Trabalho e infância na literatura infantil e juvenil (parte 1)

Das teses decisivas sobre a importância da infância ao surgimento de uma produção literária destinada aos pequenos leitores neste estágio da vida, as crianças pobres, leia-se mão de obra barata, sempre foram invisíveis.

O cuidado, o interesse e a preocupação com os pequeninos seres a que chamamos crianças foram reengendrados a partir do século 17, principalmente na França e na Inglaterra. Esses países, diante das inúmeras atrocidades cometidas contra as crianças, se viram obrigados, não só a cuidar das suas, como ainda a refletir sobre o lugar que a infância deveria ocupar naquele cenário recém-saído do contexto medieval. Falamos de um período em que a diferença entre adulto e criança se restringia ao tamanho e a força física, e que levou o historiador francês Philippe Ariès (1914-1984) a cunhar a expressão ‘adultos em miniaturas’ para nomear a infância da Idade Média, sobre a qual se debruçou em suas pesquisas.

Dada a morte exagerada de crianças no século 18, o Estado francês resolveu protegê-las, criando algumas medidas que pudessem assegurar suas vidas. Parteiras, reconhecidas como feiticeiras brancas e orientadas pelo poder público, tinham a missão de proteger os recém-nascidos. Em função disso, os pais foram proibidos de dormir com os filhos e o aleitamento começou a ser incentivado. No entanto, paralelamente a essas medidas, o Estado, em virtude da facilidade de arregimentar crianças sem família, passou a capitalizar a condição de abandono em que se encontravam as crianças pobres, utilizando-as como mão de obra barata no povoamento das colônias francesas, o que acabou por provocar o protesto de vários pensadores, sobretudo dos que defendiam ideias humanistas, como o filósofo suíço J.J. Rousseau (1712-1778), que teve um papel importante nesta discussão, saindo em defesa da proteção da infância como forma de preservação das famílias.


Dada a morte exagerada de crianças no século 18, o Estado francês resolveu protegê-las, criando algumas medidas que pudessem assegurar suas vidas.

1500 -1510 – Jean Bourdichon – The Wealthy Man, Miniature, École Nationale Supérieure Des Beaux-Arts, Paris_Wikimedia

Georgina Martins

Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras)
Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escritora de livros para crianças e jovens

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