Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, Rede Ressoa Oceano
Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo

Quando a retirada de uma quantidade de indivíduos do ambiente aquático é maior do que a natureza consegue repor, temos a sobrepesca, uma forte ameaça de extinção a muitas espécies

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

Entre as atividades humanas de extrativismo mais antigas está a pesca, uma importante fonte de alimento e renda para diversas populações, especialmente as de comunidades ribeirinhas, cidades litorâneas e ilhas. Em sua definição mais basal, pesca é a extração de qualquer tipo de organismo aquático com fins de alimentação, diversão ou ornamentação, tanto nos rios e lagos, quanto nos mares e manguezais. 

Porém, ao retirarmos da natureza qualquer organismo, seja um pequeno crustáceo ou uma gigantesca baleia, podemos causar diferentes alterações aos ecossistemas aquáticos. Um dos maiores problemas é a retirada de uma quantidade de indivíduos maior do que a natureza consegue repor, a chamada sobrepesca.

Há três categorias de sobrepesca: a de crescimento, quando os indivíduos pescados em excesso são jovens, então a população não tem chance de crescer; a de recrutamento, quando a população perde a reposição do estoque porque os indivíduos pescados em excesso são os adultos reprodutores de uma população, ou seja, aqueles que gerariam novos indivíduos; e a ecossistêmica, quando a composição e a dominância das espécies são significativamente modificadas pela pesca.

Estudos apontam que hoje há diferentes espécies marinhas encontradas em menor quantidade nos diferentes cursos d’água que no passado, justamente pelos efeitos históricos da sobrepesca. Um exemplo no oceano é o atum-azul (Thunnus thynnus), uma espécie bastante valorizada na culinária japonesa cujas populações estão declinando no mundo inteiro. Nos rios amazônicos, podemos citar o pirarucu (Arapaima gigas), uma espécie amplamente distribuída na bacia, cujas populações vêm declinando devido à pesca ilegal e destruição de habitats.

Estudos apontam que hoje há diferentes espécies marinhas encontradas em menor quantidade nos diferentes cursos d’água que no passado, justamente pelos efeitos históricos da sobrepesca

Atualmente, há pescadores que utilizam diversos tipos de petrecho para extração do pescado, incluindo redes de espera, tarrafas, redes de arrasto, linha com diversos anzóis, além de barcos modernos, que guiados por GPS, capturam e armazenam grandes quantidades. O aumento da tecnologia de pesca, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, possibilitou a extração do pescado em maiores quantidades e a exploração em locais onde antes não era possível, como regiões isoladas, ilhas oceânicas e, até mesmo, no oceano profundo. 

Como ainda não há conhecimento sobre o ciclo de vida de muitas espécies que habitam esses ecossistemas recentemente explorados, a tendência é de que os impactos dessa ampla exploração comercial sejam negativos. Vejamos um exemplo: o orange roughy (Hoplostethus atlanticus), espécie de mar profundo que foi muito abundante na Nova Zelândia e começou a ser explorada comercialmente na década de 1970 com auge na década de 1990, antes de que fosse realizado quaisquer estudos sobre a sua biologia reprodutiva e crescimento, em razão da sobrepesca, teve sua população em declínio acelerado, quase chegando à extinção. Quando foram feitos os primeiros estudos sobre a sua biologia, descobriu-se que o orange roughy pode viver por mais de 200 anos e que entra em idade reprodutiva a partir de 20 anos. 

Infelizmente, esse não é um caso isolado. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), todos os estoques pesqueiros no mundo já estão sobre-explotados, ou seja, com baixa capacidade de produção. A pesca excessiva é não sustentável e causa um declínio das populações naturais, também denominadas estoques pesqueiros. 

A sobrepesca tem amplo efeito negativo. Para os pescadores, a captura se torna mais cara e requer maior esforço; para o consumidor, o preço do pescado aumenta; e, claro, para a natureza, porque a retirada excessiva causa desequilíbrio ambiental e podendo levar algumas espécies à extinção.

Sobrepesca se combate com respeito às leis ambientais e fiscalização. Mas cidadãos comuns podem também contribuir evitando consumir algumas espécies ameaçadas, como é o caso do cação, da raia, do guaiamum, do pirarucu, do atum-azul, entre outras. Existem espécies muito saborosas que são produzidas em cativeiro, possuem manejo de pesca, ou não estão ameaçadas de extinção, como a tilápia, o salmão, o camarão, o atum-amarelo, a ostra e o mexilhão. Fazendo escolhas conscientes, evitaremos que nossos mares e rios se transformem em desertos sem vida. A natureza e as próximas gerações agradecem!

Sobrepesca se combate com respeito às leis ambientais e fiscalização. Mas cidadãos comuns também podem contribuir

*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo e com o Projeto Ressoa Oceano, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

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