Poucos seres vivos despertam tanto fascínio nas pessoas, principalmente em crianças, quanto os dinossauros. É uma mistura de medo, já que muitos deles são enormes e monstruosos, com curiosidade e sensação de segurança, já que eles não existem mais. Muitas crianças são obcecadas por esses animais e desde bem cedo mostram grande interesse por conhecer seus complicados nomes, seus hábitos alimentares e suas características físicas. E essa é uma ótima porta de entrada para a ciência.
Ao longo dos anos, vimos surgir uma série de obras literárias e cinematográficas sobre os dinossauros. Algumas delas buscam ser o mais fiel possível ao conhecimento paleontológico de sua época, enquanto outras não se preocupam com nenhum nível de realismo.
Um dos marcos da cultura pop nesse assunto é, sem dúvidas, o filme Jurassic Park (1993), do diretor norte-americano Steven Spielberg, que se baseou no romance homônimo do autor, diretor e produtor norte-americano Michael Crichton (1942-2008). Na história, o empresário John Hammond cria um parque temático em uma ilha e produz dinossauros em laboratório para habitarem esse parque, como um zoológico. Os dinossauros foram clonados a partir de amostras de DNA retiradas de insetos preservados em âmbar desde a pré-história. O enredo se desenrola com a visita de especialistas ao parque e a ocorrência de um grave problema de segurança, que permite que alguns animais escapem, incluindo o temido Tyrannossaurus rex.
A partir desse filme, e de todos os outros da franquia, podemos nos perguntar: esses animais foram retratados com precisão no cinema? E será mesmo possível clonar dinossauros e criar um Jurassic Park no mundo real?
Consultor da franquia Jurassic Park desde o primeiro filme até hoje, Jack Horner é um paleontólogo norte-americano apaixonado por dinossauros e que trabalha obstinadamente para criar animais similares a eles a partir de espécies que existem hoje. Apesar da consultoria de Horner, nem tudo é correto nos filmes, seja pela ausência de conhecimento na época, seja por escolha artística.
Um primeiro problema, apontado por divulgadores de ciência e paleontólogos, está bem no título. Os dinossauros viveram na Terra na Era Mesozoica, mais especificamente no período Jurássico (de 201 a 145 milhões de anos atrás) e no período Cretáceo (de 145 a 65 milhões de anos atrás). Acontece que muitos dos animais representados no filme não existiam no período Jurássico.
Enquanto o braquiossauro, o estegossauro e o dilofossauro viveram no período Jurássico, outros tantos dinossauros, como o tiranossauro, o tricerátops e o velociraptor só surgiram no Cretáceo. Talvez Mesozoic Park fosse um nome mais correto, embora bem menos interessante e comercial.
Outra inconsistência está no dilofossauro, aquele simpático dinossauro que abre uma espécie de coroa ao redor do pescoço (similar ao lagarto-de-gola) e cospe veneno, causando a morte de um personagem do filme. Não existe, até hoje, nenhuma evidência que sustente essas características. Além disso, estudos mostram que o dilofossauro não era pequeno como no filme, muito pelo contrário. Ele foi um perigosíssimo predador e um dos maiores animais terrestres da América do Norte no início do período Jurássico.
Outro animal que não foi retratado com precisão foi o velociraptor. Embora extremamente feroz e rápido como um leopardo, esse dinossauro era muito menor do que suas representações no cinema. Registros indicam que esse carnívoro mal atingia um metro de altura, ficando abaixo da cintura de um adulto. E suas patas dianteiras não eram voltadas para baixo, em formato de gancho, como geralmente ele é representado. Evidências mostram que as mãos dos terópodes (grupo em que se incluem os velociraptores) eram voltadas para dentro, como se eles estivessem sempre prontos para bater palmas.
Além disso, após estudos de vários fósseis encontrados nas últimas décadas, paleontólogos concluíram que parte considerável dos dinossauros provavelmente possuía penas, tal como as aves.
Tudo isso já era sabido desde antes da produção de Jurassic Park, mas quem levaria a sério um velociraptor com 60 centímetros de altura e cheio penas, parecendo um peru assassino?
