Criada no século 19, técnica que faz o registro fotográfico de imagens em tons azuis se popularizou e estabeleceu um padrão estético até hoje usado em desenhos de arquitetura e engenharia e para representar projetos técnicos em filmes e animações
Criada no século 19, técnica que faz o registro fotográfico de imagens em tons azuis se popularizou e estabeleceu um padrão estético até hoje usado em desenhos de arquitetura e engenharia e para representar projetos técnicos em filmes e animações
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO

O que vem à sua mente quando falamos de química no cinema ou na TV? Talvez um dos exemplos mais marcantes seja a famosa série Breaking Bad, que conta a história de um químico brilhante que, frustrado por dar aulas para adolescentes e ter que lidar com dívidas e problemas familiares, inicia uma vida de crimes. Nessa série, a química ocupa um papel de protagonismo, conduzindo toda a narrativa. Mas a participação dessa ciência tão importante nas produções audiovisuais vai muito além dos roteiros.
Se a fotografia é considerada a mãe do cinema (por ter fornecido os fundamentos técnicos, estéticos e tecnológicos para o surgimento dessa indústria), a química, por sua vez, é a mãe da fotografia.
Foi a química que possibilitou o desenvolvimento dos primeiros processos fotográficos e, com isso, ajudou a construir a base do cinema como o conhecemos. Embora raramente seja a estrela nas telas, a química aparece com frequência nos bastidores ou em papéis discretos em diversos filmes, séries e animações. Muitas vezes, sua presença é tão sutil que quase passa despercebida – como as famosas aparições do escritor, produtor, diretor, empresário e ator norte-americano Stan Lee, cocriador de vários super-heróis, nos filmes da Marvel.
E uma das mais importantes aparições visuais da química no cinema é uma técnica chamada cianotipia, que também está intimamente ligada à fotografia.
Você já parou para pensar no que há em comum entre as plantas do Titanic desenroladas por seu projetista na dramática cena em que mostra ao comandante que o navio vai afundar, os planos mirabolantes do Gru em Meu Malvado Favorito e as estratégias do Coiote para pegar o Papa-léguas (que nunca dão certo)? Se você respondeu que todos são azuis, então você acertou em cheio!
Talvez você nunca tenha reparado conscientemente, mas aposto que já viu centenas de vezes aqueles papéis azuis com desenhos brancos em filmes e séries. Eles aparecem sempre que alguém precisa mostrar um projeto arquitetônico, um plano de fuga ou qualquer esquema técnico importante.
E se eu te disser que essa escolha visual não é apenas estética, mas tem raízes profundas na história da química e da fotografia?

A botânica e fotógrafa britânica Anna Atkins popularizou a cianotipia ao usar a técnica para ilustrar seu livro sobre algas e plantas aquáticas
CRÉDITO: WIKIMEDIA COMMONS
A história começa muito antes de os primeiros filmes chegarem aos cinemas. Era o ano de 1842. Não existiam smartphones, câmeras digitais ou sequer filmes coloridos. A fotografia estava nascendo e o ser humano era capaz de produzir apenas imagens em tons de cinza ou sépia. A técnica mais antiga e primeira a ser mundialmente conhecida era o daguerreótipo, apresentado ao mundo em 1839 pelo pintor, cenógrafo e físico francês Louis Daguerre, que obtinha imagens por meio da reação da luz com compostos químicos de prata e ouro.
Um cientista visionário chamado John Herschel (1792-1871), interessado em produzir imagens com cor, começou sua busca utilizando corantes naturais, extraídos diretamente das plantas. Esse processo, chamado de antotipia, não fez muito sucesso. Embora fosse capaz de gerar imagens monocromáticas, o processo era lento, podendo levar horas, semanas ou até meses.
Naquela época, em plena revolução industrial, havia um grande interesse em desenvolver um processo que fosse comercialmente interessante e, para isso, ele precisava ser mais rápido. Assim, a antotipia foi deixada de lado e Herschel seguiu seus estudos buscando alternativas que formassem imagens coloridas, dessa vez deixando os corantes naturais de lado e partindo para compostos químicos inorgânicos coloridos.
Dentre as possibilidades acessíveis na época, Herschel testou o ferricianeto de potássio, um composto muito colorido que se mostrou promissor para formação de imagens, precisando apenas de alguns ajustes químicos. Mais tarde, seguindo com seus estudos, o cientista inglês descobriu que, se fizesse uma mistura com um segundo composto colorido que ele havia acabado de conhecer, chamado citrato férrico amoniacal, e a colocasse exposta à luz solar, em alguns minutos a mistura adquiria uma linda coloração azul. Assim foi inventada a técnica da cianotipia.
A botânica e fotógrafa britânica Anna Atkins (1799-1871), que havia aprendido a técnica diretamente com Herschel, seu amigo próximo, percebeu o potencial da cianotipia para documentar espécimes botânicos com precisão extraordinária.
Entre 1843 e 1853, ela criou o que muitos consideram o primeiro livro ilustrado com fotografias da história, intitulado Fotografias de algas britânicas: impressões de cianotipia, em que utilizou a cianotipia para catalogar algas e plantas aquáticas.
Suas belas imagens azuis, que capturavam cada detalhe das estruturas dos vegetais, não apenas popularizaram a técnica, mas também estabeleceram um novo padrão estético, que perduraria através dos séculos – das páginas científicas do século 19 até as telas de cinema atuais.
A palavra cianotipia significa ‘impressão em azul’ e descreve perfeitamente esse processo fotográfico químico que resulta em imagens de tonalidade azul profunda.
Embora, no século 19, a cianotipia não tenha alcançado grande sucesso como processo fotográfico principal, ela foi amplamente utilizada como processo de fotocópias, o que hoje chamamos popularmente de ‘xerox’. Muitos desenhos arquitetônicos e projetos de engenharia começavam a ser replicados com uso dessa técnica.
Sua influência foi tão grande que essa estética da cianotipia, com fundo azul e linhas brancas, passou a ser largamente utilizada em projetos até hoje. Daí vem o termo blueprint (‘impressão azul’, em tradução literal), que se tornou sinônimo de planta, desenho técnico, plano estratégico.
Não é à toa que os filmes se utilizam dessa estética quando um personagem precisa mostrar plantas de um prédio, ou quando engenheiros discutem a construção de um edifício, por exemplo. As cianotipias se tornaram um símbolo universal de ‘projeto técnico sério’.

