Nossas escolhas estão, cada vez mais, geográficas!

Departamento de Geografia
Instituto de Geociências
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Baseados no uso de geoinformação compartilhada coletivamente, aplicativos facilitam a busca por um lugar para morar, um destino para viajar e até um amor, transformando a forma social de viver

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

Já repararam na quantidade de aplicativos que nos ajudam a fazer escolhas e que já são parte do nosso dia a dia? Pode-se dizer que essas ferramentas se encontram totalmente incorporadas à nossa vida, tanto que até a sua importância foi banalizada: basta compararmos como resolvíamos problemas similares sem a ajuda delas até bem pouco tempo atrás. Pois bem, os aplicativos são baseados no uso de geoinformação compartilhada coletivamente, seja de forma consciente ou não. A famosa informação geográfica “voluntária”, da sigla em inglês VGI.

As opções disponíveis são muitas, envolvendo demandas de deslocamento, como é o caso do Moovit e do Uber; de aluguel ou compra de imóveis, como o ZAP; para escolhas de hospedagem em viagens, como o Airbnb; entre muitas outras opções. O que esses aplicativos têm em comum? A oferta de um sem-número de opções que nos ajudam a tomar decisão a partir da definição de lugares e períodos de interesse, podendo-se considerar ainda características e gostos diversos. Ou seja, estamos usamos o verdadeiro tripé geoinformacional: espaço, tempo e atributos, com muitas informações a consultar!

Neste universo é possível também contribuir com as novas formas de relacionamentos, como no caso do famoso Tinder. E esta opção está longe de atender só aos mais jovens, alcançando muitas pessoas maduras e até idosas. Vejam o grau de popularização! Afinal, em um mundo em que os relacionamentos já foram arranjados, dependentes de encontros elaborados por meio de bailes ou do próprio destino, é possível agora encontrar pessoas que apresentam afinidades (e quem sabe o amor de sua vida) em poucos cliques. 

Mas tudo isso é possível porque não é só a tecnologia que tem mudado. Mudamos também as formas com que fazemos escolhas e nos relacionamos. E é interessante pensar que somos capazes de selecionar atributos diversos, além de variáveis geográficas, que nos indiquem mais do que afinidades, uma localização preferencial. 

Criado em 2012, o aplicativo Tinder possui funcionalidades e muita praticidade, exigindo apenas que os usuários criem um perfil que inclua suas características básicas, as mesmas que gostariam de divulgar, além de fotos. É possível também explicitar a escolha preferencial de sexualidade, público-alvo etário, além de um “radar” de alcance geográfico. E acredite: essa última funcionalidade é uma das mais atrativas do aplicativo, visto que permite que se possa escolher pessoas que estejam próximas, ou que se encontrem em uma área específica de interesse. Assim, se um usuário mora no bairro de Copacabana e deseja se relacionar apenas com pessoas que residam nas proximidades, é possível definir essa escolha explicitamente e delimitar o alcance geográfico da consulta. Em resumo: onde está você?

Da mesma forma que nos outros casos, a apropriação das geotecnologias em aplicativos de relacionamento muda a forma social de viver, ressaltando o fato que estamos cada vez mais transformados em sensores humanos, produtores e consumidores “ávidos” de geoinformação. Assim, não só estamos inseridos no espaço, como estamos cada vez mais regionalizando e tipificando nossas escolhas através de fatores geográficos. Fico pensando: isso abre um campo de maior diversidade de escolhas ou nos limita mais?

É fato que estamos cada vez mais inseridos em um mundo virtual, sujeitos a muitos percalços, dentre eles as próprias fake news. Somada a essa realidade, tem-se a contundente Corrente Geoinformacional, que nos atropela e nos visibiliza o tempo todo. Apesar de o Tinder ter o objetivo único de proporcionar lazer para seus usuários, é um bom exemplo para demonstrar o caráter intrínseco da informação espacial, e de como cresce o interesse popular por fatores que informem localizações. 

Sempre me surpreendo quando penso o quão complexo era obter esse tipo de informação há bem pouco tempo!

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