia+’) mostrou que, nos cursos presenciais de licenciatura em matemática, a taxa de ociosidade de vagas é de 38% (em física, de 36%) e que só um terço dos licenciados ingressa na carreira docente.
Os autores desse estudo sugerem que a solução para esse ‘apagão’ não está no aumento da oferta de vagas nos cursos, mas, sim, na atração e retenção de jovens na profissão.
Dados de 2022 mostram que o déficit de professores na educação básica pode chegar a 235 mil até 2040. Causas: desinteresse dos jovens pela carreira, envelhecimento do corpo docente e abandono da profissão por condições precárias de trabalho.
Mais um ponto relevante: a predominância de cursos a distância (EaD) nas licenciaturas. Segundo o Censo da Educação Superior de 2023, 81% dos ingressantes das licenciaturas optaram por essa modalidade – e nela estão 67% de todos os matriculados.