Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo
Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, Rede Ressoa Oceano

O aumento da população de micro e macroalgas e também dos vegetais aquáticos indica desequilíbrio ambiental e pode resultar em uma grande catástrofe

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

Dada sua vastidão, ocupando 71% da superfície do planeta e acumulando cerca de 1,4 bilhões de km3 de água, até pouco tempo considerava-se que o oceano tinha uma capacidade infinita de diluição de substâncias e autodepuração. Acontece que, hoje, podemos dizer que nenhum lugar do oceano está livre de impactos humanos, seja pela poluição direta, como esgoto e lixo; pela extração de recursos, como pesca e exploração de petróleo; ou pela demanda de serviços oceânicos, como uso  para transportes e lazer. 

Considerando que a maior parte da população mundial historicamente habita as zonas costeiras, o oceano sempre foi utilizado como área de descarte de dejetos líquidos e sólidos. Porém, os efeitos da poluição no oceano são cada vez mais evidentes e constituem uma grande ameaça para os ecossistemas marinhos e para o equilíbrio do planeta. Entre as diversas formas de poluição, pode-se destacar a poluição orgânica, que decorre principalmente do lançamento de esgotos em áreas costeiras, ocasionando o aumento da concentração de elementos como nitrogênio e fósforo, nutrientes fundamentais para o crescimento dos vegetais, mas que, em excesso, podem causar o fenômeno chamado eutrofização.

A eutrofização na água é o aumento da biomassa das micro e macroalgas e dos vegetais aquáticos. No caso das microalgas, o aumento é muitas vezes percebido pela mudança na turbidez e cor da água, que pode ficar verde, marrom ou vermelha, dependendo da espécie dominante. Os vegetais aquáticos também podem se desenvolver muito, chegando a cobrir a superfície da água – algo mais evidente em corpos de água mais fechados como baías, lagos ou represas. Essa paisagem pode até agradar aos olhos, mas, na verdade, é um indicativo de desequilíbrio no ambiente. 

Além de alterações na qualidade da água (cor, turbidez, odor), a eutrofização provoca diminuição das concentrações de oxigênio dissolvido – tanto por redução da fotossíntese, em razão de menor penetração da luz na água; quanto pelo maior consumo do oxigênio nos processos de decomposição do material orgânico vivo ou morto. Há de se considerar ainda o favorecimento das chamadas espécies oportunistas, que conseguem utilizar rapidamente esses estoques de nutrientes e crescer de maneira muito acelerada, fenômeno conhecido como floração.

As florações de sargaço, alga parda de grande porte, estão afetando as praias do Caribe e da Flórida, causando danos às áreas costeiras e ao turismo da região. Pesquisadores ainda não identificaram a origem dos nutrientes que estimulam essas florações em específico, mas especulam que boa parcela seja oriunda das águas da Bacia Amazônica, cujos rios vêm sendo eutrofizados por conta dos fertilizantes utilizados na agricultura. Este é um exemplo de como as ações locais podem se tornar problemas globais.

Outro ponto relevante relacionado à eutrofização é que algumas espécies de microalgas, especialmente os dinoflagelados, têm capacidade de produzir toxinas, que são liberadas na água ou se acumulam nos organismos que as consomem. Por meio da alimentação, essas toxinas podem chegar à espécie humana, causando distúrbios diarreicos, neurotóxicos, paralisantes e amnésicos. Dependendo da intensidade da floração e dos níveis de toxinas produzidos pelas microalgas, pode haver uma mortalidade em massa da biota aquática, as chamadas marés vermelhas.  

A eutrofização pode resultar em uma grande catástrofe, por causar a modificação do ambiente e geralmente a morte de muitos organismos, podendo culminar na extinção de espécies endêmicas. O despejo de esgotos em áreas costeiras determinou o aparecimento de “zonas mortas” – ou seja, áreas sem organismos vivos instalados, ao longo do oceano global. Tal cenário indica que a capacidade de diluição e de autodepuração das águas marinhas têm limites, que já foram ultrapassados em alguns locais.

Como todas as regiões oceânicas estão interligadas, mesmo áreas desabitadas ou pouco habitadas por seres humanos, como a Antártica e o Ártico, já apresentam sinais de poluição. Reverter essa situação tem como caminho obrigatório a educação e a conscientização sobre nossas responsabilidades com a preservação do meio ambiente.

*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo e com o Projeto Ressoa Oceano, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

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