Livro traz relatos de personagens históricos que vivenciaram de perto a queda da Monarquia no Brasil e apresenta percepções, sentimentos e preocupações da elite monárquica brasileira sobre esse período
O livro O 15 de novembro e a queda da Monarquia, organizado pelas historiadoras Keila Grinberg e Mariana Muaze, traz relatos da Princesa Isabel e da Baronesa e do Barão de Muritiba sobre a véspera do dia da proclamação da República no Brasil e os dias seguintes, incluindo a viagem da família real e sua chegada ao exílio. A Baronesa e o Barão de Muritiba eram muito próximos da família real e a acompanharam e apoiaram em toda essa trajetória de partida do país e estabelecimento em terras estrangeiras.
A Baronesa, que se chamava Maria José de Avelar Tosta – mas é referida nos documentos por seu apelido familiar, Mariquinhas –, era amiga da Princesa Isabel desde os tempos de infância e atuou também como sua dama de companhia, quando adulta. O Barão fazia parte das famílias baianas de prestígio no Império e ocupara cargos de importância: foi oficial-mor da Casa Real, juiz de direito, desembargador da Corte da Relação, procurador da Coroa, Soberania e Fazenda e conselheiro de Dom Pedro II. Viveram próximos à família real no exílio, mantendo a convivência.
Os relatos permitem ao leitor conhecer a visão dessas testemunhas dos fatos históricos e se aproximar de uma percepção individual, resultante do envolvimento íntimo e familiar dos autores com as pessoas envolvidas. Os escritos da Princesa Isabel e da Baronesa, de forma mais evidente que os do Barão, são carregados de pessoalidade, de detalhes e minúcias sobre o correr dos eventos vistos a partir ‘de dentro’. Essa perspectiva revela preocupações com aspectos como a saúde e a segurança dos envolvidos, bem como seus sentimentos e uma série de outros conteúdos do universo particular, que não apenas humanizam os personagens, mas também iluminam aspectos de suas condutas que o histórico de suas atitudes políticas mais conhecido dos brasileiros não permitiria sequer entrever.
O fato de os autores dos textos serem quem eram na sociedade brasileira e na conjuntura política da época faz toda a diferença na classificação desses documentos. Trata-se de ricas fontes para entender aspectos importantes da percepção que a elite monarquista do Segundo Reinado teve dos acontecimentos que levaram à derrubada definitiva do regime.
A história dos últimos dias do Brasil Império narrada na primeira pessoa nesses escritos revela mais do que a preocupação do monarca e de seus próximos com o futuro do Brasil, ou mesmo a genuína tristeza deles em ter que deixar o país apressadamente. A incompreensão expressa na narrativa ou mesmo o silêncio – eloquente ao não mencionar a abolição da escravidão ou as expectativas de maior participação política mobilizadas pelo movimento republicano – mostram o distanciamento que essas pessoas tinham de tantas coisas que se passavam no país naquele momento.
No campo das pesquisas históricas, há algum tempo são incorporadas cartas e narrativas pessoais – como diários, por exemplo – como documentos de relevância nos estudos sobre como determinados indivíduos e grupos sociais entenderam e representaram determinados fatos e processos históricos. Esses documentos, no entanto, deixaram de ser tomados, pelo menos desde a metade do século 20, como portadores de verdades, algo que ocorreu durante muito tempo pelo simples fato de serem originados da experiência de testemunhas oculares do acontecido. Eles passaram a ser colocados no seu lugar de fontes a serem objeto da devida crítica e relativização de conteúdo, contextualizadas e referenciadas. Assim, o uso desse tipo de documento ganhou, ao mesmo tempo, mais reconhecimento, uma vez que pode contribuir para o avanço nas metodologias da investigação científica e para a produção de livros e artigos no campo da história.
As organizadoras do livro relatam na apresentação como se deu seu contato com as fontes e analisam no excelente posfácio a escrita dos autores dos relatos, considerando suas trajetórias e a conjuntura da época. E agregam como anexos outras narrativas sobre os eventos, incluindo duas cartas – uma da própria Princesa Isabel a uma amiga e outra de seu marido, o do Conde d’Eu –, bem como notícias publicadas naqueles agitados dias de 1889 no jornal O Paiz, periódico republicano que chegou a ser o mais lido do Brasil no início do novo regime. Dessa forma, o leitor pode ter algumas impressões sobre o ocorrido tal como representadas e divulgadas por outros narradores da época.
O que as autoras destacam, no entanto, é algo que tanto as narrativas pessoais como os documentos produzidos por republicanos sobre a derrubada da Monarquia revelam: a ausência do povo brasileiro naqueles escritos, a negação, pelo silêncio, da importância de um Brasil negro, indígena e pobre. Essa parte majoritária do país não só se fez presente em toda a convulsão social dos anos finais do Império como também agitou o país no começo da República – haja vista a rebelião de Canudos (1896-1897), a revolta da Chibata (1910) e a rebelião do Contestado (1912-1916), para citar apenas os exemplos mais conhecidos.
Vale conferir esse ótimo livro.
Monica Lima
Instituto de História,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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