Pode parecer novo, mas não é. Pensar e usar informações associadas à localização espacial, ou geoinformação, é algo feito desde os primórdios da civilização. Em nossa existência, sempre buscamos formas de melhor localizar lugares e eventos. Podemos comprovar isso por meio de registros pré-históricos que indicavam a localização de áreas de maior acessibilidade à água, à caça, aos abrigos…
Com nossa evolução, fomos agregando tecnologias e conhecimentos que possibilitaram o registro cada vez mais complexo e preciso das informações, no espaço e no tempo. Com o uso ampliado da geoinformação, suas aplicações foram potencializadas, permitindo que o acesso a dados georreferenciados fosse traduzido em noções de proximidade, com orientações do tipo: Onde estou? Qual a distância? Como chegar?
Inicialmente, não existiam sistemas de localização únicos que possibilitassem a transferência de conhecimentos de forma fácil e inequívoca, mas toda uma iconografia foi sendo criada e adotada de forma intuitiva.
A necessidade constante de conhecer e registrar informações sobre o espaço onde vivemos levou ao incremento de várias ciências, como a cartográfica e a geográfica. Hoje, os sistemas orientados a geoinformações estão disponíveis em vários dispositivos, fazendo parte, inclusive, do cotidiano das pessoas, como é o caso dos smartphones. Afinal, estamos sempre respondendo à pergunta: “Posso usar a sua localização?”.
Vivemos em um período marcado pela utilização de sistemas de observação da Terra constituídos por uma grande diversidade de sensores remotos. Em quase 50 anos de registros, fomos capazes de armazenar um volume enorme de dados e informações, em diferentes resoluções, espaciais e temporais. Pode-se dizer que, mais que uma radiografia, temos uma verdadeira tomografia da Terra!
Vários países investem na implementação e na manutenção desses sistemas. Os dados gerados buscam atender às mais diversas demandas: urbanas, rurais, ambientais, envolvendo eventos e áreas de diferentes dimensões e dinâmicas. Diagnósticos, monitoramentos e prognósticos são baseados nesse grande volume de dados armazenados – o big data em sensoriamento remoto, caracterizado por 3 ‘Vs’: volume, variedade e velocidade.
Com relação ao ‘volume’ de dados, observa-se que a imensa quantidade de imagens de sensoriamento remoto – muitas delas disponibilizadas gratuitamente – tem sido organizada em catálogos. Quanto à ‘variedade’, tem-se desde os clássicos sensores ópticos passivos – multi ou hiperespectrais – aos ativos, como radares e lasers. As resoluções também são variadas, atendendo a estudos que envolvem grandes detalhes ou de maior abrangência. Quando falamos em ‘velocidade’, no caso de sensoriamento remoto, isso não se limita apenas à geração de dados, mas também ao seu processamento. Um dos grandes desafios atuais está em concentrar esforços na caracterização e classificação de tipos de coberturas e usos do solo através de imagens multitemporais, que podem envolver centenas de datas.
Nos últimos anos, com o acesso crescente a formas mais eficazes de processamento de imagens, tem sido possível representar e compreender fenômenos em diferentes escalas espaciais e temporais. Mas as demandas também não param de crescer, gerando pressão por mais e eficientes soluções. Com a Terra em meio digital, representada por diferentes sensores e temporalidades, vivemos momentos de muitas descobertas, em várias áreas do conhecimento. Por outro lado, a potencialidade do que se tem ainda por pesquisar também é grande e variada. O que se sabe é que, enquanto continuamos radiografando a Terra, investimos em novas formas de leitura e interpretação dos dados, mais rápidas, mais precisas e que possam ser replicáveis para grandes áreas.
Carla Madureira Cruz
Departamento de Geografia
Instituto de Geociências
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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