A cianotipia é uma técnica fotográfica artesanal que usa processos químicos e físicos para gerar uma imagem em tons azuis que tem grande durabilidade e resistência ao desbotamento
CRÉDITO: WIKIMEDIA COMMONS
A impressão de imagens feita pela técnica de cianotipia é um processo artesanal, em que o papel sensível à luz é preparado manualmente, tal como era feito no século 19.
Tudo começa com a preparação em água de uma mistura de dois compostos fotossensíveis: citrato férrico amoniacal e ferricianeto de potássio. Essa solução é espalhada manualmente sobre uma superfície absorvente, geralmente papel ou tecido, e colocada para secar em local escuro.
Para formar a imagem, coloca-se um objeto opaco (como uma folha, uma chave ou um negativo fotográfico) sobre o papel sensibilizado, e o conjunto é exposto à luz ultravioleta. Ao atingir a superfície fotossensível do papel, a luz desencadeia uma sequência de reações químicas, que resulta na formação de um pigmento azul chamado ‘azul da Prússia’, que é insolúvel em água.
Essa reação, no entanto, só ocorre nas áreas expostas. As áreas do papel que estiverem cobertas pelo objeto ou pela parte opaca do negativo não receberão luz, por isso, a reação não irá ocorrer.
O tempo de exposição do papel à luz vai depender da hora do dia, da estação do ano e até da sua localização geográfica, mas costuma ser de 3 a 15 minutos apenas. Depois da exposição, o papel é lavado em água corrente e os sais solúveis que não participaram da reação (ou seja, aqueles que estavam nas partes não expostas à luz) são removidos. Já o azul da Prússia permanece fixado no papel, pois é insolúvel. A imagem final é formada pelo contraste entre as áreas azuis (que foram expostas à luz) e as brancas (que não foram).
Durante a secagem ao ar, o azul pode escurecer um pouco mais, pois ocorre uma leve oxidação adicional, gerando algumas tonalidades diferentes de azul.
Portanto, podemos dizer que a cianotipia é uma técnica artesanal e acessível que envolve uma sequência de processos físicos e químicos e resulta em uma bela fotografia em tons azuis, que, além de tudo, possui grande durabilidade e resistência ao desbotamento.
Então, na próxima vez que você assistir a um filme e vir aqueles característicos papéis azuis com desenhos brancos, lembre-se de que está observando muito mais do que um simples elemento cenográfico. Você está vendo o legado de John Herschel, o pioneirismo de Anna Atkins e séculos de evolução científica. A cianotipia nos mostra que a ciência não vive apenas nos livros ou laboratórios – ela permeia nossa cultura, nossa arte e até nosso entretenimento, mesmo que a gente sequer perceba.
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