Na coluna anterior, vimos que a preocupação com a origem da vida e, consequentemente, com o surgimento da própria espécie humana está presente nas mais diferentes culturas e religiões, que trazem conceitos apoiados apenas na fé, ou no simples ato de acreditar. Mas o que é vida do ponto de vista científico?
A definição conceitual de vida pode variar bastante aos olhos de cada cientista. Eu tenho a minha própria, certamente emprestada de algum filósofo ou de um colega de bar (possivelmente, uma mistura de ambos): “a vida é uma doença terminal, que pode ser transmitida sexualmente”. Mas uma das definições de vida que tem sido muito empregada pelos cientistas é a apresentada pelo Instituto de Astrobiologia da Nasa: “um sistema químico autorreplicativo que evolui como consequência da sua interação com o meio”.
Diferenças conceituais à parte, o fato é que todo ser vivo deve possuir algumas características. A primeira é ser formado por uma ou mais células, que são a unidade basal da vida. Ele também tem que manter a sua integridade física e química relativamente constante, com pouca variação, o que é conhecido como princípio da homeostase.
Desde o nascimento até a morte, o ser vivo passa por etapas que podem ser bem distintas, sobretudo em relação à sua forma externa. O seu desenvolvimento se dá com a absorção e consequente excreção de matéria. Durante sua vida, todo ser vivo responde a estímulos que são ocasionados pelo meio em que vive. Ele também tem a capacidade de se reproduzir, gerando outros indivíduos com características muito semelhantes às suas, sendo possível (até mesmo provável) o surgimento de mutações. Por último, o ser vivo tem capacidade de evoluir e de se adaptar.
Mas como surge um ser vivo? Durante mais de 2 mil anos, a explicação para essa pergunta se baseou na chamada teoria da geração espontânea, que dizia que os seres vivos poderiam ser gerados a partir de matéria não-viva. Em termos históricos, o principal divulgador dessa teoria foi o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). Baseado em observações, Aristóteles acreditava (sem poder provar) na existência de um princípio ativo gerador da vida. Assim, organismos poderiam surgir a partir de uma matéria inanimada, sendo importante que fosse orgânica e, de preferência, em estágio de decomposição. O exemplo mais famoso das observações de Aristóteles são as larvas que ‘surgiram’ na carne apodrecida.
A geração espontânea foi posta em xeque pelo biólogo italiano Francesco Redi (1626-1697), que, em 1668, colocou carne decomposta em três conjuntos de frascos distintos: abertos, fechados com gaze e hermeticamente selados. Apesar de ter observado a formação de larvas nos dois primeiros conjuntos, não houve a geração espontânea nos frascos hermeticamente fechados.
A pá de cal na teoria da geração espontânea só foi colocada em 1861, pelo microbiólogo francês Louis Pasteur (1822-1895). Naquele tempo, já se sabia da existência de microrganismos, inclusive no ar. Então, utilizando uma vidraria especial criada por ele e chamada de ‘pescoço de cisne’, Pasteur ferveu soluções orgânicas, eliminando todos os microrganismos delas. Ao esfriarem, apenas aquelas que tiveram contato com o ar desenvolveram novos microrganismos. Ficou provado que os organismos vivos eram derivados de outros organismos e não podiam ser gerados espontaneamente.
Depois dos experimentos de Pasteur, não houve nenhuma proposta relevante para explicar a origem da vida até 1924, quando o bioquímico soviético Alexander Oparin (1894-1980) apresentou a ideia da ‘sopa primordial’.
Oparin sugeriu que, após o surgimento do nosso planeta, há 4,57 bilhões de anos, a ação de descargas elétricas, raios solares e o calor gerado por vulcões sobre a atmosfera primordial – composta por vapor d’água (H2O), hidrogênio (H2), metano (CH4) e amônia (NH3) – deram origem a compostos orgânicos simples (monômeros), que gradualmente se agruparam em alguns pontos do oceano.
Como o passar do tempo, teria surgido uma ‘sopa orgânica’, onde esses compostos mais simples puderam se agrupar e formar compostos orgânicos mais complexos (polímeros). Em seguida, alguns desses compostos se juntaram e foram separados dos demais por uma membrana, formando aglomerados de moléculas chamados coacervados, que terminaram por gerar as primeiras formas de vida. O biólogo britânico John B. S. Haldane (1892-1964) chegou a conclusões semelhantes; por isso, esse conjunto de ideias ficou conhecido como hipótese Oparin-Haldane.
Em 1953, dois químicos americanos, Stanley L. Miller (1930-2007) e Harold C. Urey (1893-1981), reproduziram em laboratório a atmosfera primordial de Oparin-Heldane e, com descargas elétricas, conseguiram gerar aminoácidos, que são moléculas orgânicas simples.
Apesar do experimento promissor, os cientistas não conseguiram dar o passo seguinte: gerar um organismo vivo a partir do acúmulo de moléculas orgânicas. Qual seria então o mistério da origem da vida? Na próxima coluna, serão apresentadas ideias formuladas pelos pesquisadores sobre as etapas necessárias para o surgimento da primeira forma de vida.
Alexander W. A. Kellner
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Academia Brasileira de Ciências
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