Como os países da América do Sul estão enfrentando a crise de refugiados e imigrantes? É sobre essa questão que o geógrafo Helion Póvoa Neto vem se debruçando nos últimos tempos. A chegada de mais de cem mil venezuelanos ao Brasil, naturalmente, é um de seus focos. E, recentemente, ele se deparou com uma notícia que o surpreendeu: pela primeira vez na história, o Brasil aceitou, de uma só vez, o pedido de refúgio de 21 mil venezuelanos. “Esse reconhecimento de refugiados tem, por um lado, uma dimensão humanitária, mas é também uma declaração política do governo Bolsonaro para reforçar sua oposição ao governo do país vizinho”, analisa Póvoa, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios (NIEM) do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, toda a diversidade cultural de um povo está ligada à sua história de migração. “Da mesma forma que os deslocamentos forçados dos africanos escravizados e da imigração europeia influenciaram nossa cultura, em 20 anos, veremos as marcas das presenças dos venezuelanos, sírios e haitianos”, prevê ele, que, nesta entrevista, avalia também os rumos da imigração mundo afora.