Quando alguns tipos de plantas sofrem ferimentos, elas liberam seiva, que é um líquido bastante viscoso e cheio de nutrientes. Se, ao escorrer, essa seiva englobar um animal, ou se um animal pousar sobre ela, ele pode ficar preso e morrer ali mesmo. Com o tempo, esse material sofre um processo chamado polimerização e endurece, tornando-se uma substância que chamamos de âmbar.
A beleza do âmbar fez dele uma importante matéria-prima para a manufatura de objetos decorativos, o que o tornou muito valioso comercialmente. Por essa razão, o contrabando de fósseis preservados em âmbar é um problema que vem sendo combatido por governos de vários países.
Para a ciência, o âmbar que contém fósseis tem um valor imensurável, pois é uma ótima maneira de acessarmos um passado extremamente longínquo, datado de dezenas a centenas de milhões de anos atrás.
E foi justamente a descoberta de insetos preservados em âmbar que inspirou o escritor Michael Crichton a escrever Jurassic Park a partir das seguintes premissas: e se descobrirmos um inseto de 66 milhões de anos atrás, cuja última refeição antes de ser engolido por seiva tenha sido o sangue de um dinossauro? E se os cientistas pudessem extrair material genético dos dinossauros a partir desse sangue e, com isso, clonar dinossauros?
Por mais especulativa que essa ideia fosse, ela era de fato interessantíssima e não havia estudos científicos suficientes para dizer que era impossível.
Muitos cientistas tentaram extrair DNA de dinossauros a partir de seus fósseis e de insetos preservados em âmbar. O próprio Jack Horner, depois de trabalhar no filme de Spielberg, foi contemplado com uma bolsa da National Science Foundation para investigar essa possibilidade. E a conclusão de todos eles foi muito desanimadora.
A forma como os dinossauros foram extintos ainda é um tema em debate na ciência. Mas há um consenso de que ela ocorreu há 66 milhões de anos e que o principal evento que levou a essa extinção foi a colisão de um asteroide com a Terra na Península de Yucatán, no México, onde existe uma enorme cratera de mais de 25 mil quilômetros quadrados.
O grande problema é que a molécula de DNA se degrada no ambiente, mesmo em âmbar. Estudos mostram que, a cada 521 anos, metade do DNA é perdido. Isso quer dizer que, em cerca de mil anos, sobram apenas 25% do DNA que havia inicialmente; após 10 anos, não resta mais do que 0,0001% de DNA. Imagine a quantidade de DNA de dinossauro que seria possível extrair de uma amostra de 66 milhões de anos. Esse plano, portanto, se tornou inviável.
Horner, no entanto, não se deu por vencido. Obcecado pela ideia de recriar dinossauros, o paleontólogo voltou-se para uma nova estratégia: partir de um animal já existente (que seja evolutivamente próximo dos dinossauros, como algumas aves) e, por meio de engenharia reversa, modificá-lo geneticamente de modo a trazer características físicas dos dinossauros.
Isso é possível porque, embora a evolução tenha causado inúmeras transformações nas espécies (levando ao surgimento de outras novas), essas mudanças não necessariamente se deram pela perda de genes, mas também podem ter ocorrido pela sua inativação. E há animais que preservam genes inativos que estão lá há milhões de anos. Em 2006, em uma dessas tentativas, cientistas conseguiram ativar genes em uma espécie de galinha que fizeram com que ela desenvolvesse dentes.
No entanto, embora haja genes ancestrais em espécies recentes, boa parte não está lá. E ativar esses genes pode afetar todo o organismo do animal, tornando sua vida inviável (como ocorreu com a galinha).
Até o momento, todas as tentativas de recriar um dinossauro em laboratório foram frustradas. E, assistindo aos filmes e refletindo sobre os potenciais problemas ecológicos e éticos envolvidos na geração de animais extintos, essa impossibilidade até que traz um pouco de alívio, não? Felizmente, temos a ficção científica, que nos permite ignorar algumas barreiras científicas e tecnológicas para dar asas à imaginação e vislumbrar essas criaturas nas telinhas.
Lucas Mascarenhas de Miranda
Físico e divulgador de ciência no canal Ciência Nerd
Universidade Federal de Juiz de Fora
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