Um navio escravagista em Angra dos Reis

Instituto de História
Universidade Federal Fluminense
*Com a colaboração da equipe do Afrorigens.

A partir de mergulhos e com a ajuda de tecnologias de levantamento geofísico, pesquisadores acharam restos de embarcações naufragadas na região do Bracuí (RJ) que poderiam ser do brigue norte-americano Camargo, um dos últimos a trazer ilegalmente africanos para o país

Brigue da Costa do Maine pintado pelo norte-americano Fitz Henry Lane em 1851: navio é similar às descrições do Camargo

Crédito da imagem: reprodução AfrOrigens/Aventuras Produções

Um dos conhecidos navios escravagistas do mundo, o brigue norte-americano Camargo, foi um dos últimos a trazer ilegalmente africanos escravizados para o Brasil. Após 170 anos de seu proposital afundamento, o Camargo está sendo buscado a partir de um projeto de pesquisa que envolve arqueólogos, historiadores e quilombolas.

Em dezembro de 1852, a correspondência do ministro dos Negócios da Justiça do então Império do Brasil revelava que o brigue norte-americano Camargo havia afundado em Angra dos Reis (RJ). Desde 1850, o tráfico havia sido, mais uma vez, proibido no Brasil (a primeira lei foi de 1831), mas no litoral sul fluminense os senhores do negócio e de escravizados continuaram tentando burlar a lei. Em 1852, o governo imperial não poupou esforços para mostrar que estava realmente decidido a eliminar o tráfico de africanos para o Brasil. 

Segundo relatos oficiais de autoridades do governo imperial, o brigue Camargo era comandado pelo norte-americano Nathaniel Gordon e conseguiu trazer aproximadamente 500 africanos escravizados vindos de Quelimane e Moçambique. Os africanos teriam desembarcado próximo à foz do rio Bracuí, em terras da fazenda Santa Rita, de propriedade do comendador José Joaquim de Souza Breves. 

O local era bem em frente às calmas águas de Angra dos Reis, suficientemente distantes do Rio de Janeiro para as atividades ilegais e estrategicamente próximas das plantações de café do vale do Paraíba paulista e fluminense, para onde seriam levados os africanos escravizados.  Para fugir das autoridades brasileiras, Gordon teria incendiado o brigue Camargo e a tripulação, quase totalmente estrangeira (2 norte-americanos, 1 espanhol e outro inglês), teria procurado fugir, chegando ao porto de Santos ou de Paranaguá. 

José de Souza Breves era um dos maiores senhores de terras e de escravizados do Brasil. As suas propriedades e de seus familiares ocupavam uma enorme extensão, desde o litoral sul fluminense, de Angra dos Reis à Marambaia, subindo a serra do Mar e chegando às atuais cidades de Pinheiral e Piraí. Ao lado de seu irmão Joaquim, José Breves comandava o tráfico ilegal de africanos e era proprietário de mais de 5 mil escravizados.

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